quinta-feira, 10 de maio de 2012

Roger X Chico - Progresso Científico/Tecnológico


  1. Saudações aos colegas e também aos não colegas...

    O assunto deste debate, sugerido por mim, é em minha opinião um tema abrangente e muito importante, então... chega de conversa mole! :)

    Para começar, tenho várias opiniões sobre o progresso científico e tecnológico. O primeiro pensamento que me vem à cabeça é o de que as coisas estão indo muito depressa.

    Veja bem, meu caro Chico: O homem supostamente teria levado seis mil anos para sair da estagnação tecnológica. O salto quântico da humanidade em relação a tecnologia começou no século XIX. E, a partir de então, nunca mais paramos de "evoluir".

    Em primeiro lugar, quero deixar claro que não vejo problema na evolução em si. As tecnologias podem ser úteis para a nossa vida. Aliás, se não fosse o computador e a rede mundial, nem estaríamos discutindo esse assunto agora, talvez eu morresse sem nem mesmo saber que você existiu. Mas penso que deve haver certos limites, por uma questão de recursos e de segurança.

    Se você parar para pensar, o ser humano não precisa de mais nada. Temos telefones, celulares, rádio, televisão, internet, veículos automotivos, as viagens de um país para outro podem levar menos de uma hora com um avião, temos remédios para quase todas as doenças e a medicina evoluiu de tal modo que hoje em dia vários procedimentos deixaram de ser cirúrgicos, dando assim mais segurança ao processo de tratamento para alguns casos médicos. Mesmo assim, queremos mais.

    Imagine a quantidade de tempo e recursos que, em minha opinião são desperdiçados por ano em busca de pesquisas totalmente inúteis como Ipads e novas versões de computadores mais sofisticados.

    Pare e pense na quantidade infinita de dinheiro gasto no desenvolvimento e fabricação de celulares cada vez menores ou mais complexos... e tudo isso serve para quê?

    Você acha que precisamos de algum tipo de comunicação mais rápida do que o diálogo instantâneo proporcionado pelo messenger, por exemplo? Aliás, o que poderia ser mais rápido do que instantâneo?

    Será que nós precisamos de algo mais portátil do que um netbook ou um celular que caiba em nosso bolso?

    Nós já temos acesso à informação com velocidade, coisa que nossos avós ou até mesmo nossos mais nunca tiveram. Já temos inúmeros meios de transporte e diversas formas de comunicação rápida e barata.

    Mas, aonde eu pretendo chegar com isso?

    O que eu penso é que o progresso deve vir acompanhado de duas coisas: responsabilidade e aprendizado.

    As crianças que nasceram após o início deste século certamente não sabem o que é ou como se utiliza uma máquina de escrever ou mesmo um rádio cassete. Não que elas precisem saber disso, mas, seria importante que elas entendessem a tecnologia e o desenvolvimento antes de ter acesso a ele. O progresso tem sido irresponsável, por que facilitou o acesso à tecnologias que podem ser usadas tanto para fazer coisas boas e importantes quanto para fazer o mal ou alienar as mentes.

    Há pessoas, acredite ou não, que não conseguiriam viver sem internet hoje em dia. Há pessoas que não sabem o que é viver sem ter um telefone.

    Se o progresso seguisse uma marca um pouco mais lenta, as pessoas teriam tempo para aproveitar as tecnologias, aprender a utilizá-las do melhor modo, e teriam tempo de entendê-las. É claro que, a grosso modo as pessoas não querem saber de nada disso. Mas, será que não deveriam querer?

    Esta é minha introdução. Espero suas considerações para seguirmos a conversa!

    Até mais.
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  2. "Um homem não toma banho duas vezes no mesmo rio". - Heráclito

    Eu não se você se lembra, mas foi você mesmo quem disse, em nosso primeiro duelo, que tanto o homem quanto o rio não são mais os mesmos, pois o rio vive em fluxo constante, e o homem, em constante aprendizado.

    Vivemos nossas vidas em constante acréscimo de informações e conhecimentos, e no constante aprimoramento da prática.

    Desta forma, o progresso, quer queiramos ou não, vai acontecer.

    A única coisa que nos resta é saber como é que iremos nos adaptar a todas essas constantes mudanças, sempre mais rápidas e significativas no conhecimento humano e sua forma de interferir na forma como as coisas continuarão fluindo.

    Mas você acha que “as coisas estão indo muito depressa” e, de fato, a velocidade com que mudam as coisas é muito maior hoje do que já foi em qualquer momento da existência humana.

    Não faltam os exemplos de pessoas que já defenderam a ideia de que o progresso pode ser algo ruim para a sociedade e de que a melhor forma de se viver a vida é aquela das pessoas do passado, que se atinham a valores diferentes desses novos.

    Aí encontra-se toda a origem da eterna disputa ideológica entre conservadores e liberais.

    As coisas continuarão mudando, o que é inevitável, e cada pessoa encontra as formas que consegue para tentar interferir neste processo, podendo ser um agente ativo da mudança, passivo ou mesmo antagonista, todas essas posturas com repercussões tremendas em sua vida.

    As mulheres que lutaram por seus direitos no início do movimento feminista ou os empregados de fábricas que reivindicavam melhores condições de trabalho sofreram drásticas represálias em seus movimentos, o que é aceito com um nível de tolerância muito maior hoje em dia, justamente por que alguém no passado, se dispôs a ser elemento ativo no processo de mudança da sociedade.

    Segundo Rosseau, o melhor modelo de ser humano é o selvagem, ou seja, àquele apegado à sua verdadeira natureza humana, e portanto, mais feliz. A mesma filosofia é defendida por Eça de Queiroz em “A cidade e as Serras”, onde a ideia de progresso é repudiada e a busca ao burlesco e mais simples é explorada em sua narrativa.

    Mas a verdade é que a “verdadeira” natureza humana não tem nada a ver com a de um “bom selvagem”, muito pelo contrário.

    Não se pode desconsiderar todo o conhecimento acumulado pela humanidade a respeito de incontáveis áreas do conhecimento.

    Em várias situações o debate não passa de uma reafirmação de slogans de cabeças duras que continuam batendo na mesma tecla de coisas que já foram repetidas vezes refutadas no passado, mas que apenas um grupo de ignorantes continua defendendo a mesma postura por incapacidade intelectual para entender o novo ou por interesses escusos.

    Mas você que é um grande conhecedor de PNL, sabe que Richard Bandler dizia que "se algo não estiver dando certo, mude. Faça qualquer outra coisa".

    Oras, mas mudar não é simples.

    E igualmente difícil e até mais doloroso é perceber quando é que é preciso mudar, reconhecer seus próprios erros e compreender que você não é exceção à raça humana quando o assunto é capacidade de se equivocar.

    Mas uma coisa é verdade: Nem sempre as mudanças são para melhor e muitas vezes os conservadores têm razão ao dizer que as mudanças deveriam ir com mais calma, por que não foi da noite para o dia que as coisas chegaram no seu atual formato e respeitar o que já foi feito é primordial para que possa se conhecer as melhores formas de tornar o que já existe, ainda melhor.

    Eu não acho que o grande problema seja a velocidade com que as coisas estão mudando mas sim a qualidade delas. E avaliar usando apenas nossa própria percepção como referencial nos dá uma resposta muito limitada do problema.
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  3. É como perguntar para uma formiga, em um formigueiro, se ela acha que é útil a atividade que ela vai passar sua vida toda fazendo em seus poucos dias de existência.

    Diferente da formiga, o ser humano pode usar a imaginação e se colocar em uma outra perspectiva e refletir sobre o “grande esquema das coisas”, onde todas as transformações que ocorrem são partes de um ciclo formado de estruturas intimamente relacionadas.

    Como diria Albert Einstein, o presente, o passado e futuro, não passam de ilusões. A forma como experimentamos a passagem da existência é apenas a resposta para um fenômeno físico-químico, onde o fator “tempo” é apenas uma das variáveis, fundamental entretanto, para a compreensão da existência a partir da percepção humana.

    Pelo que entendi, o eixo central de sua argumentação gira em torno da questão: “O que as pessoas deveriam querer?”

    Você alega que grande parte das coisas que estão disponíveis hoje em dia e que modificaram drasticamente o comportamento dos seres humanos e também seus padrões de consumo, na verdade está fazendo com que as pessoas se tornem cada vez mais dependentes de suas próprias produções, tornando-se escravas de si mesmas.

    Não discordo que as pessoas não sabem o que querem e muito menos o que deveriam querer, apesar de achar que qualquer que seja impossível de se responder esta questão sem parecer pedante ao se supor conhecedor da verdadeira “vontade” que as pessoas “deveriam” ter.

    Esta questão sobre as prioridades das vontades humanas está muito presente no discurso de Sócrates e também no dos cínicos, que foram diretamente influenciados pela forma como Sócrates viveu, de forma prática, aquilo que acreditava.

    Diógenes, o cão, vivia em um barril e mesmo tendo capacidade intelectual para fazer fortuna e viver a vida em conforto, mostrava, a partir da prática pessoal, como acreditava que viver com o mínimo possível é a melhor forma de ocupar suas vontades com aquilo que é mais importante na existência: A busca pelo conhecimento.

    Mas a busca pelo conhecimento leva ao progresso.

    E quando o progresso ocorre, a forma como o conhecimento adquirido é utilizado, muitas vezes difere completamente da forma como ele se originou, e o que vemos é uma sociedade que parece estar corrompida por novos valores que se originaram a partir de um processo de busca por conhecimento, que não é um conhecimento verdadeiro.

    A noção de que a investigação séria, paciente, aberta e crítica pode ser algo útil para os seres humanos é extremamente recente na história dos seres humanos. Não somos os únicos seres humanos que dependem do conhecimento que adquirimos ao longo da vida e que nos é transmitido pelos nossos ancestrais, mas somos que cria as interações mais complexas entre novas formas de conhecimento e aquilo que já foi adquirido por gerações anteriores.

    Além da vaidade e da ignorância que impedem a livre discussão de ideias, há um obstáculo fundamental à investigação e à procura do conhecimento: a falta de seriedade.

    Quando se tem falta de seriedade não se encaram ideias que pensamos serem falsas como oportunidades para testar as nossas próprias ideias, oportunidades, enfim, para fazer avançar a investigação da natureza das coisas. Por isso eu acho que não é possível exagerar a importância, para o progresso de uma sociedade, da discussão aberta e frontal, séria e honesta, baseada no estudo competente.
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  4. Tido de uma forma mais ampla, Ciência é toda forma de obter o conhecimento, através de métodos já pré-existentes. Uma busca incessante pela verdade, embora nunca tenha encontrado, mas uma aproximação da verdade, a realidade dos fatos, fenômenos e problemas propostos.

    Vendo dessa forma, não acho que o avanço do conhecimento humano seja algo que deva ser limitado. O que devemos fazer é saber como direcionar os melhores esforços para produzir as melhores mudanças e transformações àquilo que já melhorou, mas sempre tem muito mais que possa ser melhorado.

    Achar que não há nada que possa ou que precise ser melhorado, ou que precise ser melhorado é uma postura muito pouco criativa e pouco imaginativa. A vontade humana e a sua imaginação estão sempre permitindo o desenvolvimento de novas coisas que parecem aumentar o nível de futilidade existencial das pessoas,em uma análise descuidada. Mas a verdade é que se existe alguma criação humana que possa ser prejudicial para o seu desenvolvimento, ela vai ser selecionada pelo mesmo processo que a trouxe até ali.

    O desenvolvimento do conhecimento humano é fundamental para que aumente o número de pessoas com senso crítico mais apurado e que sejam capazes de perceber quando é que estão sendo manipuladas, como ocorre em toda esta discussão ambientalista a respeito do “futuro do planeta” e de como o progresso pode ser prejudicial ao meio ambiente.

    Apenas uma análise mais cética e séria pode nos mostrar que este tipo de informação é difundida sem uma base sólida como se fosse “verdade científica irrefutável”, fazendo com que vários países e empresas alterem suas políticas a fim de beneficiar um grupo de indivíduos, favorecidos com o fato de poderem interferir diretamente sobre aquilo que as pessoas mais ignorantes irão pensar.

    A busca pelo conhecimento deve ser feita de forma livre, sem amarras. Não é possível de se reconhecer um conhecimento inovador em uma pesquisa que ainda não produziu resultados e muitas vezes, o conhecimento produzido pode parecer inútil no momento em que é produzido, mas pode ser utilizado por outra pessoa, no futuro, para produzir alguma outra coisa fundamental.

    Aguardo sua tréplica.

    Até mais!






    Chico Progressista.
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    1. Touché...

      Sua introdução ao tema foi ótima. Criativa, profunda, e pautada com base em diversas opiniões até certo ponto verídicas. Mas, encontro em seu discurso uma aparente confusão com relação ao que eu defendi em minhas considerações iniciais. Talvez eu mesmo não tenha sido tão claro quanto pensei, então, vou esclarecer um pouco mais a questão.

      Sobre o desenvolvimento, o que aleguei no início é que ele segue atualmente um marcha muito alta, quase vertical. Mas me refiro especificamente ao progresso tecnológico.

      Há uma frase de um filósofo não muito conhecido, chamado D"André, que diz: "Enfim, veio cedo o mal, e tarde o conhecimento."

      Esta frase relata a opinião que seu autor carrega a respeito do progresso, da vida de modo geral. A ideia é que tivéssemos conhecimento antes de ter escolhas.

      O que considero confuso em seu discurso é a relação que você fez entre a busca pelo conhecimento e o progresso científico. Na realidade, gostaria que você tivesse razão. Mas o ponto crucial em meu discurso é justamente este. Se o progresso científico seguisse o mesmo ritmo da busca pelo conhecimento, então teríamos um ritmo ideal de desenvolvimento tecnológico, uma vez que a evolução física seguiria ao lado da evolução intelectual.

      Mas, na prática, boa parte dos cientistas hoje é arrogante e irresponsável. Primeiro por que, de modo geral, são dogmáticos no que tange ao conhecimento. Seguem a linha de que, aquilo que não pode ser provado em laboratório é indiscutivelmente uma inverdade. Eles se esquecem de que, no passado, várias "inverdades" que eram alegadas por mentes brilhantes foram, em seguida, comprovadas com a ajuda de métodos inovadores. Um exemplo disso, bem conhecido, é o da terra redonda.

      Hoje em dia sabemos que ela é redonda. Mas, na época, mesmo os estudiosos não aceitavam essa tese por que não entendiam como as águas do oceano ficariam ali. Então, imagine se naquela época alguém lhes dissesse que há uma força invisível que prende os corpos ao chão! Eles iriam rir, certamente. Mas hoje sabemos que ela existe e que se chama gravidade.
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    2. Qual é o foco? Ainda pouco chamei alguns cientistas de irresponsáveis e arrogantes. E há provas que sustentam essa opinião.

      Em uma passado bem próximo, cientistas desenvolveram a energia nuclear. Essa forma de energia era muito eficiente, econômica, e tinha um nível bem baixo de poluição. Entretanto, ela era instável e os riscos no que diz respeito a segurança eram altos. Então, os pesquisadores divulgaram essa energia mesmo assim, antes de tê-la tornado segura.

      Se o interesse fosse a busca pelo conhecimento, eles teriam sido responsáveis o suficiente para desenvolver mais estudos antes de divulgar a pesquisa. Hoje, por causa desse erro, temos lembranças ruins sobre esta forma de energia e, de modo geral, as pessoas acham que energia nuclear é voltada apenas para criação de bombas... :\

      A verdade é que uma pessoa pode ser inteligente, mas o povo não é. A massa é burra, entra em pânico, age como o gado. A busca pelo conhecimento deveria, sempre, preceder o progresso tecnológico. Assim, como eu disse em minha introdução, as pessoas entenderiam aquilo que compram, compreenderiam as funções da tecnologia que utilizam. Mas, na prática, os grandes centros de pesquisa tecnológica, irresponsáveis como são, não se importam com isso. Eles querem é produzir o que em minha opinião é lixo eletrônico, por que isso dá dinheiro, vende, gera lucros.

      No momento, passamos por uma fase crítica, é o que penso. O ser humano está se comportando com futilidade. É verdade o que você disse, que não podemos partir apenas de nossa própria perspectiva e que não podemos julgar o que é útil para os outros como julgamos para nós. Mesmo assim, intuitivamente sabemos que certas tecnologias não servem para nada.

      A questão em si é o futuro. Chegará um momento em que, inevitavelmente, haverá mais celulares do que pessoas. E prevejo, embora possa parecer meio profético, que as coisas tendem a piorar por isso. Vai chegar uma época em que o homem será substituido por suas próprias máquinas. A sociedade tende a emburrecer.

      Você pode ver certos traços disso aqui mesmo, na internet. Justo em uma época na qual temos acesso ao conhecimento de inúmeras formas, vemos um nível tão elevado de ignorância que lembra idade das trevas. As pessoas ignorantes de hoje são piores do que os ignorantes do passado, por que estes eram ignorantes por falta de opção, em sua maioria. Hoje, as pessoas são ignorantes por opção própria. Além disso, são arrogantes. Hoje, um adolescente lê um artigo da Wikipédia sobre física de particulas e acredita ter estudado no CERN.

      Enfim, o que vejo é justamente o desenvolvimento da tecnologia jogar um balde de areia na busca por conhecimento. Parece que agora, até mesmo pessoas questionadoras e inteligentes se contentam com um conhecimento superficial, por que podem encontrar na internet a qualquer momento a informação que desejam.

      Então, certo de que fui mais claro dessa vez, encerro minha réplica reafirmando minha posição inicial e ansioso para que você possa me apresentar provas em contrário.

      Fico feliz, também, que você tenha se lembrado de nosso primeiro debate.

      D'André.
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  5. Nós não podemos voltar para o passado e nem permanecer no presente.

    O futuro é o nosso único destino, quer queiramos ou não.

    As mudanças são inevitáveis.

    Como eu falei em minha introdução, este sentimento nostálgico de que o que existia antes era melhor ou de que alguma coisa pode ser pior amanhã do que já foi ontem é um tipo de pensamento que sempre existiu na cultura humana, mas as evidências mostram justamente o contrário.

    Estamos vivendo a melhor época para se viver da história humana e tudo indica que o que está por vir vai ser incrivelmente melhor, em todos os aspectos que você escolha comparar: Saúde, riqueza, mobilidade, oportunidades...

    Doenças que dizimavam população a apenas uma geração atrás, já não mais existem e somos capazes de alimentar bilhões de pessoas, contradizendo as previsões Malthusianas do começo do século, tudo isso triunfo do método científico.

    Experimentar as coisas, ver como funcionam, mudar de ideia quando não funcionam é um dos maiores feitos da humanidade.

    Mesmo assim, o conhecimento gerado pelo avanço deste processo é responsável pela criação de um cenário extremamente desigual, onde milhões de pessoas vão pra cama com fome todos os dias, enquanto outros possam morrer afogados em suas piscinas de aparelhos eletrônicos.

    Mas é muito importante que se diferencie a importância de se obter o conhecimento com a forma que outros seres humanos (sempre irresponsáveis em potencial) irão utilizá-lo.

    Por isso, eu acredito que barrar o avanço do conhecimento, até que todo o rebanho se acostume com as novas informações, não me parece uma boa ideia.

    Mesmo por que, este é um processo natural. Em todo rebanho existem os indivíduos mais lentos, que estão sempre servindo de âncora para a manada, muitas vezes por medo de avançar tão rapidamente em terreno tão desconhecido.

    E o medo é algo bom, é que nos impede de não nos atirarmos em precipícios.

    Além disso, concordo totalmente contigo quando diz que o conhecimento acerca de algumas coisas como energia nuclear exige uma responsabilidade extraordinária, que tem sido usada, mesmo por que, apesar de erros do passado, a maioria dos países mais desenvolvidos utiliza esta fonte energia, sem grandes problemas para as pessoas.

    Mas o próprio desenvolvimento da responsabilidade é decorrente de avanços no conhecimento humano. Se o desenvolvimento das tecnologias humanas é muito mais rápido que o desenvolvimento da responsabilidade para usá-las, o que temos que fazer não é interromper o avanço de um lado, mas fomentar o avanço do outro.

    Mesmo por que, toda política que visava interromper os avanços tecnológicos de uma população foram fadadas ao fracasso.

    Na União Soviética, a população tinha tempo de sobra para se acostumar com novas tecnologias, enquanto que no mundo capitalista o ciclo de troca e reposição da tecnologia era intensamente dinâmico, justamente por que servia a interesses particulares das pessoas e não a um “bem maior” idealizado pelo estado.

    Geopoliticamente, todo mundo viu o resultado de uma conduta em relação à outra. Além disso, o avanço tecnológico vai ficar cada vez mais rápido, simplesmente por que é impossível de se convencer as pessoas que o mundo deveria produzir menos tecnologia.

    A maior parte do discurso ambientalista, que quer “salvar o mundo” de fantasias como o aquecimento global ou o buraco na camada de ozônio possui algum respaldo justamente por que se diz embasado em argumentos “científicos”, mesmo quando defendem mitos.

    Mas mesmo que fosse verdade que ficaremos sem recursos e que teremos sérios problemas, a melhor forma para se resolvê-los seria fomentar ainda mais o avanço do conhecimento para o desenvolvimento de tecnologias que nos ajudassem a resolver os problemas que nós mesmos teríamos causado, ou até mesmo impedir que o fato se repetisse no futuro.
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  6. A verdade é que o progresso fez o homem dependente do próprio progresso. Nunca estivemos tão desenvolvidos e, ao mesmo tempo, nunca estivemos tão dependentes do nosso próprio progresso.

    A luta contra o progresso está cada vez menor. Já foi imensa na idade média e diminui muito após o renascimento e o iluminismo.

    Se você analisar, a maior parte das críticas das pessoas em relação ao progresso científico está relacionada à ignorância científica das pessoas em aceitar como é que a ciência pode ser benéfica para elas mesmas.

    A questão é que as pessoas perderam a fé em instituições, em autoridades, e algumas vezes, na própria ciência. E é exatamente por fazer perguntas e exigir provas que o progresso acontece na sociedade. Mas quando as provas são obtidas, é preciso que sejam aceitas e as pessoas não têm se mostrado muito boas em fazer isso, ao longo da história.

    Nós acreditamos naquilo que nós achamos que vemos, que nos faz sentir reais, não em uma pilha de documentos de cientistas. Sendo assim, como convencer as pessoas que elas devem tomar vacinas e que isto é bom para a população em geral e não apenas para elas?

    As pessoas adoram apostar em mentiras. Bilhões de dólares são gastos em vitaminas, anti-oxidantes ou produtos de medicina alternativa, não importa o quanto pesquisas mostrem que eles não servem para nada. As pessoas parecem adorar gastar dinheiro em placebo.

    E por falar em placebo, esta aí um tipo de conhecimento que não se desenvolveu quase nada nos últimos 200 anos: a homeopatia, que da mesma forma que no passado, continua não funcionando.

    E é justamente por saber que as pessoas são irresponsáveis e ingênuas que eu acho que elas deveriam progredir, e muito, no avanço do conhecimento e também da tecnologia, ainda que, no meio do caminho, parte desta evolução dê origem a cenários onde as pessoas fazem mal uso daquilo que elas mesmas produziram, embasadas em um conhecimento que pode ser muito útil para as pessoas, em várias outras aplicações.

    A mesma tecnologia utilizada para se produzir artigos fúteis do dia a dia pode ser utilizada para produzir equipamentos hospitalares que irão ajudar milhares de pessoas, ou a desenvolver equipamentos agrícolas que vão tornar possível a produção de comida por um preço reduzido, a um número muito maior de indivíduos.

    E aliás, se diminuíssemos o desenvolvimento tecnológico por causa de como o homem pode ser irresponsável ao utilizá-lo, não seríamos capazes de cumprir a demanda, cada vez maior, do próprio ser humano de produtos oriundos de sua própria tecnologia e isto vai muito além de celulares pequenos, mas está relacionado á nossa própria dependência de que a indústria alimentícia e farmacêutica deve suprir a demanda de uma população cada vez maior e cada vez mais velha.
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  7. Um grande exemplo disso está no debate entre os defensores de alimentos modificados geneticamente e defensores de alimentos “orgânicos”. Oras, não passa de um debate semântico. Ideológico, que nada tem de científico.

    Absolutamente todos os produtos utilizados na alimentação humana foram modificados pelo homem, a partir de seleção cruzada, nos últimos 11.000 anos em que nos relacionamos diretamente com as espécies selvagens.

    Algumas coisas deram certo, outras não deram, nós nos livramos das que não deram e agora somos capazes de fazer isso de modo muito mais preciso.

    A mesma seleção acontece em todos os sistemas que estão aumentando de complexidade em função do tempo, como ocorre com a cultura humana.

    Por isso, muitos dos frutos das inovações tecnológicas humanas darão certo, outros não darão, mas no fim das contas, os que sobrarem, terão provado sua utilidade, enquanto os seres humanos também continuam sua eterna jornada de se conhecer aquilo que é realmente útil.

    Riscos sempre existirão. Mas é a coragem que nos permite ser diferentes daquilo que já fomos no passado, é ela quem fomenta as transformações, ainda que às vezes leve para o precipício.

    É extremamente importante se separar o que é ciência e o que não tem nada a ver com ciência. Legislação, moralidade, finanças, fator humano, nada disso é ciência. São apenas partes da engrenagem necessária para que a ciência seja feita.

    Culpar a ciência pela forma como os cientistas não sabem utilizá-la é o mesmo que culpar a justiça pela forma como os advogados podem distorcer a concepção humana do termo.

    Ciência não é uma empresa. Não é sequer uma ideia, é um processo.

    Às vezes ele funciona e às vezes ele não funciona, mas a ideia que não devemos permitir é impedir a ciência de fazer a sua parte, por que estamos com medo, por que isso impede a prosperidade de milhares de pessoas.
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    1. Grande Chico,

      Graças à tecnologia, estou aqui, respondendo seu texto enquanto ouço Edenbridge - Arcana. E por isso, não desmereço os avanços que a ciência realizou; muito pelo contrário, eu mesmo utilizo muitas coisas que foram criadas a partir de progressos tecnológicos, tais como o celular, a internet, o DVD, etc.

      Entenda que minha crítica não se direciona ao progresso de modo geral, pois compreendo que a evolução é necessária e inevitável. A alma ou a mente humana, como preferir, anseia por ter mais e por ser mais. Lembrando que, aí já reside um pequeno problema social, que confunde o que se tem com aquilo que se é como pessoa.

      Seu discurso é progressista e, diria eu, bastante positivista. Talvez por razões pessoais, talvez, você imagine um futuro melhor do que o nosso presente. Mas lhe faltou observar alguns pontos por mim levantados anteriormente.

      Quando falei do acesso à informação, e sobre o fato de que isso, ao invés de fazer com que as mentes evoluíssem pareceu atrofiar ainda mais o desenvolvimento intelectual, você não comentou. E veja bem, pois isso é importante: Há provas de que isso aconteceu, até mesmo estatísticas que comprovam.

      Um exemplo disso são os testes feitos com universitários, e as estatísticas mostrando que o índice de "ignorância" entre eles está maior a cada ano. Em provas de português, universitários de diversos cursos praticamente envergonham as instituições das quais fazem parte. E isso, é claro, não é 'culpa' do avanço tecnológico, mas de alguma forma, algo que deveria ter servido para tornar as pessoas mais inteligentes está contribuindo para aumentar ainda mais com a ignorância.

      Devem existir inúmeras explicações e diversos fundamentos para justificar isso mas, meu foco não é este. O que penso é que ter informação é totalmente diferente de ter conhecimento.

      A informação é superficial. Uma matéria no jornal basta para te deixar informado. Mas, conhecimento é profundo, exige esforço, vontade, exige tempo também. É por isso que não vejo uma relação direta entre descobrir novas tecnologias e aumentar o conhecimento humano. As novas descobertas trazem novas informações, mas para se ter conhecimento é preciso ir muito além. Para se buscar conhecimento, é preciso ser responsável.

      Ontem eu citei o exemplo da energia nuclear, que justamente por falta de responsabilidade e conhecimento foi largamente mal utilizada e maculada com uma má reputação.

      A ignorância coletiva pela qual a população tem passado pode ser um caso isolado aqui no Brasil, talvez. De fato nunca estive em outros países para saber como as coisas funcionam lá fora. Mas, ao que tudo indica, a tecnologia não está ajudando. Muito pelo contrário, está jogando um balde de areia no desenvolvimento intelectual humano.

      Essa afirmação pode ser verificada, embora com ressalvas, em nosso próprio cotidiano. De modo geral, as pessoas emburreceram e se tornaram prepotentes. Como já disse, o acesso fácil à informação supriu a busca pelo conheciimento profundo das coisas. As pessoas agora se contentam em saber um pouquinho de cada tema apenas para mostrar que sabem alguma coisa, e por isso deixam de lado aquilo que impulsionou a humanidade no passado, que era a busca pelo verdadeiro conhecimento sobre alguma coisa.

      Caro Chico, não devemos confundir as coisas. Ciência, progresso, tudo isso são abstrações. Aqui, nós estamos falando de pessoas. São pessoas que tomam decisões, são pessoas que desenvolvem máquinas, são pessoas que operam as máquinas. Os termos "Ciência" e "progresso" são máscaras para discursos progressistas, que criam deuses imaginários para um futuro próspero, tirando assim a responsabilidade que as pessoas têm por suas próprias atitudes.

      De fato, ciência não é uma empresa, nem mesmo uma ideia. É um processo. Mas este processo não se dá por conta própria, precisa de um incentivo humano para ser realizado. Aí é que reside o problema... Onde há pessoas, inevitavelmente há falhas.
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    2. No início de sua réplica você disse: "este sentimento nostálgico de que o que existia antes era melhor ou de que alguma coisa pode ser pior amanhã do que já foi ontem é um tipo de pensamento que sempre existiu na cultura humana, mas as evidências mostram justamente o contrário."

      Primeiramente, até então eu não havia mencionado qualquer afirmação sobre isso. Não disse que o passado era melhor, mas apenas que o futuro seria pior.

      Contudo, o que me chamou atenção nesse trecho foi o final, onde você diz que as evidências mostram que o presente é melhor que o passado. Nisso você está errado. As evidências mostram que eu tenho razão em afirmar, ainda que eu não tenha afirmado, que as coisas que existiam no passado eram melhores. E a não ser que você nunca tenha ouvido falar em obsolescência programada, duvido que você não saiba realmente disso.

      Antigamente, produzia-se um geladeira numa fábrica qualquer e ela durava mais de trinta anos. Hoje, é difícil achar uma que dure mais do que dez anos. Um sofá antigo, feito com madeira boa, durava décadas. Um sofá novo, feito com material da mais péssima qualidade, dura cerca de cinco anos, no máximo. E, posso ir além disso, indicando como até mesmo as coisas mais modernas, celulares e computadores, por exemplo, estão inclusos neste mesmo processo.

      Se você compra um computador novo, em um período de três anos ou menos ele estará obsoleto, ultrapassado, não terá mais valor de mercado. O mesmo serve para celulares, video games e televisores. E, baseado nisso, acho bastante hipócrita o discurso progressista, que defende "a ciência" e o "progresso" como se fosse algo muito nobre e cheio de princípios éticos. A verdade é que o único interesse envolvido nesse tipo de pesquisas é o de ganhar muito dinheiro com tecnologias inúteis. A não ser que em algum lugar do mundo um celular de dois chips seja um artigo de primeira necessidade...

      Se houvesse interesse verdadeiro e sincero na busca por conhecimento, por novos desafios e descobertas, e se realmente houvesse interesse pelo progresso da civilização, acredito que os centros de pesquisa tecnológica desenvolveriam produtos com qualidade suficiente para durar mais tempo e para funcionar de acordo com aquilo que é esperado. E não para fabricar produtos com material de quinta categoria repletos de mau funcionamento em processos básicos.

      Afinal, você sabe que os pesquisadores destas áreas são inteligentes, o suficiente para serem capazes de produzir algo com qualidade. Não acha?

      Fica aqui a minha tréplica. E espero que tenha gostado.

      Até mais, meu caro!
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  8. Saudações, Roger!

    Pensei bastante a respeito dessa sua tréplica e me desculpe se não respondi imediatamente.

    Quando alguém diz que é “contra” o progresso científico, a primeira coisa que eu espero é ver alguém se mostrar cético em relação a objetividade do método científico, seus propósitos, ou se ele é realmente capaz de gerar conhecimento universal. Uma crítica frequente é a de que o reducionismo científico é uma forma limitada de se compreender a complexidade do mundo que vivemos.

    Além disso, muito é dito a respeito do privilégio, poder e influência que a ciência parece exercer sobre a sociedade, indústria e política, provinda de cientistas arrogantes e de mentes fechadas.

    As minhas participações até agora foram feitas como resposta para esta postura e em muitos momentos, concordo contigo que partilha de ideias positivistas e progressistas, justamente por que acredito que a evolução do conhecimento humano é um processo contínuo, onde acho que estamos ainda no começo da jornada que vai levar à exploração de todas as nossas potencialidades.

    A minha resposta para os anti-progresso e aos anti-ciência é a de que, se não queremos ter uma atitude hipócrita em relação àquilo que acreditamos, deveríamos fazer como Diógenes, o cão, e vivermos àquilo que acreditamos.

    Se você é contra a ideia de progresso e acha que não deveriam ser feitos experimentos com animais de laboratório, não tome remédios e não use vacinas que foram desenvolvidas usando esses métodos.

    Se acha que aparelhos eletrônicos levam à alienação de costumes e torna as pessoas mais burras, experimente não usá-los e torne-se um dinossauro em suas rodas de convívio social.

    Por que no fim das contas, de que vale uma reclamação se não vem acompanhada de uma sugestão de uma alternativa viável que fosse melhor do que a que já conhecemos?

    Pelo que entendi, a tese central que você defendeu em sua tréplica é a de que o mundo está ficando mais estúpido, apesar do aumento da expectativa de vida e do progresso tecnológico que facilita o acesso à comunicação.

    E de fato, quando paro para pensar, tenho a impressão que as pessoas andam se interessando por coisas cada vez mais imbecis. Os recentes sucessos absolutos de Michel Teló ou mesmo da Luíza que está no Canadá, me fazem pensar que, de fato, as pessoas estão ficando cada vez mais débil-mentais.

    Mas será que isto não é um caso isolado do Brasil, como você citou?

    De fato, nosso sistema educacional passou um processo de sucessivo sucateamento e deturpação ideológica que o transformou neste absurdo que existe hoje em dia. Um dos critérios avaliados pelos fundos monetários internacionais para ceder empréstimo para países em desenvolvimento é o índice de desenvolvimento humano que analisa, entre outras coisas, o número de analfabetos e o número de pessoas que completaram a educação formal.

    Além do problema do analfabetismo, o Brasil possuía um alto índice de reprovação escolar, que segundo analistas, era um dos fatores que impedia a conclusão do ensino formal para a população. A solução que eles encontraram? Ninguém mais reprova! Genial! Agora todos completam a educação formal, recebemos empréstimos internacionais e formamos um dos povos com a população com educação formal mais estúpida do planeta, pois se não há um mecanismo de seleção para se avaliar aqueles que aprenderam ou não o conteúdo já estudado, como saber se o aluno “empurrou com a barriga” ou não todos seus anos de estudo?

    O fato é que eu tenho certeza que se você comparar as transformações que ocorreram no Brasil com sociedades que, durante o mesmo período, investiram pesadamente em sistemas funcionais de educação, como em alguns países da Ásia e Europa, vai perceber uma diferença abismal sobre como mudou o comportamento das pessoas.

    Mas eu fiquei curioso com essa sua afirmação e vou pesquisar mais a respeito. Afinal de contas, as pessoas estão ficando mais burras? Se estão, por que? O que pode ser feito para evitar isso, ou mesmo inverter esse paradigma?
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  9. Em minha opinião, para respondermos essa pergunta, devemos estimular o PROGRESSO do conhecimento humano na pesquisa destas áreas, para que possamos propor soluções funcionais para este problema.

    Você tem alguma ideia do que pode ser feito, Roger?

    Concordo contigo quando diz que ter informação é diferente de ter conhecimento ou sabedoria para se utilizar essa informação.

    E essa é uma reclamação recorrente nos filósofos ao longo de toda a história da humanidade. A grande verdade é que a maior parte da população do mundo sempre foi mais estúpida e manipulada por um sistema que mantinha o privilégio de um grupo seleto de indivíduos que ditava normas que privilegiavam o seu próprio grupo.

    Além disso, a maioria das pessoas nunca se interessou pelas coisas que realmente deveriam ser importantes para sua vida, isto não é um fenômeno recente.

    A única diferença, em minha opinião, é que este controle é muito mais sofisticado e é feito em conjunto com a economia, nas relações de troca das pessoas entre aquilo que elas querem e o que o mercado pode oferecer, levando em conta as vantagens que elas podem oferecer a todas as partes envolvidas.

    Dinheiro e esforço são investidos para o desenvolvimento de tecnologia. Pensando no dinheiro que vai ter que continuar investindo na produção de novos produtos e de como manter o influxo de lucro, a maioria dos produtos modernos são produzidos para durar menos, incentivando as pessoas a continuar trocando seus produtos por novos lançamentos do mercado. Isto fomenta a criação de um exército de zumbis consumistas que pouco se importam com investigação pessoal.

    Mas o meu argumento é o de que este exército de zumbis sempre existiu, respondendo a diferentes estímulos manipulativos, ao longo da história. Se ele é proporcionalmente maior ou menor do que o que havia no passado, não posso afirmar com certeza, mas tudo me leva a acreditar que está menor, ou pelo menos tem tudo para aumentar a garantia oportunidades para os próprios zumbis perceberem sua própria condição e também alterá-la. Neste ponto, estamos vivendo o melhor momento da história no que se refere à facilidade de se encontrar mecanismos para se defender disso.

    E em minha opinião, isso é decorrente do avanço na capacidade de se fazer perguntas do próprio ser humano.

    E é por isso que acredito que, no fim das contas, tudo está conectado. E quando pensamos em progresso e avanço científico, estamos falando do processo pelo qual o ser humano conhece a natureza e também a si mesmo, sendo que as sociedades ainda vão demorar muito tempo para absorverem todas os avanços de ponta de quem está na frente e o rebanho inteiro goze dos benefícios que o avanço intelectual promove.

    Desta forma, termino minha tréplica.

    Aguardo suas considerações finais para que possamos terminar esta agradável discussão sobre este assunto tão importante.

    Até mais!

    Chico Sofista.
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    1. Bem. Vamos lá.

      "...de que vale uma reclamação se não vem acompanhada de uma sugestão de uma alternativa viável que fosse melhor do que a que já conhecemos?"

      Acho que esse questionamento resume bastante o conteúdo de sua tréplica. É uma pergunta objetiva e bem profunda.

      Primeiramente, há uma diferença entre reclamação e crítica. A primeira é apenas uma queixa de cunho pessoal, enquanto a segunda é uma demonstração de opinião contrária ao status quo.

      Obviamente, o progresso não me prejudica em nada. Muito pelo contrário. Então, minha crítica aponta para a questão do que o mundo, de modo geral, tem feito com o progresso tecnológico. e o que se pode sugerir para melhorar a questão talvez seja justamente o ponto em que você mesmo tocou durante suas postagens: a educação.

      A educação é fundamental para o curso de nossas vidas em sociedade. E no mundo moderno, ela faz muitos mais diferença do que fazia no passado. Uma pessoa completamente analfabeta, por exemplo, seria incapaz de usar um computador. Então, por pior que seja a qualidade da educação, ela ainda deve existir, para pelo menos servir de suporte às atividades mais simples da modernidade.

      E é justamente na educação que entram os pontos criticados por mim anteriormente, tais como a responsabilidade e o interesse em se conhecer aquilo que se utiliza. A ética seria fundamental para auxiliar nesse processo. Mas, não a ética formal, longe do "politicamente correto", e sim uma ética séria e profunda, dando bases desde a infância para que as pessoas um dia tenham mais responsabilidade e menos displicência. O desinteresse é que tem movido a sociedade para seu próprio abismo.

      Porém, e sempre há um porém, a educação é uma medida de longo prazo. Se mexermos nela agora, veremos os efeitos dela somente daqui a uns vinte anos, em média. E o que seria possível fazer, agora?

      O que acredito é que seria necessário uma mudança bastante radical de postura, talvez até um pouco reacionária, no sentido de que talvez devêssemos começar desde o princípio outra vez, para então fazermos as coisas da maneira correta.

      Talvez, o mundo precisasse regredir um pouco para então evoluir novamente. Resgatar certos valores que foram esquecidos para então construir novos valores, visto que, no momento, não temos muitos valores regendo nossas vidas.

      É evidente que questões morais devem mudar ao longo da história e principalmente diante do progresso. Mesmo assim, certas coisas são necessárias não para barrar o avanço das coisas, mas para servir de retorno caso as coisas saiam de controle.

      Imagine se os cientistas que inventaram a bomba atômica tivessem ido um pouco mais devagar... talvez eles tivessem mais tempo para pensar e refletir se aquele era mesmo o jeito certo de fazer as coisas. No fim das contas, a política acabou interferindo na ciência, justamente por falta de responsabilidade ou de coragem daqueles que podiam fazer algo diferente, que podiam impedir certas decisões.

      No fundo, acredito que seu discurso progressista, embora um tanto piegas, seja mais realista. E até seria bom que você tivesse razão mesmo e que nós realmente avançássemos para uma era onde as pessoas sejam melhores do que são agora.

      No momento, sou bastante pessimista com relação a isto...

      O avanço intelectual promove a curiosidade, que por sua vez, quando falta responsabilidade, acaba sobrepondo-se à prudência.

      Pense bem nisso.

      Espero que os leitores tenham compreendido a minha intenção e também a sua e que sejam sinceros na hora de escolher um vencedor, embora eu acredite que foi um debate muito bem equilibrado.

      Finalizo a minha participação.

      Grato!
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  10. Chegamos ao fim do debate.

    Percebo que nossas concordâncias aumentaram em relação às aparentes discordâncias iniciais, o que fez parecer fazer a discussão “crescer” e a tornou bem interessante.

    Eu acho que o grande problema de todas as possíveis “discordâncias” no campo dos duelos retóricos refere-se à forma como chamamos as coisas.

    Perceba que você começou o duelo dizendo que era contra a velocidade com a qual se dá o atual progresso cientifico/tecnológico da humanidade.

    Eu disse que o progresso científico/tecnológico é um reflexo da evolução do conhecimento humano e a responsabilidade com a qual lidamos com estes avanços dependem exatamente do progresso para poderem acontecer.

    No fim das contas, você conclui sugerindo uma série de mudanças, o que representaria em si, progresso e transformações, mostrando que, no fim das contas, estávamos desde o começo, dizendo a mesma coisa, com palavras diferentes.

    Como eu te disse, quando alguém me diz que é “contra” o progresso científico/tecnológico, passa na minha cabeça de tudo, desde os membros a igreja Messiânica, que condenam a utilização de vacinas e remédios, até a discussão de criacionistas, que negam todas as evidências da paleontologia, da geologia e da biologia para justificar suas premissas, que no fim das contas dizem sempre a mesma coisa: a ciência não funciona.

    Eu acho que a mesma coisa ocorre quando você diz coisas do tipo “a política acabou interferindo na ciência”. É claro que a forma como a sociedade direciona suas políticas interfere na forma como é realizada a produção de tecnologia, mas isso não significa “ciência”. Produção de tecnologia é apenas o resultado da aplicação do método científico, mas o progresso da “ciência”, em si, está muito mais ligado ao real sentido da investigação humana em si, do que aos resultados práticos de suas produções.

    Por isso, no fim das contas, concordamos no ponto crucial de toda esta discussão, o eixo central que sustenta todo este prédio chamado “progresso” se chama “educação”. Se o eixo não tiver muita sustentação, o prédio corre riscos de desabar a qualquer momento.

    Também concordamos que, em várias culturas e a nossa é o maior exemplo, é exatamente isto o que parece estar acontecendo: O Brasil está cada vez mais “rico”, mas nem um pouco mais esperto.

    Eu acho que deveríamos deixar de hipocrisias e aceitar que alguém que não conhece mínimas noções de informática, comunicação textual e matemática básica, é um analfabeto. Deveria haver um programa de ALFABETIZAÇÃO muito sério no Brasil, que considerasse que só seriam considerados realmente alfabetizados aqueles que conseguissem concluir tarefas mínimas no computador, como saber pesquisar na internet, por exemplo. Considerarmos que alguém só deixa de ser analfabeto quando consegue fazer isso, acho que já seria um bom começo.

    Também concordo contigo quando diz que o sistema educacional deveria incentivar a reflexão individual das pessoas desde o início, para que se estimule o espírito investigativo humano.

    E também acho que o grande problema em se discutir a aplicabilidade das mudanças em relação aos investimentos em educação sejam resultantes do fato de que nenhum político vai querer investir em algo que apenas seus sucessores colherão o fruto.

    E no fim das contas, concordo também que apenas mudanças radicais no cenário político e na forma como enxergamos a educação poderiam fazer com que as mudanças necessárias realmente ocorressem.

    Só não acho que isso significaria “regredir um pouco para então evoluir novamente”, muito pelo contrário. Mudar posturas é parte do processo de mudança e principal mecanismo impulsor do progresso humano.
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  11. É claro que sempre vamos ter muito o que aprender com todos aqueles que vieram antes de nós, com seus erros, com seus acertos e principalmente com a ideia geral que “o grande esquema das coisas” nos dá: todos os seres humanos estão sujeitos ao erro, por isso é muito importante sempre questionar tudo, o tempo todo. É justamente por deixarmos de fazer perguntas e nos contentarmos com aquilo que já nos disseram que deixamos de evoluir e antagonizamos o progresso.

    O projeto Manhatan foi feito com a desculpa de que, se os americanos não desenvolvessem logo a bomba atômica, os alemães provavelmente o fariam, por que o conhecimento para isto já estava disponível.

    Então, se um dos lados “fosse mais devagar”, o outro iria mais depressa e tinha chances de vencer a guerra. Aí está aquilo que você chamou de “a política interferindo na ciência”, mas na verdade o que se viu foi como a geopolítica interfere nas produções tecnológicas humanas, mas isso não é “ciência” e muito menos “progresso”.

    É claro que estes eventos foram importantes para a formação do nosso cenário atual, mas a descoberta de como a energia pode ser liberada da matéria é um avanço muito maior no conhecimento humano do que a habilidade técnica de se produzir armas de destruição em massa.

    O primeiro é ciência, o segundo não. Ambos participam no progresso, mas fica bem claro qual contribui mais para o avanço do conhecimento.

    Você disse que meu discurso pareceu apelar para a comoção, em seu entendimento, além de parecer politicamente correto, o que é muito raro de se ouvir de alguém que debate com o Chicão. Normalmente minhas ideias são consideradas excessivamente liberais e isto decorre justamente do fato de eu acreditar que as pessoas devem ser sempre cada vez mais livres para aprender, da forma que a vida apresentar para elas, o que é ser elas mesmas. E é isso o que eu resolvi chamar de “progresso humano” em minha cabeça e é justamente por discordar da forma como nomeamos a mesma coisa, que este debate aconteceu.

    Mas como diria Murphy, sempre há motivos para ser pessimista.

    Você escolhe se quer ser realista ou não.

    Eu gosto de sonhar. E também gosto de aproveitar o melhor de cada onda.

    Você pode tentar matar as ondas no peito se você preferir.

    Mas o mar é sempre mais forte.

    Abraços.

    Chico Sofista.

16 comentários:

  1. Saudações aos colegas e também aos não colegas...

    O assunto deste debate, sugerido por mim, é em minha opinião um tema abrangente e muito importante, então... chega de conversa mole! :)

    Para começar, tenho várias opiniões sobre o progresso científico e tecnológico. O primeiro pensamento que me vem à cabeça é o de que as coisas estão indo muito depressa.

    Veja bem, meu caro Chico: O homem supostamente teria levado seis mil anos para sair da estagnação tecnológica. O salto quântico da humanidade em relação a tecnologia começou no século XIX. E, a partir de então, nunca mais paramos de "evoluir".

    Em primeiro lugar, quero deixar claro que não vejo problema na evolução em si. As tecnologias podem ser úteis para a nossa vida. Aliás, se não fosse o computador e a rede mundial, nem estaríamos discutindo esse assunto agora, talvez eu morresse sem nem mesmo saber que você existiu. Mas penso que deve haver certos limites, por uma questão de recursos e de segurança.

    Se você parar para pensar, o ser humano não precisa de mais nada. Temos telefones, celulares, rádio, televisão, internet, veículos automotivos, as viagens de um país para outro podem levar menos de uma hora com um avião, temos remédios para quase todas as doenças e a medicina evoluiu de tal modo que hoje em dia vários procedimentos deixaram de ser cirúrgicos, dando assim mais segurança ao processo de tratamento para alguns casos médicos. Mesmo assim, queremos mais.

    Imagine a quantidade de tempo e recursos que, em minha opinião são desperdiçados por ano em busca de pesquisas totalmente inúteis como Ipads e novas versões de computadores mais sofisticados.

    Pare e pense na quantidade infinita de dinheiro gasto no desenvolvimento e fabricação de celulares cada vez menores ou mais complexos... e tudo isso serve para quê?

    Você acha que precisamos de algum tipo de comunicação mais rápida do que o diálogo instantâneo proporcionado pelo messenger, por exemplo? Aliás, o que poderia ser mais rápido do que instantâneo?

    Será que nós precisamos de algo mais portátil do que um netbook ou um celular que caiba em nosso bolso?

    Nós já temos acesso à informação com velocidade, coisa que nossos avós ou até mesmo nossos mais nunca tiveram. Já temos inúmeros meios de transporte e diversas formas de comunicação rápida e barata.

    Mas, aonde eu pretendo chegar com isso?

    O que eu penso é que o progresso deve vir acompanhado de duas coisas: responsabilidade e aprendizado.

    As crianças que nasceram após o início deste século certamente não sabem o que é ou como se utiliza uma máquina de escrever ou mesmo um rádio cassete. Não que elas precisem saber disso, mas, seria importante que elas entendessem a tecnologia e o desenvolvimento antes de ter acesso a ele. O progresso tem sido irresponsável, por que facilitou o acesso à tecnologias que podem ser usadas tanto para fazer coisas boas e importantes quanto para fazer o mal ou alienar as mentes.

    Há pessoas, acredite ou não, que não conseguiriam viver sem internet hoje em dia. Há pessoas que não sabem o que é viver sem ter um telefone.

    Se o progresso seguisse uma marca um pouco mais lenta, as pessoas teriam tempo para aproveitar as tecnologias, aprender a utilizá-las do melhor modo, e teriam tempo de entendê-las. É claro que, a grosso modo as pessoas não querem saber de nada disso. Mas, será que não deveriam querer?

    Esta é minha introdução. Espero suas considerações para seguirmos a conversa!

    Até mais.

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  2. "Um homem não toma banho duas vezes no mesmo rio". - Heráclito

    Eu não se você se lembra, mas foi você mesmo quem disse, em nosso primeiro duelo, que tanto o homem quanto o rio não são mais os mesmos, pois o rio vive em fluxo constante, e o homem, em constante aprendizado.

    Vivemos nossas vidas em constante acréscimo de informações e conhecimentos, e no constante aprimoramento da prática.

    Desta forma, o progresso, quer queiramos ou não, vai acontecer.

    A única coisa que nos resta é saber como é que iremos nos adaptar a todas essas constantes mudanças, sempre mais rápidas e significativas no conhecimento humano e sua forma de interferir na forma como as coisas continuarão fluindo.

    Mas você acha que “as coisas estão indo muito depressa” e, de fato, a velocidade com que mudam as coisas é muito maior hoje do que já foi em qualquer momento da existência humana.

    Não faltam os exemplos de pessoas que já defenderam a ideia de que o progresso pode ser algo ruim para a sociedade e de que a melhor forma de se viver a vida é aquela das pessoas do passado, que se atinham a valores diferentes desses novos.

    Aí encontra-se toda a origem da eterna disputa ideológica entre conservadores e liberais.

    As coisas continuarão mudando, o que é inevitável, e cada pessoa encontra as formas que consegue para tentar interferir neste processo, podendo ser um agente ativo da mudança, passivo ou mesmo antagonista, todas essas posturas com repercussões tremendas em sua vida.

    As mulheres que lutaram por seus direitos no início do movimento feminista ou os empregados de fábricas que reivindicavam melhores condições de trabalho sofreram drásticas represálias em seus movimentos, o que é aceito com um nível de tolerância muito maior hoje em dia, justamente por que alguém no passado, se dispôs a ser elemento ativo no processo de mudança da sociedade.

    Segundo Rosseau, o melhor modelo de ser humano é o selvagem, ou seja, àquele apegado à sua verdadeira natureza humana, e portanto, mais feliz. A mesma filosofia é defendida por Eça de Queiroz em “A cidade e as Serras”, onde a ideia de progresso é repudiada e a busca ao burlesco e mais simples é explorada em sua narrativa.

    Mas a verdade é que a “verdadeira” natureza humana não tem nada a ver com a de um “bom selvagem”, muito pelo contrário.

    Não se pode desconsiderar todo o conhecimento acumulado pela humanidade a respeito de incontáveis áreas do conhecimento.

    Em várias situações o debate não passa de uma reafirmação de slogans de cabeças duras que continuam batendo na mesma tecla de coisas que já foram repetidas vezes refutadas no passado, mas que apenas um grupo de ignorantes continua defendendo a mesma postura por incapacidade intelectual para entender o novo ou por interesses escusos.

    Mas você que é um grande conhecedor de PNL, sabe que Richard Bandler dizia que "se algo não estiver dando certo, mude. Faça qualquer outra coisa".

    Oras, mas mudar não é simples.

    E igualmente difícil e até mais doloroso é perceber quando é que é preciso mudar, reconhecer seus próprios erros e compreender que você não é exceção à raça humana quando o assunto é capacidade de se equivocar.

    Mas uma coisa é verdade: Nem sempre as mudanças são para melhor e muitas vezes os conservadores têm razão ao dizer que as mudanças deveriam ir com mais calma, por que não foi da noite para o dia que as coisas chegaram no seu atual formato e respeitar o que já foi feito é primordial para que possa se conhecer as melhores formas de tornar o que já existe, ainda melhor.

    Eu não acho que o grande problema seja a velocidade com que as coisas estão mudando mas sim a qualidade delas. E avaliar usando apenas nossa própria percepção como referencial nos dá uma resposta muito limitada do problema.

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  3. É como perguntar para uma formiga, em um formigueiro, se ela acha que é útil a atividade que ela vai passar sua vida toda fazendo em seus poucos dias de existência.

    Diferente da formiga, o ser humano pode usar a imaginação e se colocar em uma outra perspectiva e refletir sobre o “grande esquema das coisas”, onde todas as transformações que ocorrem são partes de um ciclo formado de estruturas intimamente relacionadas.

    Como diria Albert Einstein, o presente, o passado e futuro, não passam de ilusões. A forma como experimentamos a passagem da existência é apenas a resposta para um fenômeno físico-químico, onde o fator “tempo” é apenas uma das variáveis, fundamental entretanto, para a compreensão da existência a partir da percepção humana.

    Pelo que entendi, o eixo central de sua argumentação gira em torno da questão: “O que as pessoas deveriam querer?”

    Você alega que grande parte das coisas que estão disponíveis hoje em dia e que modificaram drasticamente o comportamento dos seres humanos e também seus padrões de consumo, na verdade está fazendo com que as pessoas se tornem cada vez mais dependentes de suas próprias produções, tornando-se escravas de si mesmas.

    Não discordo que as pessoas não sabem o que querem e muito menos o que deveriam querer, apesar de achar que qualquer que seja impossível de se responder esta questão sem parecer pedante ao se supor conhecedor da verdadeira “vontade” que as pessoas “deveriam” ter.

    Esta questão sobre as prioridades das vontades humanas está muito presente no discurso de Sócrates e também no dos cínicos, que foram diretamente influenciados pela forma como Sócrates viveu, de forma prática, aquilo que acreditava.

    Diógenes, o cão, vivia em um barril e mesmo tendo capacidade intelectual para fazer fortuna e viver a vida em conforto, mostrava, a partir da prática pessoal, como acreditava que viver com o mínimo possível é a melhor forma de ocupar suas vontades com aquilo que é mais importante na existência: A busca pelo conhecimento.

    Mas a busca pelo conhecimento leva ao progresso.

    E quando o progresso ocorre, a forma como o conhecimento adquirido é utilizado, muitas vezes difere completamente da forma como ele se originou, e o que vemos é uma sociedade que parece estar corrompida por novos valores que se originaram a partir de um processo de busca por conhecimento, que não é um conhecimento verdadeiro.

    A noção de que a investigação séria, paciente, aberta e crítica pode ser algo útil para os seres humanos é extremamente recente na história dos seres humanos. Não somos os únicos seres humanos que dependem do conhecimento que adquirimos ao longo da vida e que nos é transmitido pelos nossos ancestrais, mas somos que cria as interações mais complexas entre novas formas de conhecimento e aquilo que já foi adquirido por gerações anteriores.

    Além da vaidade e da ignorância que impedem a livre discussão de ideias, há um obstáculo fundamental à investigação e à procura do conhecimento: a falta de seriedade.

    Quando se tem falta de seriedade não se encaram ideias que pensamos serem falsas como oportunidades para testar as nossas próprias ideias, oportunidades, enfim, para fazer avançar a investigação da natureza das coisas. Por isso eu acho que não é possível exagerar a importância, para o progresso de uma sociedade, da discussão aberta e frontal, séria e honesta, baseada no estudo competente.

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  4. Tido de uma forma mais ampla, Ciência é toda forma de obter o conhecimento, através de métodos já pré-existentes. Uma busca incessante pela verdade, embora nunca tenha encontrado, mas uma aproximação da verdade, a realidade dos fatos, fenômenos e problemas propostos.

    Vendo dessa forma, não acho que o avanço do conhecimento humano seja algo que deva ser limitado. O que devemos fazer é saber como direcionar os melhores esforços para produzir as melhores mudanças e transformações àquilo que já melhorou, mas sempre tem muito mais que possa ser melhorado.

    Achar que não há nada que possa ou que precise ser melhorado, ou que precise ser melhorado é uma postura muito pouco criativa e pouco imaginativa. A vontade humana e a sua imaginação estão sempre permitindo o desenvolvimento de novas coisas que parecem aumentar o nível de futilidade existencial das pessoas,em uma análise descuidada. Mas a verdade é que se existe alguma criação humana que possa ser prejudicial para o seu desenvolvimento, ela vai ser selecionada pelo mesmo processo que a trouxe até ali.

    O desenvolvimento do conhecimento humano é fundamental para que aumente o número de pessoas com senso crítico mais apurado e que sejam capazes de perceber quando é que estão sendo manipuladas, como ocorre em toda esta discussão ambientalista a respeito do “futuro do planeta” e de como o progresso pode ser prejudicial ao meio ambiente.

    Apenas uma análise mais cética e séria pode nos mostrar que este tipo de informação é difundida sem uma base sólida como se fosse “verdade científica irrefutável”, fazendo com que vários países e empresas alterem suas políticas a fim de beneficiar um grupo de indivíduos, favorecidos com o fato de poderem interferir diretamente sobre aquilo que as pessoas mais ignorantes irão pensar.

    A busca pelo conhecimento deve ser feita de forma livre, sem amarras. Não é possível de se reconhecer um conhecimento inovador em uma pesquisa que ainda não produziu resultados e muitas vezes, o conhecimento produzido pode parecer inútil no momento em que é produzido, mas pode ser utilizado por outra pessoa, no futuro, para produzir alguma outra coisa fundamental.

    Aguardo sua tréplica.

    Até mais!






    Chico Progressista.

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    1. Touché...

      Sua introdução ao tema foi ótima. Criativa, profunda, e pautada com base em diversas opiniões até certo ponto verídicas. Mas, encontro em seu discurso uma aparente confusão com relação ao que eu defendi em minhas considerações iniciais. Talvez eu mesmo não tenha sido tão claro quanto pensei, então, vou esclarecer um pouco mais a questão.

      Sobre o desenvolvimento, o que aleguei no início é que ele segue atualmente um marcha muito alta, quase vertical. Mas me refiro especificamente ao progresso tecnológico.

      Há uma frase de um filósofo não muito conhecido, chamado D"André, que diz: "Enfim, veio cedo o mal, e tarde o conhecimento."

      Esta frase relata a opinião que seu autor carrega a respeito do progresso, da vida de modo geral. A ideia é que tivéssemos conhecimento antes de ter escolhas.

      O que considero confuso em seu discurso é a relação que você fez entre a busca pelo conhecimento e o progresso científico. Na realidade, gostaria que você tivesse razão. Mas o ponto crucial em meu discurso é justamente este. Se o progresso científico seguisse o mesmo ritmo da busca pelo conhecimento, então teríamos um ritmo ideal de desenvolvimento tecnológico, uma vez que a evolução física seguiria ao lado da evolução intelectual.

      Mas, na prática, boa parte dos cientistas hoje é arrogante e irresponsável. Primeiro por que, de modo geral, são dogmáticos no que tange ao conhecimento. Seguem a linha de que, aquilo que não pode ser provado em laboratório é indiscutivelmente uma inverdade. Eles se esquecem de que, no passado, várias "inverdades" que eram alegadas por mentes brilhantes foram, em seguida, comprovadas com a ajuda de métodos inovadores. Um exemplo disso, bem conhecido, é o da terra redonda.

      Hoje em dia sabemos que ela é redonda. Mas, na época, mesmo os estudiosos não aceitavam essa tese por que não entendiam como as águas do oceano ficariam ali. Então, imagine se naquela época alguém lhes dissesse que há uma força invisível que prende os corpos ao chão! Eles iriam rir, certamente. Mas hoje sabemos que ela existe e que se chama gravidade.

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    2. Qual é o foco? Ainda pouco chamei alguns cientistas de irresponsáveis e arrogantes. E há provas que sustentam essa opinião.

      Em uma passado bem próximo, cientistas desenvolveram a energia nuclear. Essa forma de energia era muito eficiente, econômica, e tinha um nível bem baixo de poluição. Entretanto, ela era instável e os riscos no que diz respeito a segurança eram altos. Então, os pesquisadores divulgaram essa energia mesmo assim, antes de tê-la tornado segura.

      Se o interesse fosse a busca pelo conhecimento, eles teriam sido responsáveis o suficiente para desenvolver mais estudos antes de divulgar a pesquisa. Hoje, por causa desse erro, temos lembranças ruins sobre esta forma de energia e, de modo geral, as pessoas acham que energia nuclear é voltada apenas para criação de bombas... :\

      A verdade é que uma pessoa pode ser inteligente, mas o povo não é. A massa é burra, entra em pânico, age como o gado. A busca pelo conhecimento deveria, sempre, preceder o progresso tecnológico. Assim, como eu disse em minha introdução, as pessoas entenderiam aquilo que compram, compreenderiam as funções da tecnologia que utilizam. Mas, na prática, os grandes centros de pesquisa tecnológica, irresponsáveis como são, não se importam com isso. Eles querem é produzir o que em minha opinião é lixo eletrônico, por que isso dá dinheiro, vende, gera lucros.

      No momento, passamos por uma fase crítica, é o que penso. O ser humano está se comportando com futilidade. É verdade o que você disse, que não podemos partir apenas de nossa própria perspectiva e que não podemos julgar o que é útil para os outros como julgamos para nós. Mesmo assim, intuitivamente sabemos que certas tecnologias não servem para nada.

      A questão em si é o futuro. Chegará um momento em que, inevitavelmente, haverá mais celulares do que pessoas. E prevejo, embora possa parecer meio profético, que as coisas tendem a piorar por isso. Vai chegar uma época em que o homem será substituido por suas próprias máquinas. A sociedade tende a emburrecer.

      Você pode ver certos traços disso aqui mesmo, na internet. Justo em uma época na qual temos acesso ao conhecimento de inúmeras formas, vemos um nível tão elevado de ignorância que lembra idade das trevas. As pessoas ignorantes de hoje são piores do que os ignorantes do passado, por que estes eram ignorantes por falta de opção, em sua maioria. Hoje, as pessoas são ignorantes por opção própria. Além disso, são arrogantes. Hoje, um adolescente lê um artigo da Wikipédia sobre física de particulas e acredita ter estudado no CERN.

      Enfim, o que vejo é justamente o desenvolvimento da tecnologia jogar um balde de areia na busca por conhecimento. Parece que agora, até mesmo pessoas questionadoras e inteligentes se contentam com um conhecimento superficial, por que podem encontrar na internet a qualquer momento a informação que desejam.

      Então, certo de que fui mais claro dessa vez, encerro minha réplica reafirmando minha posição inicial e ansioso para que você possa me apresentar provas em contrário.

      Fico feliz, também, que você tenha se lembrado de nosso primeiro debate.

      D'André.

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  5. Nós não podemos voltar para o passado e nem permanecer no presente.

    O futuro é o nosso único destino, quer queiramos ou não.

    As mudanças são inevitáveis.

    Como eu falei em minha introdução, este sentimento nostálgico de que o que existia antes era melhor ou de que alguma coisa pode ser pior amanhã do que já foi ontem é um tipo de pensamento que sempre existiu na cultura humana, mas as evidências mostram justamente o contrário.

    Estamos vivendo a melhor época para se viver da história humana e tudo indica que o que está por vir vai ser incrivelmente melhor, em todos os aspectos que você escolha comparar: Saúde, riqueza, mobilidade, oportunidades...

    Doenças que dizimavam população a apenas uma geração atrás, já não mais existem e somos capazes de alimentar bilhões de pessoas, contradizendo as previsões Malthusianas do começo do século, tudo isso triunfo do método científico.

    Experimentar as coisas, ver como funcionam, mudar de ideia quando não funcionam é um dos maiores feitos da humanidade.

    Mesmo assim, o conhecimento gerado pelo avanço deste processo é responsável pela criação de um cenário extremamente desigual, onde milhões de pessoas vão pra cama com fome todos os dias, enquanto outros possam morrer afogados em suas piscinas de aparelhos eletrônicos.

    Mas é muito importante que se diferencie a importância de se obter o conhecimento com a forma que outros seres humanos (sempre irresponsáveis em potencial) irão utilizá-lo.

    Por isso, eu acredito que barrar o avanço do conhecimento, até que todo o rebanho se acostume com as novas informações, não me parece uma boa ideia.

    Mesmo por que, este é um processo natural. Em todo rebanho existem os indivíduos mais lentos, que estão sempre servindo de âncora para a manada, muitas vezes por medo de avançar tão rapidamente em terreno tão desconhecido.

    E o medo é algo bom, é que nos impede de não nos atirarmos em precipícios.

    Além disso, concordo totalmente contigo quando diz que o conhecimento acerca de algumas coisas como energia nuclear exige uma responsabilidade extraordinária, que tem sido usada, mesmo por que, apesar de erros do passado, a maioria dos países mais desenvolvidos utiliza esta fonte energia, sem grandes problemas para as pessoas.

    Mas o próprio desenvolvimento da responsabilidade é decorrente de avanços no conhecimento humano. Se o desenvolvimento das tecnologias humanas é muito mais rápido que o desenvolvimento da responsabilidade para usá-las, o que temos que fazer não é interromper o avanço de um lado, mas fomentar o avanço do outro.

    Mesmo por que, toda política que visava interromper os avanços tecnológicos de uma população foram fadadas ao fracasso.

    Na União Soviética, a população tinha tempo de sobra para se acostumar com novas tecnologias, enquanto que no mundo capitalista o ciclo de troca e reposição da tecnologia era intensamente dinâmico, justamente por que servia a interesses particulares das pessoas e não a um “bem maior” idealizado pelo estado.

    Geopoliticamente, todo mundo viu o resultado de uma conduta em relação à outra. Além disso, o avanço tecnológico vai ficar cada vez mais rápido, simplesmente por que é impossível de se convencer as pessoas que o mundo deveria produzir menos tecnologia.

    A maior parte do discurso ambientalista, que quer “salvar o mundo” de fantasias como o aquecimento global ou o buraco na camada de ozônio possui algum respaldo justamente por que se diz embasado em argumentos “científicos”, mesmo quando defendem mitos.

    Mas mesmo que fosse verdade que ficaremos sem recursos e que teremos sérios problemas, a melhor forma para se resolvê-los seria fomentar ainda mais o avanço do conhecimento para o desenvolvimento de tecnologias que nos ajudassem a resolver os problemas que nós mesmos teríamos causado, ou até mesmo impedir que o fato se repetisse no futuro.

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  6. A verdade é que o progresso fez o homem dependente do próprio progresso. Nunca estivemos tão desenvolvidos e, ao mesmo tempo, nunca estivemos tão dependentes do nosso próprio progresso.

    A luta contra o progresso está cada vez menor. Já foi imensa na idade média e diminui muito após o renascimento e o iluminismo.

    Se você analisar, a maior parte das críticas das pessoas em relação ao progresso científico está relacionada à ignorância científica das pessoas em aceitar como é que a ciência pode ser benéfica para elas mesmas.

    A questão é que as pessoas perderam a fé em instituições, em autoridades, e algumas vezes, na própria ciência. E é exatamente por fazer perguntas e exigir provas que o progresso acontece na sociedade. Mas quando as provas são obtidas, é preciso que sejam aceitas e as pessoas não têm se mostrado muito boas em fazer isso, ao longo da história.

    Nós acreditamos naquilo que nós achamos que vemos, que nos faz sentir reais, não em uma pilha de documentos de cientistas. Sendo assim, como convencer as pessoas que elas devem tomar vacinas e que isto é bom para a população em geral e não apenas para elas?

    As pessoas adoram apostar em mentiras. Bilhões de dólares são gastos em vitaminas, anti-oxidantes ou produtos de medicina alternativa, não importa o quanto pesquisas mostrem que eles não servem para nada. As pessoas parecem adorar gastar dinheiro em placebo.

    E por falar em placebo, esta aí um tipo de conhecimento que não se desenvolveu quase nada nos últimos 200 anos: a homeopatia, que da mesma forma que no passado, continua não funcionando.

    E é justamente por saber que as pessoas são irresponsáveis e ingênuas que eu acho que elas deveriam progredir, e muito, no avanço do conhecimento e também da tecnologia, ainda que, no meio do caminho, parte desta evolução dê origem a cenários onde as pessoas fazem mal uso daquilo que elas mesmas produziram, embasadas em um conhecimento que pode ser muito útil para as pessoas, em várias outras aplicações.

    A mesma tecnologia utilizada para se produzir artigos fúteis do dia a dia pode ser utilizada para produzir equipamentos hospitalares que irão ajudar milhares de pessoas, ou a desenvolver equipamentos agrícolas que vão tornar possível a produção de comida por um preço reduzido, a um número muito maior de indivíduos.

    E aliás, se diminuíssemos o desenvolvimento tecnológico por causa de como o homem pode ser irresponsável ao utilizá-lo, não seríamos capazes de cumprir a demanda, cada vez maior, do próprio ser humano de produtos oriundos de sua própria tecnologia e isto vai muito além de celulares pequenos, mas está relacionado á nossa própria dependência de que a indústria alimentícia e farmacêutica deve suprir a demanda de uma população cada vez maior e cada vez mais velha.

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  7. Um grande exemplo disso está no debate entre os defensores de alimentos modificados geneticamente e defensores de alimentos “orgânicos”. Oras, não passa de um debate semântico. Ideológico, que nada tem de científico.

    Absolutamente todos os produtos utilizados na alimentação humana foram modificados pelo homem, a partir de seleção cruzada, nos últimos 11.000 anos em que nos relacionamos diretamente com as espécies selvagens.

    Algumas coisas deram certo, outras não deram, nós nos livramos das que não deram e agora somos capazes de fazer isso de modo muito mais preciso.

    A mesma seleção acontece em todos os sistemas que estão aumentando de complexidade em função do tempo, como ocorre com a cultura humana.

    Por isso, muitos dos frutos das inovações tecnológicas humanas darão certo, outros não darão, mas no fim das contas, os que sobrarem, terão provado sua utilidade, enquanto os seres humanos também continuam sua eterna jornada de se conhecer aquilo que é realmente útil.

    Riscos sempre existirão. Mas é a coragem que nos permite ser diferentes daquilo que já fomos no passado, é ela quem fomenta as transformações, ainda que às vezes leve para o precipício.

    É extremamente importante se separar o que é ciência e o que não tem nada a ver com ciência. Legislação, moralidade, finanças, fator humano, nada disso é ciência. São apenas partes da engrenagem necessária para que a ciência seja feita.

    Culpar a ciência pela forma como os cientistas não sabem utilizá-la é o mesmo que culpar a justiça pela forma como os advogados podem distorcer a concepção humana do termo.

    Ciência não é uma empresa. Não é sequer uma ideia, é um processo.

    Às vezes ele funciona e às vezes ele não funciona, mas a ideia que não devemos permitir é impedir a ciência de fazer a sua parte, por que estamos com medo, por que isso impede a prosperidade de milhares de pessoas.

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    1. Grande Chico,

      Graças à tecnologia, estou aqui, respondendo seu texto enquanto ouço Edenbridge - Arcana. E por isso, não desmereço os avanços que a ciência realizou; muito pelo contrário, eu mesmo utilizo muitas coisas que foram criadas a partir de progressos tecnológicos, tais como o celular, a internet, o DVD, etc.

      Entenda que minha crítica não se direciona ao progresso de modo geral, pois compreendo que a evolução é necessária e inevitável. A alma ou a mente humana, como preferir, anseia por ter mais e por ser mais. Lembrando que, aí já reside um pequeno problema social, que confunde o que se tem com aquilo que se é como pessoa.

      Seu discurso é progressista e, diria eu, bastante positivista. Talvez por razões pessoais, talvez, você imagine um futuro melhor do que o nosso presente. Mas lhe faltou observar alguns pontos por mim levantados anteriormente.

      Quando falei do acesso à informação, e sobre o fato de que isso, ao invés de fazer com que as mentes evoluíssem pareceu atrofiar ainda mais o desenvolvimento intelectual, você não comentou. E veja bem, pois isso é importante: Há provas de que isso aconteceu, até mesmo estatísticas que comprovam.

      Um exemplo disso são os testes feitos com universitários, e as estatísticas mostrando que o índice de "ignorância" entre eles está maior a cada ano. Em provas de português, universitários de diversos cursos praticamente envergonham as instituições das quais fazem parte. E isso, é claro, não é 'culpa' do avanço tecnológico, mas de alguma forma, algo que deveria ter servido para tornar as pessoas mais inteligentes está contribuindo para aumentar ainda mais com a ignorância.

      Devem existir inúmeras explicações e diversos fundamentos para justificar isso mas, meu foco não é este. O que penso é que ter informação é totalmente diferente de ter conhecimento.

      A informação é superficial. Uma matéria no jornal basta para te deixar informado. Mas, conhecimento é profundo, exige esforço, vontade, exige tempo também. É por isso que não vejo uma relação direta entre descobrir novas tecnologias e aumentar o conhecimento humano. As novas descobertas trazem novas informações, mas para se ter conhecimento é preciso ir muito além. Para se buscar conhecimento, é preciso ser responsável.

      Ontem eu citei o exemplo da energia nuclear, que justamente por falta de responsabilidade e conhecimento foi largamente mal utilizada e maculada com uma má reputação.

      A ignorância coletiva pela qual a população tem passado pode ser um caso isolado aqui no Brasil, talvez. De fato nunca estive em outros países para saber como as coisas funcionam lá fora. Mas, ao que tudo indica, a tecnologia não está ajudando. Muito pelo contrário, está jogando um balde de areia no desenvolvimento intelectual humano.

      Essa afirmação pode ser verificada, embora com ressalvas, em nosso próprio cotidiano. De modo geral, as pessoas emburreceram e se tornaram prepotentes. Como já disse, o acesso fácil à informação supriu a busca pelo conheciimento profundo das coisas. As pessoas agora se contentam em saber um pouquinho de cada tema apenas para mostrar que sabem alguma coisa, e por isso deixam de lado aquilo que impulsionou a humanidade no passado, que era a busca pelo verdadeiro conhecimento sobre alguma coisa.

      Caro Chico, não devemos confundir as coisas. Ciência, progresso, tudo isso são abstrações. Aqui, nós estamos falando de pessoas. São pessoas que tomam decisões, são pessoas que desenvolvem máquinas, são pessoas que operam as máquinas. Os termos "Ciência" e "progresso" são máscaras para discursos progressistas, que criam deuses imaginários para um futuro próspero, tirando assim a responsabilidade que as pessoas têm por suas próprias atitudes.

      De fato, ciência não é uma empresa, nem mesmo uma ideia. É um processo. Mas este processo não se dá por conta própria, precisa de um incentivo humano para ser realizado. Aí é que reside o problema... Onde há pessoas, inevitavelmente há falhas.

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    2. No início de sua réplica você disse: "este sentimento nostálgico de que o que existia antes era melhor ou de que alguma coisa pode ser pior amanhã do que já foi ontem é um tipo de pensamento que sempre existiu na cultura humana, mas as evidências mostram justamente o contrário."

      Primeiramente, até então eu não havia mencionado qualquer afirmação sobre isso. Não disse que o passado era melhor, mas apenas que o futuro seria pior.

      Contudo, o que me chamou atenção nesse trecho foi o final, onde você diz que as evidências mostram que o presente é melhor que o passado. Nisso você está errado. As evidências mostram que eu tenho razão em afirmar, ainda que eu não tenha afirmado, que as coisas que existiam no passado eram melhores. E a não ser que você nunca tenha ouvido falar em obsolescência programada, duvido que você não saiba realmente disso.

      Antigamente, produzia-se um geladeira numa fábrica qualquer e ela durava mais de trinta anos. Hoje, é difícil achar uma que dure mais do que dez anos. Um sofá antigo, feito com madeira boa, durava décadas. Um sofá novo, feito com material da mais péssima qualidade, dura cerca de cinco anos, no máximo. E, posso ir além disso, indicando como até mesmo as coisas mais modernas, celulares e computadores, por exemplo, estão inclusos neste mesmo processo.

      Se você compra um computador novo, em um período de três anos ou menos ele estará obsoleto, ultrapassado, não terá mais valor de mercado. O mesmo serve para celulares, video games e televisores. E, baseado nisso, acho bastante hipócrita o discurso progressista, que defende "a ciência" e o "progresso" como se fosse algo muito nobre e cheio de princípios éticos. A verdade é que o único interesse envolvido nesse tipo de pesquisas é o de ganhar muito dinheiro com tecnologias inúteis. A não ser que em algum lugar do mundo um celular de dois chips seja um artigo de primeira necessidade...

      Se houvesse interesse verdadeiro e sincero na busca por conhecimento, por novos desafios e descobertas, e se realmente houvesse interesse pelo progresso da civilização, acredito que os centros de pesquisa tecnológica desenvolveriam produtos com qualidade suficiente para durar mais tempo e para funcionar de acordo com aquilo que é esperado. E não para fabricar produtos com material de quinta categoria repletos de mau funcionamento em processos básicos.

      Afinal, você sabe que os pesquisadores destas áreas são inteligentes, o suficiente para serem capazes de produzir algo com qualidade. Não acha?

      Fica aqui a minha tréplica. E espero que tenha gostado.

      Até mais, meu caro!

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  8. Saudações, Roger!

    Pensei bastante a respeito dessa sua tréplica e me desculpe se não respondi imediatamente.

    Quando alguém diz que é “contra” o progresso científico, a primeira coisa que eu espero é ver alguém se mostrar cético em relação a objetividade do método científico, seus propósitos, ou se ele é realmente capaz de gerar conhecimento universal. Uma crítica frequente é a de que o reducionismo científico é uma forma limitada de se compreender a complexidade do mundo que vivemos.

    Além disso, muito é dito a respeito do privilégio, poder e influência que a ciência parece exercer sobre a sociedade, indústria e política, provinda de cientistas arrogantes e de mentes fechadas.

    As minhas participações até agora foram feitas como resposta para esta postura e em muitos momentos, concordo contigo que partilha de ideias positivistas e progressistas, justamente por que acredito que a evolução do conhecimento humano é um processo contínuo, onde acho que estamos ainda no começo da jornada que vai levar à exploração de todas as nossas potencialidades.

    A minha resposta para os anti-progresso e aos anti-ciência é a de que, se não queremos ter uma atitude hipócrita em relação àquilo que acreditamos, deveríamos fazer como Diógenes, o cão, e vivermos àquilo que acreditamos.

    Se você é contra a ideia de progresso e acha que não deveriam ser feitos experimentos com animais de laboratório, não tome remédios e não use vacinas que foram desenvolvidas usando esses métodos.

    Se acha que aparelhos eletrônicos levam à alienação de costumes e torna as pessoas mais burras, experimente não usá-los e torne-se um dinossauro em suas rodas de convívio social.

    Por que no fim das contas, de que vale uma reclamação se não vem acompanhada de uma sugestão de uma alternativa viável que fosse melhor do que a que já conhecemos?

    Pelo que entendi, a tese central que você defendeu em sua tréplica é a de que o mundo está ficando mais estúpido, apesar do aumento da expectativa de vida e do progresso tecnológico que facilita o acesso à comunicação.

    E de fato, quando paro para pensar, tenho a impressão que as pessoas andam se interessando por coisas cada vez mais imbecis. Os recentes sucessos absolutos de Michel Teló ou mesmo da Luíza que está no Canadá, me fazem pensar que, de fato, as pessoas estão ficando cada vez mais débil-mentais.

    Mas será que isto não é um caso isolado do Brasil, como você citou?

    De fato, nosso sistema educacional passou um processo de sucessivo sucateamento e deturpação ideológica que o transformou neste absurdo que existe hoje em dia. Um dos critérios avaliados pelos fundos monetários internacionais para ceder empréstimo para países em desenvolvimento é o índice de desenvolvimento humano que analisa, entre outras coisas, o número de analfabetos e o número de pessoas que completaram a educação formal.

    Além do problema do analfabetismo, o Brasil possuía um alto índice de reprovação escolar, que segundo analistas, era um dos fatores que impedia a conclusão do ensino formal para a população. A solução que eles encontraram? Ninguém mais reprova! Genial! Agora todos completam a educação formal, recebemos empréstimos internacionais e formamos um dos povos com a população com educação formal mais estúpida do planeta, pois se não há um mecanismo de seleção para se avaliar aqueles que aprenderam ou não o conteúdo já estudado, como saber se o aluno “empurrou com a barriga” ou não todos seus anos de estudo?

    O fato é que eu tenho certeza que se você comparar as transformações que ocorreram no Brasil com sociedades que, durante o mesmo período, investiram pesadamente em sistemas funcionais de educação, como em alguns países da Ásia e Europa, vai perceber uma diferença abismal sobre como mudou o comportamento das pessoas.

    Mas eu fiquei curioso com essa sua afirmação e vou pesquisar mais a respeito. Afinal de contas, as pessoas estão ficando mais burras? Se estão, por que? O que pode ser feito para evitar isso, ou mesmo inverter esse paradigma?

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  9. Em minha opinião, para respondermos essa pergunta, devemos estimular o PROGRESSO do conhecimento humano na pesquisa destas áreas, para que possamos propor soluções funcionais para este problema.

    Você tem alguma ideia do que pode ser feito, Roger?

    Concordo contigo quando diz que ter informação é diferente de ter conhecimento ou sabedoria para se utilizar essa informação.

    E essa é uma reclamação recorrente nos filósofos ao longo de toda a história da humanidade. A grande verdade é que a maior parte da população do mundo sempre foi mais estúpida e manipulada por um sistema que mantinha o privilégio de um grupo seleto de indivíduos que ditava normas que privilegiavam o seu próprio grupo.

    Além disso, a maioria das pessoas nunca se interessou pelas coisas que realmente deveriam ser importantes para sua vida, isto não é um fenômeno recente.

    A única diferença, em minha opinião, é que este controle é muito mais sofisticado e é feito em conjunto com a economia, nas relações de troca das pessoas entre aquilo que elas querem e o que o mercado pode oferecer, levando em conta as vantagens que elas podem oferecer a todas as partes envolvidas.

    Dinheiro e esforço são investidos para o desenvolvimento de tecnologia. Pensando no dinheiro que vai ter que continuar investindo na produção de novos produtos e de como manter o influxo de lucro, a maioria dos produtos modernos são produzidos para durar menos, incentivando as pessoas a continuar trocando seus produtos por novos lançamentos do mercado. Isto fomenta a criação de um exército de zumbis consumistas que pouco se importam com investigação pessoal.

    Mas o meu argumento é o de que este exército de zumbis sempre existiu, respondendo a diferentes estímulos manipulativos, ao longo da história. Se ele é proporcionalmente maior ou menor do que o que havia no passado, não posso afirmar com certeza, mas tudo me leva a acreditar que está menor, ou pelo menos tem tudo para aumentar a garantia oportunidades para os próprios zumbis perceberem sua própria condição e também alterá-la. Neste ponto, estamos vivendo o melhor momento da história no que se refere à facilidade de se encontrar mecanismos para se defender disso.

    E em minha opinião, isso é decorrente do avanço na capacidade de se fazer perguntas do próprio ser humano.

    E é por isso que acredito que, no fim das contas, tudo está conectado. E quando pensamos em progresso e avanço científico, estamos falando do processo pelo qual o ser humano conhece a natureza e também a si mesmo, sendo que as sociedades ainda vão demorar muito tempo para absorverem todas os avanços de ponta de quem está na frente e o rebanho inteiro goze dos benefícios que o avanço intelectual promove.

    Desta forma, termino minha tréplica.

    Aguardo suas considerações finais para que possamos terminar esta agradável discussão sobre este assunto tão importante.

    Até mais!

    Chico Sofista.

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    1. Bem. Vamos lá.

      "...de que vale uma reclamação se não vem acompanhada de uma sugestão de uma alternativa viável que fosse melhor do que a que já conhecemos?"

      Acho que esse questionamento resume bastante o conteúdo de sua tréplica. É uma pergunta objetiva e bem profunda.

      Primeiramente, há uma diferença entre reclamação e crítica. A primeira é apenas uma queixa de cunho pessoal, enquanto a segunda é uma demonstração de opinião contrária ao status quo.

      Obviamente, o progresso não me prejudica em nada. Muito pelo contrário. Então, minha crítica aponta para a questão do que o mundo, de modo geral, tem feito com o progresso tecnológico. e o que se pode sugerir para melhorar a questão talvez seja justamente o ponto em que você mesmo tocou durante suas postagens: a educação.

      A educação é fundamental para o curso de nossas vidas em sociedade. E no mundo moderno, ela faz muitos mais diferença do que fazia no passado. Uma pessoa completamente analfabeta, por exemplo, seria incapaz de usar um computador. Então, por pior que seja a qualidade da educação, ela ainda deve existir, para pelo menos servir de suporte às atividades mais simples da modernidade.

      E é justamente na educação que entram os pontos criticados por mim anteriormente, tais como a responsabilidade e o interesse em se conhecer aquilo que se utiliza. A ética seria fundamental para auxiliar nesse processo. Mas, não a ética formal, longe do "politicamente correto", e sim uma ética séria e profunda, dando bases desde a infância para que as pessoas um dia tenham mais responsabilidade e menos displicência. O desinteresse é que tem movido a sociedade para seu próprio abismo.

      Porém, e sempre há um porém, a educação é uma medida de longo prazo. Se mexermos nela agora, veremos os efeitos dela somente daqui a uns vinte anos, em média. E o que seria possível fazer, agora?

      O que acredito é que seria necessário uma mudança bastante radical de postura, talvez até um pouco reacionária, no sentido de que talvez devêssemos começar desde o princípio outra vez, para então fazermos as coisas da maneira correta.

      Talvez, o mundo precisasse regredir um pouco para então evoluir novamente. Resgatar certos valores que foram esquecidos para então construir novos valores, visto que, no momento, não temos muitos valores regendo nossas vidas.

      É evidente que questões morais devem mudar ao longo da história e principalmente diante do progresso. Mesmo assim, certas coisas são necessárias não para barrar o avanço das coisas, mas para servir de retorno caso as coisas saiam de controle.

      Imagine se os cientistas que inventaram a bomba atômica tivessem ido um pouco mais devagar... talvez eles tivessem mais tempo para pensar e refletir se aquele era mesmo o jeito certo de fazer as coisas. No fim das contas, a política acabou interferindo na ciência, justamente por falta de responsabilidade ou de coragem daqueles que podiam fazer algo diferente, que podiam impedir certas decisões.

      No fundo, acredito que seu discurso progressista, embora um tanto piegas, seja mais realista. E até seria bom que você tivesse razão mesmo e que nós realmente avançássemos para uma era onde as pessoas sejam melhores do que são agora.

      No momento, sou bastante pessimista com relação a isto...

      O avanço intelectual promove a curiosidade, que por sua vez, quando falta responsabilidade, acaba sobrepondo-se à prudência.

      Pense bem nisso.

      Espero que os leitores tenham compreendido a minha intenção e também a sua e que sejam sinceros na hora de escolher um vencedor, embora eu acredite que foi um debate muito bem equilibrado.

      Finalizo a minha participação.

      Grato!

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  10. Chegamos ao fim do debate.

    Percebo que nossas concordâncias aumentaram em relação às aparentes discordâncias iniciais, o que fez parecer fazer a discussão “crescer” e a tornou bem interessante.

    Eu acho que o grande problema de todas as possíveis “discordâncias” no campo dos duelos retóricos refere-se à forma como chamamos as coisas.

    Perceba que você começou o duelo dizendo que era contra a velocidade com a qual se dá o atual progresso cientifico/tecnológico da humanidade.

    Eu disse que o progresso científico/tecnológico é um reflexo da evolução do conhecimento humano e a responsabilidade com a qual lidamos com estes avanços dependem exatamente do progresso para poderem acontecer.

    No fim das contas, você conclui sugerindo uma série de mudanças, o que representaria em si, progresso e transformações, mostrando que, no fim das contas, estávamos desde o começo, dizendo a mesma coisa, com palavras diferentes.

    Como eu te disse, quando alguém me diz que é “contra” o progresso científico/tecnológico, passa na minha cabeça de tudo, desde os membros a igreja Messiânica, que condenam a utilização de vacinas e remédios, até a discussão de criacionistas, que negam todas as evidências da paleontologia, da geologia e da biologia para justificar suas premissas, que no fim das contas dizem sempre a mesma coisa: a ciência não funciona.

    Eu acho que a mesma coisa ocorre quando você diz coisas do tipo “a política acabou interferindo na ciência”. É claro que a forma como a sociedade direciona suas políticas interfere na forma como é realizada a produção de tecnologia, mas isso não significa “ciência”. Produção de tecnologia é apenas o resultado da aplicação do método científico, mas o progresso da “ciência”, em si, está muito mais ligado ao real sentido da investigação humana em si, do que aos resultados práticos de suas produções.

    Por isso, no fim das contas, concordamos no ponto crucial de toda esta discussão, o eixo central que sustenta todo este prédio chamado “progresso” se chama “educação”. Se o eixo não tiver muita sustentação, o prédio corre riscos de desabar a qualquer momento.

    Também concordamos que, em várias culturas e a nossa é o maior exemplo, é exatamente isto o que parece estar acontecendo: O Brasil está cada vez mais “rico”, mas nem um pouco mais esperto.

    Eu acho que deveríamos deixar de hipocrisias e aceitar que alguém que não conhece mínimas noções de informática, comunicação textual e matemática básica, é um analfabeto. Deveria haver um programa de ALFABETIZAÇÃO muito sério no Brasil, que considerasse que só seriam considerados realmente alfabetizados aqueles que conseguissem concluir tarefas mínimas no computador, como saber pesquisar na internet, por exemplo. Considerarmos que alguém só deixa de ser analfabeto quando consegue fazer isso, acho que já seria um bom começo.

    Também concordo contigo quando diz que o sistema educacional deveria incentivar a reflexão individual das pessoas desde o início, para que se estimule o espírito investigativo humano.

    E também acho que o grande problema em se discutir a aplicabilidade das mudanças em relação aos investimentos em educação sejam resultantes do fato de que nenhum político vai querer investir em algo que apenas seus sucessores colherão o fruto.

    E no fim das contas, concordo também que apenas mudanças radicais no cenário político e na forma como enxergamos a educação poderiam fazer com que as mudanças necessárias realmente ocorressem.

    Só não acho que isso significaria “regredir um pouco para então evoluir novamente”, muito pelo contrário. Mudar posturas é parte do processo de mudança e principal mecanismo impulsor do progresso humano.

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  11. É claro que sempre vamos ter muito o que aprender com todos aqueles que vieram antes de nós, com seus erros, com seus acertos e principalmente com a ideia geral que “o grande esquema das coisas” nos dá: todos os seres humanos estão sujeitos ao erro, por isso é muito importante sempre questionar tudo, o tempo todo. É justamente por deixarmos de fazer perguntas e nos contentarmos com aquilo que já nos disseram que deixamos de evoluir e antagonizamos o progresso.

    O projeto Manhatan foi feito com a desculpa de que, se os americanos não desenvolvessem logo a bomba atômica, os alemães provavelmente o fariam, por que o conhecimento para isto já estava disponível.

    Então, se um dos lados “fosse mais devagar”, o outro iria mais depressa e tinha chances de vencer a guerra. Aí está aquilo que você chamou de “a política interferindo na ciência”, mas na verdade o que se viu foi como a geopolítica interfere nas produções tecnológicas humanas, mas isso não é “ciência” e muito menos “progresso”.

    É claro que estes eventos foram importantes para a formação do nosso cenário atual, mas a descoberta de como a energia pode ser liberada da matéria é um avanço muito maior no conhecimento humano do que a habilidade técnica de se produzir armas de destruição em massa.

    O primeiro é ciência, o segundo não. Ambos participam no progresso, mas fica bem claro qual contribui mais para o avanço do conhecimento.

    Você disse que meu discurso pareceu apelar para a comoção, em seu entendimento, além de parecer politicamente correto, o que é muito raro de se ouvir de alguém que debate com o Chicão. Normalmente minhas ideias são consideradas excessivamente liberais e isto decorre justamente do fato de eu acreditar que as pessoas devem ser sempre cada vez mais livres para aprender, da forma que a vida apresentar para elas, o que é ser elas mesmas. E é isso o que eu resolvi chamar de “progresso humano” em minha cabeça e é justamente por discordar da forma como nomeamos a mesma coisa, que este debate aconteceu.

    Mas como diria Murphy, sempre há motivos para ser pessimista.

    Você escolhe se quer ser realista ou não.

    Eu gosto de sonhar. E também gosto de aproveitar o melhor de cada onda.

    Você pode tentar matar as ondas no peito se você preferir.

    Mas o mar é sempre mais forte.

    Abraços.

    Chico Sofista.

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