quinta-feira, 8 de março de 2012

Roberta X Lúcio - Cotas raciais


Roberta `·..·´`·..·´`·. . . . εïз 02/10/2011
Introdução:
Lúcio, quando decidido o assunto de nosso duelo, apresentei a razão de ser contrária a prática, por considerar um engodo sobre o que é propagado enquanto inclusão social, além de notoriamente, ser uma atitude inconstitucional (vide artigo 5° da CF). Você como resposta, deixou uma frase que gostaria que analisasse, e a partir daí, continuaremos:




‘Somos todos iguais perante a lei, mas não perante a história’.
lucio2 pereira 02/10/2011
oi Roberta!
esta frase foi um cartão de visitas sobre o tema decidido!

COTAS RACIAIS...porque elas?

porque ser a favor de algo que sem dúvida é uma discriminação...a odiosa discriminação entre seres humanos baseada na cor da pele?

e aí que entra a frase...a própria história não tão gloriosa de nossa nação explica a frase e minha defesa desta política afirmativa!

ESTE PAÍS NÃO FOI CONSTRUÍDO PELA VONTADE DE SER UMA NAÇÃO E SIM POR INTERESSES QUE ATÉ HOJE PERDURAM E QUE,ACREDITO,NOS CAUSAM ASCO E VERGONHA.

a culpa tem cor? não acredito nesta besteira dicotômica! Porém,os mesmo donos do jogo sujo do poder que tanto destroem vidas por puro interesse originaram,hoje nos estarmos aqui,discutindo inclusão de um grupo de pessoas historicamente excluída.

nesta introdução,uma volta rápida no tempo...
lucio2 pereira 02/10/2011
Decreto de 1854:Luiz Pedreira Do Couto Ferraz

Art: Não serão admitidos a matrícula nem poderão frequentar as escolas:

§ 1.os meninos que padecerem de moléstias contagiosas

§ 2.os que não tiverem sido vacinados

§ 3.os escravos

em 1854 estávamos longe da lei do sexagenário.nota-se aqui o uso de dispositivo legal "compreendido" naquele século! Os escravos não podiam frequentar as escolas!

será que a condição de escravo retirava talentos? criatividade? bem,não é a estupidez da escravidão que estamos debatendo e sim acesso ao ensino!

acho que para introdução,isto explica minha frase!
lucio2 pereira 02/10/2011
Decreto de 1854:Luiz Pedreira Do Couto Ferraz

Artº69: Não serão admitidos a matrícula nem poderão frequentar as escolas:

§ 1.os meninos que padecerem de moléstias contagiosas

§ 2.os que não tiverem sido vacinados

§ 3.os escravos

em 1854 estávamos longe da lei do sexagenário.nota-se aqui o uso de dispositivo legal "compreendido" naquele século! Os escravos não podiam frequentar as escolas!

será que a condição de escravo retirava talentos? criatividade? bem,não é a estupidez da escravidão que estamos debatendo e sim acesso ao ensino!

acho que para introdução,isto explica minha frase!
Roberta `·..·´`·..·´`·. . . . εïз 03/10/2011
1/3
Olá, Lúcio, antes de iniciar minha resposta, gostaria de agradecer a oportunidade de debater esse indigesto assunto. Apesar de absolutamente contrária a idéia, gosto de entender as razões de pensamentos opostos aos meus. Enquanto ser humano, é importante pensar na possibilidade de estar , em algum aspecto, equivocado, e com isso aprender. Por outro lado, o meu lado educador não me deixa perder a chance em, sempre que possível, contribuir com uma nova forma de olhar, esta, mais objetiva, coerente, libertadora...

Quando pedi que analisasse a frase, o fiz não por não entendê-la, mas porque desejava avaliar a forma que contextualizava, e sob esse aspecto, você não foi feliz, e com o desenrolar de minha resposta, entenderá, mas antes disso, gostaria de deixar claro que compreendo a sentença como emblemática, na qual reforça um discurso da busca equidade social, mas, se corretamente analisada, ela se perde, e lhe direi a razão: o artigo 5° da CF não deixa dúvida, mas, para fins de rápida consulta, eis a cláusula pétrea de nosso Código de Leis:


Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...

Ou seja, a Constituição já defende a todos: mulheres, crianças, idosos, consumidores, negros, brancos, homossexuais, corinthianos ... Estamos todos assegurados pela lei, portanto, não há mesmo a necessidade de se criar esse tipo de ‘dispositivo’ para contemplar ( e em casos extremos) premiar nossas mazelas. Percebe que minha postura enquanto cidadã contempla outros aspectos que não o sistema de cotas? Isso porque entendo como excludentes, inconstitucionais, além de perpetuarem o preconceito.
Roberta `·..·´`·..·´`·. . . . εïз 03/10/2011
2/3
Sempre considerei que o grande problema do Brasil é a aplicabilidade das leis vigentes, e para que esse entrave seja legitimado aceito ( apesar de não concordar) o argumento que a lei no país não é cumprida por ignorância da população. Afirmo não concordar com o argumento por saber que nossa Carta Magna está gratuitamente disponível em todas as bibliotecas públicas, e evidentemente, na internet. Usamos, quando conveniente, desculpas para justificar o injustificável. Claro que percebo o grande mal que foi a questão escravocrata, e aquele que não perceber essa tragédia como o maior crime contra a humanidade, pouco conhece do horror, porém, apesar disso, entendo que nada reparará o engano, o mal. Apenas servirá de exemplo para que algo parecido não seja nunca mais, repetido. È esse o papel de sociedades organizadas.

Porém, uma coisa é o histórico de exclusão anterior, bem outro, é essa tentativa de resposta, que nada mais é, do que um ordinário e ineficiente projeto educacional. Sabemos todos que os negros estão entre os mais pobres, resultado evidente do não apoio quando libertos, mas, uma coisa é tentar sanar essa dívida social ( impagável) , outra é oferecer vagas a indivíduos sem condições de competir com outras pessoas. Não gosto da idéia de prova única, este adotado na maioria dos vestibulares, por acreditar que o ensino é direito de todos, porém, gosto menos ainda do governo subsidiar o ensino superior em instituições particulares, quando contamos com universidades públicas.
Roberta `·..·´`·..·´`·. . . . εïз 03/10/2011
3/3:
O ensino superior deveria verificar se o candidato, independente de sua cor/credo/situação financeira está apto para o curso superior. E convenhamos: o aluno oriundo do ensino público não tem como competir, ficando claro, as vagas das universidades públicas nas mãos daqueles que mais tem. Não é contraditório que um governo que afirma ser favorável aos pobres não tem a preocupação de melhorar o ensino público, para que estes os excluídos tenham acesso ao ensino?

Mas não, sistemas de cotas têm no fracasso educacional um círculo vicioso, e excelente clientela para o ensino particular...


Gostaria que, a partir de agora, falasse sobre esses pontos levantados, mas que antes, refletisse sobre como essas pessoas chegam na universidade, muitos, sem dominar aspectos básicos ... ( mais tarde comentarei uma experiência profissional traumática, cobre-me depois, tá?)

Outro ponto que gostaria que falasse é a oferta de cursos, já analisou que são poucas vagas para as áreas exatas e biológicas, ficando a maioria ( mais de 70%) voltado as áreas de licenciatura? Já cogitou o porquê desse ‘arranjo’, e o mais importante, sua conseqüência no nosso ensino?


No aguardo de sua resposta, despeço-me.
lucio2 pereira 03/10/2011
magnífico!!!
sem dúvida,nesta comunidade está o melhor do orkut! vc foi feliz em sua colocação e,em grande parte,concordo com ela por ser lúcida e imparcial,focando uma educação mais justa na qual também sou defensor!

mas,vamos aos pontos de discordância e entenda o não mencionado agora como consenso entre nós!

sei que as cotas não serão solução,aliás,repito,cotas nada mais são que o retrato de um remédio amargo,mais necessário...não é a cura para uma melhor educação mas pelo menos é alguma coisa!

permita-me usar duas linhas para uma experiência pessoal:um aluno brilhante que eu tinha e que morreu pelas mãos de traficantes! quem conhece a educação de periferia sabe o quanto são massacrados ainda o negro e o índio!não que os brancos pobres também não o sejam!sou a favor de todas as cotas!TODAS!!!raciais e sociais! mas,no caso específico,de negros e indígenas muito mais por entender que são etnias mergulhadas em outra cultura!

mais um pedaço do decreto mencionado anteriormente:
lucio2 pereira 03/10/2011
Decreto de 1854:Luiz Pedreira Do Couto Ferraz

Artº 88.São dispensados do pagamento da taxa:(relativo a taxa de matrícula do Art anterior)

§ 2.os alunos pobres que nas escolas primárias se tenham distinguido por seu talento,aplicação e moralidade!

note Roberta,que lá em 1854 já havia a cota social! talvez esta comparação não seja a mais adequada mas quero mostrar que o pobre,mesmo que somente em texto legal foi pensado em acesso diferenciado mas os negros não e os índios sequer no texto estavam!

sou a favor da igualdade! mas enquanto uma parcela do nosso povo não tiver reparação,esta igualdade estará longe de ser conquistada! O sistema de cotas é cheio de falhas que podemos discutir mais a frente mas reintero:É ALGUMA AÇÃO! reformar todo ensino será o próximo passo!
com certeza,o dia que todos estiverem nas mesmas condições de mostrar seu talento sem importar o quanto de melanina se tem,então serei radicalmente contra as cotas...
..mas até lá,elas,na opinião deste modesto oponente,são o caminho para alcançarmos nosso estimado e pétreo art 5º


Roberta `·..·´`·..·´`·. . . . εïз 04/10/2011
1/2:
Olá, Lúcio, você como sempre, uma flecha, mas, talvez por ser tão ágil em sua resposta, perde um pouco o foco da discussão, colocando algumas informações que qualquer pessoa contrária a sua idéia refutaria com facilidade, como por exemplo, citar ( mais uma vez) Luís Pedreira. Não que ele não tenha sido uma mente privilegiada, mas, basear seu discurso observando os dados ( realidade) do século 19 é, na minha opinião, uma escolha preguiçosa.

Enquanto respondo sua postagem, cantarolo uma canção do Gessinger: São todos iguais, e tão desiguais; uns mais iguais que os outros...


Outro ponto que gostaria de chamar sua atenção é sobre sua fala que é favorável a igualdade, oras, aqui há uma contradição: se esse conceito é para você claro, não pode pedir que outros abreviam caminhos, porque é isso, no fim das contas que o sistema de cotas oferece: não necessariamente se burla as regras, mas, de forma vergonhosa, cria-se novas leis para atender um grupo de pessoas. Não foi respeitado, portanto, o principio de isonomia, percebe isso?
Roberta `·..·´`·..·´`·. . . . εïз 04/10/2011
2/2:
Eu não gosto de ações afirmativas, por não compreender, como alguns juristas, enquanto igualdade material. Àlias, considero uma perpetuação do engano histórico, por isso sou favorável ao combate do cerne da questão: deve-se, obrigatoriamente, investir na educação pública, de qualidade, para todos. Nada de paliativo(s).


Na sua próxima postagem, gostaria que respondesse sobre a oferta de vagas nas faculdades ‘defensoras’ desse sistema, além de dar sua opinião sobre o reflexo da falta de opção a outras áreas do conhecimento.

Até a próxima! (:
lucio2 pereira 04/10/2011
tréplica
Roberta quando trago o decreto é somente um triste exemplo histórico e não uma escolha,mas respeito sua opinião sobre a mesma. Adiante,reitero minha simpatia por políticas afirmativas seja do negro,índio,da mulher e de quem mais esteja de alguma forma prejudicado por inúmeros atos "legais" ao longo da história construídos em cima da desigualdade!

Quanto a questão das matérias escolhidas,faz parte de uma reforma que nossa educação precisa não discordo delas e nem teria o porque de fazê-lo. Entendo que para você,as cotas ameacem de alguma forma a luta pela igualdade mas causa-me estranheza
tal temerosidade pois as cotas são políticas de inclusão! Não entendo no que um aluno negro ou indígena afetaria uma sala de universidade por ser cotista.Qual o problema nisto? Talvez,porque a simples presença deste ilustraria de modo real a urgente mudança de posturas e didática.Uma didática universal e não Eurocêntrica como em várias faculdades que existem por esse país afora.Para mim,o ensino superior deveria ser aberto à todos SEM A COTA DO VESTIBULAR...ou seja muito deve ser feito para avançarmos no caminho da educação1vejo as cotas um passo concreto para isto!

é c/ vc ;)
Roberta `·..·´`·..·´`·. . . . εïз 05/10/2011
1/2:
Lúcio, como deve ter notado, sou contra políticas ditas afirmativas, por acreditar que defendem a manutenção da desigualdade, mas, sou favorável ( e adepta) a mudanças profundas , estas que realmente contribuem para um ganho para a sociedade, e sob esse aspecto, repudio o assistencialismo empregado.

Há um engano em sua fala: a questão da cota exclui também o cotista, por subdividi-lo, será que não percebe isso? Sob esse importante aspecto, a cota presta um desserviço, pois explicita a exclusão: de direito e talento.

Um aluno negro ou indígena que adentra a universidade usando esse critério de seleção afeta profundamente uma sala de aula, e futuramente, um país, e vou explicar o porque: lembra-se que no início do tópico dizia que havia passado por uma experiência profissional traumática? Eu, enquanto professora convidada, ministrei durante 2 semestres aulas para a Universidade Estadual daqui. Qual foi minha surpresa perceber que os alunos não sabiam estruturar um texto, além de cometerem erros crassos em nosso idioma. Se isso foi percebido na minha disciplina ( Matemática básica) imagine o horror que os professores que tem por exigência a leitura e produção textual como enfoque?

O nível era tão baixo que a partir do ano de 2009 há disciplinas extras, com o intuito de reforçar aspectos básicos, como por exemplo, ortografia, gramática , e exercícios lógicos que enfocassem as 4 operações fundamentais. Acredita realmente que esses alunos algum dia poderão competir em pé de igualdade? Percebe que a adoção dessa prática política serve para mascarar um problema estrutural da educação?
Roberta `·..·´`·..·´`·. . . . εïз 05/10/2011
2/2:
Queria que o acesso ao ensino superior fosse mais abrangente, mas antes de pensar nesse ensino, me preocupo com a educação básica, que no país anda capenga. E por ser falha, há a necessidade de um critério de seleção, por isso, a importância do vestibular: não podemos aceitar que um aluno que escolheu uma licenciatura seja incompetente na escrita formal, ou, não tenha assimilado conceito básico como potencializarão.


Se analisar meus pontos de vista, e for honesto nas respostas das minhas primeiras perguntas, perceberá que ninguém em sã consciência é favorável a esse engodo. Rebata, se capaz, esse argumento ;)
lucio2 pereira 06/10/2011
considerações finais
primeiro agradecer a Roberta que todo tempo manteve-se elegante e com conteúdo defendendo de forma magistral seu ponto de vista!

Concordo com a reforma na educação! Porém, esta reforma não será feita do dia para a noite não é mesmo? Talvez as cotas sejam um primeiro abalo nesta estrutura montada e que vc não concorda.Ora,as cotas não pertencem a esta estrutura,logo estão dentro da mudança que queremos em busca da igualdade de oportunidades!

Finalizando com uma reflexão:

NA CORRIDA DA HISTÓRIA BRASILEIRA EXISTEM TRÊS CORREDORES:UM LARGOU PRIMEIRO E OS OUTROS DOIS ESPERARAM ESTE COMPLETAR DUAS VOLTAS SÓ PARA ENTÃO COMEÇAREM A CORRER...

...NÃO SERÁ JUSTO ENTÃO CADA VOLTA DOS DOIS ÚLTIMOS CORREDORES VALEREM DUAS VOLTAS?

obrigado Roberta!!!;)
Roberta `·..·´`·..·´`·. . . . εïз 07/10/2011
CFs.:
Encerra-se o debate com posicionamentos distintos , porém, conseguimos expor nossas idéias de forma clara e respeitosa, e nisso, há mérito também em meu oponente, e também por isso, agradeço ao Lúcio.

Claro que fiquei um pouco insatisfeita em não ter minhas questões respondidas e pelo debate não ter saído da questão assistencialismo ( reparação histórica) além de faltar aprofundação política de meu oponente, mas, a partir de agora, com a participação dos demais membros acredito que alguns questionamentos serão levantados e esclarecidos.


Grata por mais esse convite, despeço-me.

R.
Felipe Munhoz 07/10/2011
DEBATE ENCERRADO
As votações estão abertas na forma de NOTAS NAS ENQUETES.

A partir de agora, este tópico está aberto para discussões entre competidores e entre outros membros da comunidade, mas só deve ser avaliado o conteúdo do debate em si, e não o que foi dito depois ou em outro tópico.

Abraços!

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