quinta-feira, 8 de março de 2012

Max X Salém - Movimentos estudantis


Max Campos 02/10/2011
Introdução 1/3
Agradeço ao Samuel por aceitar o desafio de debatermos sobre o Movimento Estudantil. Como não sei o que ele pensa a respeito, moldarei minha Introdução baseado em um pequeno conhecimento e experiências que tive enquanto era acadêmico.

O estudo, essencialmente, rompe fronteiras. Sejam elas ideológicas, estruturais, funcionais (ou qualquer outra forma de apresentação), a oferta de conhecimento colabora com o desenvolvimento do senso crítico da população.

Desde a Idade Moderna, os estudantes já se organizavam em um formato classista, no intuito de buscar melhorias nas condições de aprendizado, bem como a todo o ambiente que os cercavam.

Há muito tempo as Universidades têm sido responsáveis pela formação intelectual e social dos alunos, colaborando inclusive com o caráter dos indivíduos. Em referência a este “celeiro”, inegavelmente, surgiram personagens épicos da história de nosso país, que vieram a ser agentes de transformação social, intelectual e científica.

Neste ambiente favorável à reflexão, nasceram os primeiros traços de um movimento social organizado a partir dos discentes, no intuito de compreender e dimensionar a instituição onde estiveram vinculados, a postura que adotariam em relação aos fatos que lhes foram apresentados, e a “voz” daqueles que representam.
Max Campos 02/10/2011
Introdução 2/3
Tivemos, em diversos momentos na história, a luta pelo progresso a partir dos movimentos estudantis. Destaco alguns:

- Anos 40: campanha “O petróleo é nosso”, e oposição ao nazifascismo.
- Anos 50: campanha contra multinacionais.
- Anos 60: luta contra a instauração da ditadura militar (sede da UNE foi incendiada).
- Anos 70: retomada das atividades que eram proibidas na ditadura.
- Anos 80: campanha pelas Diretas Já.
- Anos 90: campanha pelo impeachment, o famoso Fora Collor!
- Anos 2000: luta contra a mercantilização do ensino.

Samuel, pela idade que aparenta, deve ter acompanhado muito pouco das mobilizações acadêmicas que ocorreram nestes períodos. Inclusive eu, que na época estudantil era apenas “mais um na multidão”, não me interessava sobre o que eles tanto lutavam. Por pura ignorância e negligência. Hoje, no entanto, vejo de outra forma.

É notório que esses jovens, aguerridos por mudanças além dos limites estudantis, estavam envolvidos em interesses muito maiores que as lutas que se envolviam.

Da própria UNE saíram muitos políticos, hoje com maior ou menor representatividade. No entanto, é inegável a capacidade de mobilização que esta classe já foi capaz de protagonizar, com a ação de seus líderes, e a bandeira na qual tremula o sonho de milhões de brasileiros.
Max Campos 02/10/2011
Introdução 3/3
Trago a discussão, então, para um patamar contemporâneo.

Samuel, você acha que esse espírito contestador dos estudantes está acomodado, reduzido, foi substituído, ou nós apenas estamos vivendo em uma fase calma, que não justifica a luta pelos seus interesses (como víamos antes)?

Eu, particularmente, gostaria de ver os jovens sendo agentes de transformação. Não neguemos que, a partir de recentes mobilizações por meio de mídias virtuais, acompanhamos a queda de regimes despóticos e tirânicos na Primavera Árabe. O que será que falta aos nossos acadêmicos para fazerem o mesmo diante das suas insatisfações?

Não sei se temos discordâncias em relação ao tema. E neste momento, nem estou preocupado com isso. Ultimamente tenho gostado e acompanhado um pouco do assunto. Minha esposa e minha filha estão na faculdade, e frequentemente os “problemas” são assunto no jantar. Enquanto ocorrer o desenvolvimento do debate, espero aprender ainda mais.

Vou esperar sua introdução, e responderei assim que minha disponibilidade permitir.

Abraço, jovem.
Samuel . 04/10/2011
Boa noite, Max. Retribuo seu agradecimento, pela introdução clara e direta. Tentarei ser sintético em minha introdução - é como prefiro iniciar meus debates. Acredito ser melhor debruçar-se sobre um pequeno número de informações, do que estrubuchar-se na tentativa de dizer tudo o que há para ser dito sobre um tema.

Reconheço não ser grande conhecedor do assunto. A maior parte de minha vida intelectual devotei a temas que, para muitos, são tidos como distantes da realidade prática ou "concreta", até mesmo opostos a ela. Tal disposição de interesses, entrementes, jamais me impediu de observar e refletir sobre a minha geração.

Partindo de sua pergunta, acredito que o espírito contestador dos jovens com os quais convivo na faculdade sofreu uma mudança em seu alcançe e natureza, abrangendo um número restrito de pessoas, que se mobilizam por causas menores, mormente aquelas ligadas a qualidade dos serviços prestados pela instituição em que estudam. Quero dizer: não se trata de promover reformas sociais em um âmbito abrangente, mas apenas localmente, com efeitos imediatos para si mesmos. Sendo tais reformas efetuadas, cada um volta para sua vida e seus problemas. O conhecimento das causas externas, do conjunto de fatores políticos e sociais que desencadeiam aquilo que os revolta, é deixado de lado.

A chamada Geração Y talvez ainda esteja por demais fascinada pelo novo universo que a Revolução Digital lhe apresentou. Acredito que toda essa mudança na forma de se propagar a informação, na maneira de se relacionar com os outros e com o mundo ainda esteja numa fase por demais embrionária. A promessa de utilizá-la efetivamente como uma poderosa ferramenta de mudança social se concretizará paulatinamente, em novos filhos e netos...

Resta apenas ter a certeza de que tal poder virá acompanhado de sabedoria, o que poderemos apenas aguardar, temerosamente, para saber.

Espero desenvolver o que penso em maior profundidade, à partir de sua próxima contribuição.

Grato,
Samuel Leme.
Max Campos 07/10/2011
Réplica 1/3
Samuel, se prefere iniciar sua participação com parcimônia, serei pela compreensão e colaboração. Tenhamos então, a partir dessa referência, a busca por uma abordagem mais factível diante de nossas vivências e conhecimentos.

Fiquei até curioso para saber quais seriam esses temas que você curvou devoção, ainda que não fossem práticos ou concretos. Se tivessem relação com nosso debate, poderia inclusive enriquecê-lo.

Sua geração, sem dúvidas, é reflexo de muitas transformações, assim como a minha, para os períodos correspondentes. Invariavelmente, temos indivíduos que viveram verdadeiras tragédias. Quase todos os finais de ano, um tio meu insiste em contar de suas lutas quando fazia parte de um Centro Acadêmico do curso de Direito. Foi preso, torturado e liberto. Hoje, vive muito bem como advogado, mas insiste em querer uma indenização do Estado por uma luta que travou pela própria vida.

Naquele tempo, muito mais intenso que o nosso, o Movimento Estudantil representava. Representava sonhos, ideais, mudanças. Hoje em dia, notamos que esse paradigma apresentou mudanças na essência.

Você diz que nota alguma mudança no espírito contestador dos jovens que convive na faculdade, quanto ao alcance e natureza. Mas, por onde já estudou (colégio) houve alguma mobilização que você participou, ou mesmo causa que defendeu? Se você não participou, pelo menos havia alguém que lutava pelos interesses da maioria?

Esse sim é o “apagar de luzes” que noto no Movimento Estudantil contemporâneo.
Max Campos 07/10/2011
Réplica 2/3
Do jeito que comentou, entendi que você vive ao redor de jovens que buscam mudanças na própria realidade, ao invés de apoiar-se em ambientes coletivos que atendam suas aspirações. Você acredita que essa atual prática consegue ser auto-sustentável, na medida em que o coletivo é representado por inter-individualidades?

No tocante à Geração Y, tenho algumas sutis discordâncias. Particularmente, não gosto desse termo. Assisti uma apresentação há algumas semanas, e o interlocutor dizia de uma outra geração, a tal Geração Napster, que talvez esteja mais “antenada” do que imaginamos, dada a velocidade da comunicação nos dias de hoje, e as múltiplas possibilidades que a internet apresenta como ferramenta de interesses coletivos.

Não neguemos que a velocidade, multiplicidade, e capacidade de informação e comunicação que a internet é capaz de proporcionar já abandonou essa fase embrionária, mas pode sim estar em um estado de latência. Estimule, e veja o resultado. Talvez a grande dificuldade em compreendermos esse alcance esteja mais relacionado ao desconhecimento da consequência, e não a motivação do ato.

Sua geração já viveu mudanças impressionantes. Você já deveria ser vivo quando Collor saiu do poder. Foi necessário o trabalho e conscientização da luta acadêmica por vários meses, em um tempo que a melhor forma de comunicação era o telefone e os Correios. O maior aliado, a mídia. Sua geração ainda é capaz de proporcionar transformações, desde que haja organização.
Max Campos 07/10/2011
Réplica 3/3
Atualmente, algumas mudanças já poderiam ser melhor aproveitadas pelos movimentos estudantis organizados. Por exemplo, uma nova estrutura de ensino. Ou melhora na atual situação. Isto, obviamente, já foi tema de incessantes debates nas mesas dos Diretórios e Centros Acadêmicos. Mas, quais as reais mudanças que notamos? Você sente que seus filhos e netos poderão fazer ou se beneficiar de algo, mesmo que não estejamos vislumbrando lutas pela melhora das atuais circunstâncias?

Estou admirando o tema, Samuel. Suas próximas colaborações poderão fornecer um substrato adicional pelo qual analisar este tema mostra-se tão importante.

Grato.
Salem ! 10/10/2011
Max, os temas nos quais me concentro envolvem questões de ordem mais metafísica do que política. Mesmo que desenvolvimentos em tal esfera de pensamento possam trazer conseqüências lógicas no mundo da prática, nunca os levei a tal ponto de maneira sistemática.

Sobre seu questionamento inicial, digo que já me envolvi em causas - mas, causas de pequena monta. Isso não refuta sua idéia central sobre o "apagar de luzes" do Movimento Estudantil na atualidade - pretendo reforçá-la de alguma forma ao falar em mudança de natureza e de âmbito. A questão é uma mudança de valores que canaliza forças para interesses individuais em âmbitos menores - poderíamos citar aqui um pequeno grupo de estudantes mobilizando-se ao redor de maior rapidez no atendimento na secretaria da faculdade, ou equipamentos mais modernos nos laboratórios de informática. Sobre tais causas serem auto-sustentáveis, acredito ser possível, e vejo na internet um ambiente propício para reunião de jovens com causas similares. Para que se torne um movimento de maior abrangência e força, no entanto, é preciso um esforço maior de abstração, capaz de isolar o foco de onde partem todas as ramificações, pois claro está que problemas do tipo citado, por exemplo, não ocorrem em poucas universidades, o que reflete uma mentalidade subjacente de descaso com a qualidade do ensino.

Max Campos 07/10/2011
Réplica 2/3
Do jeito que comentou, entendi que você vive ao redor de jovens que buscam mudanças na própria realidade, ao invés de apoiar-se em ambientes coletivos que atendam suas aspirações. Você acredita que essa atual prática consegue ser auto-sustentável, na medida em que o coletivo é representado por inter-individualidades?

No tocante à Geração Y, tenho algumas sutis discordâncias. Particularmente, não gosto desse termo. Assisti uma apresentação há algumas semanas, e o interlocutor dizia de uma outra geração, a tal Geração Napster, que talvez esteja mais “antenada” do que imaginamos, dada a velocidade da comunicação nos dias de hoje, e as múltiplas possibilidades que a internet apresenta como ferramenta de interesses coletivos.

Não neguemos que a velocidade, multiplicidade, e capacidade de informação e comunicação que a internet é capaz de proporcionar já abandonou essa fase embrionária, mas pode sim estar em um estado de latência. Estimule, e veja o resultado. Talvez a grande dificuldade em compreendermos esse alcance esteja mais relacionado ao desconhecimento da consequência, e não a motivação do ato.

Sua geração já viveu mudanças impressionantes. Você já deveria ser vivo quando Collor saiu do poder. Foi necessário o trabalho e conscientização da luta acadêmica por vários meses, em um tempo que a melhor forma de comunicação era o telefone e os Correios. O maior aliado, a mídia. Sua geração ainda é capaz de proporcionar transformações, desde que haja organização.
Max Campos 07/10/2011
Réplica 3/3
Atualmente, algumas mudanças já poderiam ser melhor aproveitadas pelos movimentos estudantis organizados. Por exemplo, uma nova estrutura de ensino. Ou melhora na atual situação. Isto, obviamente, já foi tema de incessantes debates nas mesas dos Diretórios e Centros Acadêmicos. Mas, quais as reais mudanças que notamos? Você sente que seus filhos e netos poderão fazer ou se beneficiar de algo, mesmo que não estejamos vislumbrando lutas pela melhora das atuais circunstâncias?

Estou admirando o tema, Samuel. Suas próximas colaborações poderão fornecer um substrato adicional pelo qual analisar este tema mostra-se tão importante.

Grato.
Salem ! 10/10/2011
Max, os temas nos quais me concentro envolvem questões de ordem mais metafísica do que política. Mesmo que desenvolvimentos em tal esfera de pensamento possam trazer conseqüências lógicas no mundo da prática, nunca os levei a tal ponto de maneira sistemática.

Sobre seu questionamento inicial, digo que já me envolvi em causas - mas, causas de pequena monta. Isso não refuta sua idéia central sobre o "apagar de luzes" do Movimento Estudantil na atualidade - pretendo reforçá-la de alguma forma ao falar em mudança de natureza e de âmbito. A questão é uma mudança de valores que canaliza forças para interesses individuais em âmbitos menores - poderíamos citar aqui um pequeno grupo de estudantes mobilizando-se ao redor de maior rapidez no atendimento na secretaria da faculdade, ou equipamentos mais modernos nos laboratórios de informática. Sobre tais causas serem auto-sustentáveis, acredito ser possível, e vejo na internet um ambiente propício para reunião de jovens com causas similares. Para que se torne um movimento de maior abrangência e força, no entanto, é preciso um esforço maior de abstração, capaz de isolar o foco de onde partem todas as ramificações, pois claro está que problemas do tipo citado, por exemplo, não ocorrem em poucas universidades, o que reflete uma mentalidade subjacente de descaso com a qualidade do ensino.
Samuel . 10/10/2011
Sobre suas discordâncias, no que tange ao nome, eu também não o aprecio esteticamente, se é este o caso (e não vi nada que apontasse outro caso). Sobre a fase embrionária da internet, não existe um referencial preciso acerca das limitações de tal ferramenta no que tange à comunicação e interconecção, de tal modo que é difícil, e até mesmo improfíquo querer saber se está numa fase embrionária ou apenas latente de desenvolvimento. O que quero dizer com estado embrionário é mesmo a relação das pessoas com esse recurso tecnológico, o uso que se faz dele, e, o mais importante, o modo de se pensar que está emergindo à partir de seu uso.

Me parece que as gerações anteriores à internet eram capazes de se concentrar com maior afinco em uma coisa só, em contraste com a atual geração que, de tão bombardeada com informações completamente equívocas, apesar de justapostas, acaba por a cada segundo ser chamada a atenção para algo diferente. O poeta grego Arquíloco, em um verso, sintetiza essas duas mentalidades: “A raposa conhece muitas coisas, mas o porco-espinho conhece uma só e muito importante”. Parece-me que foi aberta uma floresta por demais ampla para que pudesse ser explorada em pouco tempo; ainda é preciso acostumar-se com esse novo horizonte, e desenvolver a disciplina e o rigor necessários a concretização de maiores ideais.

Você falou sobre desconhecimento da conseqüência ou motivação do ato: eu acredito que a motivação ainda não teve oportunidade de surgir. O peixe crescerá na proporção em que se aumentar o aquário, e esse é um processo que acredito se tornar maduro apenas nas próximas gerações.

Grato,
Samuel Leme
Max Campos 13/10/2011
Tréplica 1/3
Samuel.

Embora tenha visto em seu texto da réplica muito conteúdo, notei pouca informação ou argumentação. Não sei se isso foi estratégia, mas até então, não demonstrou o desenvolvimento do assunto conforme prometeu em sua introdução, o que invariavelmente prejudica a forma de análise e contraposições que ambos desempenhamos.

Quando me referia ao “apagar das luzes” do Movimento Estudantil, não necessariamente estava embasando minha argumentação na sua vivência ou atuação. Mas sim, em toda uma estrutura em ruínas que foi lapidada pelos próprios líderes contemporâneos.

Alguns trechos da sua resposta me pareceram bastante precipitadas, refutáveis ou incompreensíveis. Destacarei conforme exposto, sem que haja prejuízo ao contexto.

1- A questão é uma mudança de valores que canaliza forças para interesses individuais em âmbitos menores - poderíamos citar aqui um pequeno grupo de estudantes mobilizando-se ao redor de maior rapidez no atendimento na secretaria da faculdade, ou equipamentos mais modernos nos laboratórios de informática. Sobre tais causas serem auto-sustentáveis, acredito ser possível, e vejo na internet um ambiente propício para reunião de jovens com causas similares.

Samuel. Até entendo que você veja esse exemplo como “Movimento”. No entanto, foge à proposta do debate. Onde estaria, conforme sua análise, a ação da juventude acadêmica para transformar em melhorias no ambiente que convivem? Não consigo conceber a possibilidade de utilizar a internet, segundo seu exemplo, para reunir jovens para “reclamar” do atraso nos serviços de secretaria, ou para equipar os laboratórios de informática. Isso se faz de forma efetiva, mobilizando a comunidade, fiscalizando a aplicação dos recursos da instituição, para então requerer seus direitos conforme a necessidade e oportunidade. A internet não é uma forma de atuação, mas uma ferramenta que aproxima as ideias da ação.
Max Campos 13/10/2011
Tréplica 2/3
2- Para que se torne um movimento de maior abrangência e força, no entanto, é preciso um esforço maior de abstração, capaz de isolar o foco de onde partem todas as ramificações, pois claro está que problemas do tipo citado, por exemplo, não ocorrem em poucas universidades, o que reflete uma mentalidade subjacente de descaso com a qualidade do ensino.

Falácia de generalização. Será que realmente seu exemplo confere com aquilo que estamos vivenciando na maioria das universidades? Ou ainda, seriam essas necessidades que buscariam solucionar os representantes acadêmicos? Você diz que não ocorrem em poucas, mas também não cita quais os maiores problemas da maioria. Uma falsa inversão de lógica.

3- Você falou sobre desconhecimento da conseqüência ou motivação do ato: eu acredito que a motivação ainda não teve oportunidade de surgir. O peixe crescerá na proporção em que se aumentar o aquário, e esse é um processo que acredito se tornar maduro apenas nas próximas gerações.

Samuel, por favor. Não sei em qual realidade ou condição que você vive. Mas historicamente “motivação” é justamente o que trouxe ao Movimento Estudantil ao poder de mobilização e transformação que é/foi capaz de proporcionar. As inúmeras causas onde se envolveram, que geraram consequências positivas (e algumas negativas) ao longo do tempo, só denota que existem sim as causas, variando consideravelmente no modo da mobilização.

Ainda, sua comparação com o peixe é paupérrima. Um lambari não crescerá ao tamanho de um atum, marlim, ou tubarão, mesmo que seja colocado em um recipiente grande o suficiente. Contrapondo sua argumentação, usarei um exemplo prático: um cardume de peixes pelágicos, como sardinhas, adaptou-se evolutivamente à fuga dos predadores, como as anchovas, através da organização em grupo. Mantendo-se em “Movimento”, podem dispor de uma melhor alimentação, defesa e reprodução.
Max Campos 13/10/2011
Tréplica 3/3
Portanto, o estado de latência do Movimento Estudantil, dado às suas possibilidades de operação e mobilização, mostra-se consideravelmente silencioso. Minha premissa básica parte do pressuposto que a ação somente poderá ser notada após a composição de interesses diversos, podendo ser acadêmicos, mas essencialmente políticos.

Samuel, se puder responder às diversas perguntas que deixei, e sequer foram consideradas, talvez nosso debate possa ganhar mais inspiração.

E vamos em frente.
Salem ! 16/10/2011
Max,

Compreendo que desenvolvi o assunto conforme prometido, partindo de seu desenvolvimento do assunto, explicando melhor o que queria dizer com "mudança no alcançe e natureza". Lembre-se que não atribuí essa mudança ao Movimento Estudantil, referindo-me apenas ao "espírito contestador dos estudantes". Você compreendeu isso em sua réplica, e quando questionou-me sobre minha participação em alguma mobilização - uma pergunta retórica - logo depois qualificando minha já suposta não participação ou existência de alguém representando os interesses da maioria como "apagar de luzes" no Movimento Estudantil, eu fiz questão de reforçar sua concepção.


Ou seja, quanto ao item 1 que você demarcou, sua afirmação: "até entendo que você veja esse exemplo como 'Movimento' ", colocando com "M", simplesmente carece de referência, e até chega a expressar uma certa leviandade na análise do que escrevo.

Sobre o caso da internet, é preciso notar que desenvolvi baseando-me em sua pergunta: "você acredita que essa atual prática consegue ser auto-sustentável, na medida em que o coletivo é representado por inter-individualidades?". Pelo que compreendi, o questionamento é sobre a possibilidade de um grupo de pessoas não preocupadas com a coletividade em primeiro lugar, digamos, mais "individualistas", conseguir manter-se como uma força conjunta, mobilizando-se para gerar mudanças de maior importância, chegando até a ultrapassar os limites da universidade. Ou seja, a conseqüência disso seria alcançar-se um nível de mobilização e consciência similar ao que gerações anteriores conseguiram. Como eu respondi, vejo na internet uma possibilidade. Eu não queria dizer que no pequeno grupo da sala de aula ou numa parcela considerável da faculdade ela seja necessária, apesar de lançar-se mão dela mesmo nesse nível.
Samuel . 16/10/2011
Estou falando de mobilizações capazes de reunir jovens de mais de uma faculdade, o que exige um meio unificador, um local compartilhado pela maioria dos estudantes, e a internet, na atualidade, é a que melhor cumpre esse papel. Isso leva ao próximo item.

2 Não há falácia, desde que eu não afirmei ser esse o caso de todas e nem da maioria das universidades, e isso nem sequer era preciso para que eu exemplificasse meu pensamento. Basta apenas que um número razoável de faculdades apresentem problemas similares, para que meu raciocício sobre abstrair e identificar as fontes de problemas existentes em muitos lugares receba seu exemplo. O foco ali era uma competência, uma capacidade de abstração como condição para que se parta de um âmbito muito pequeno e individualista, para um outro maior. Ou seja, para aquele que você mesmo cita quando diz "o Movimento Estudantil representava [...] sonhos, ideais, mudanças".

3. Aqui devo dizer que há uma certa confusão em seu raciocínio. Não falei sobre a motivação não ter tido jamais a oportunidade de surgir. Portanto, não preciso ser convencido de que o Movimento Estudantil possuiu motivação. Falamos aqui de outro geração, portanto, da possibilidade de mudança de focos e motivações. Ora, é justamente isso o que ocorre, e é justamente uma nova motivação que se exige.

Ainda assim, baseando-se em sua réplica (menos confusa, diga-se de passagem) você concorda que essa motivação existe atualmente, e chega a afirmar que acredita que não hajam mais mobilizações como antigamente por simples desconhecimento das conseqüências. Bem, gostaria que especificasse melhor o que entende por isso. Medo? Descrédito com relação è eficácia?
Samuel . 16/10/2011
Sobre minha comparação com o peixe, concordo que foi fraca, pois (talvez pelo sono) não especifiquei ser o caso de peixes feitos para serem grandes, muitas vezes colocados em aquários pequenos para seu potencial de crescimento. Acontece muitas vezes de atrofiarem e não se tornarem tão grandes quanto deveriam, por várias razões que fogem ao nosso debate. Acredito que a competência para enxergar os problemas em um âmbito maior, e a capacidade de exercer ações efetivas, esteja de algum modo "atrofiada".

Finalizando, penso que, apesar do número de informações em seu post ser extenso, eles não se aprofundam no assunto, girando, pelo contrário, ao redor de más e facilmente evitáveis interpretações de meu discurso. Ao contrário do que você afirmou, eu considerei a maior parte do que você disse em minha resposta, o que não foi o seu caso com relação ao desenvolvimento que eu trouxe do assunto.
Max Campos 19/10/2011
Considerações Finais 1/3
Quero deixar clara a minha proposta neste debate, caso não tenha sido possível notá-la. O Movimento Estudantil encontra-se veementemente atônito, inerte, e inoperante no atual modelo e liderança.

Obviamente, a realidade institucional em diferentes localidades apresentam suas peculiaridades, com reais necessidades cujos estudantes engajam-se por ávidas mudanças.

Notoriamente política, e neste momento, partidária, a maior representação acadêmica do país encontra-se “entregue” aos ditames daqueles que um dia foram seus aliados nas lutas classistas. A UNE, de longe, perdeu. E com ela, todos os outros órgãos menores também sofreram um efeito atenuante, apenas demonstrando o real e aparente momento de letargia institucional.

Quando me referia ao apagar de luzes do Movimento Estudantil, na realidade coloquei implícito uma ideia de comodismo, muitas vezes sendo necessário apenas um “empurrão” para que algo mude. Este estímulo, vindo de diferentes formas e fontes, seria dedutível e forte o suficiente para operacionalizar toda uma mudança e readaptação no sistema de ensino.

Não quero estabelecer paralelismos entre realidades distintas, mas lembro muito bem de uma paralização promovida pelos caminhoneiros, há alguns anos, contra o aumento do preço dos combustíveis, pedágio, e redução do valor dos fretes. Isso mostrou que a mobilização segundo suas causas comuns é capaz de gerar mudanças. E o maior impacto houve no bolso do cidadão (inflação imediata), mesmo que tenha havido um lobby muito grande da indústria automobilística.

Da mesma forma (não estabelecendo parelelismos diretos, obviamente), no Chile, na França, e mais recentemente na Grécia, vemos que os estudantes rumam às ruas e promovem verdadeiras hecatombes sociais. Não levo a análise apenas quanto ao mérito, mas também quanto ao método. Para que algo mude, é necessário transformar.
Max Campos 19/10/2011
Considerações Finais 2/3
Tanto a transformação quanto a mobilização não são notadas nos formatos atuais de modelo representativo acadêmico (níveis superiores). A vendagem direta à ideologias partidárias, no caso o PC do B (do Mazza), através da UJS, vêm apenas demonstrando que não haverá alterações do ponto de vista direto.

Não desejo o fim do Movimento Estudantil. Mas não posso compactuar que os atuais problemas do modelo de ensino não requerem mudanças. O acesso ao ensino superior, o reforço do ensino de base, a melhor qualificação dos docentes, o incentivo às atividades extra-curriculares, o oferecimento de recursos didáticos e pedagógicos mais atualizados, o estudo quanto às cotas sociais nas Universidades públicas. Enfim, há uma série de temas que permeiam o discurso acadêmico, mas não notamos (como notávamos antes) que há qualquer intenção de propor, analisar, ou realizar mudanças.

Acredito que lhe foram oferecidos, Samuel, diversas oportunidades de expor ou trabalhar o tema segundo suas percepções.

De minha parte, cabe a decepção após ler todas as suas considerações. Considerei as mesmas bastante pobres, simplistas e sem conteúdo. Não o culpo por isto, em hipótese alguma. Você mesmo disse que não é um aluno engajado, da mesma forma que também não fui, quando tive a oportunidade. No entanto, não me vêm à compreensão debater com alguém que não se preocupou, em todas as oportunidades que teve, em elaborar uma argumentação minimamente eficiente.
Max Campos 19/10/2011
Considerações Finais 3/3
As questões que lhe ofereci foram simplesmente ignoradas, e apenas respondidas com uma clara provocação. E, com as respostas, vê-se que faltou zêlo de sua parte em utilizar-se desse meio para enfim termos uma elaboração textual mais motivadora.

Como será você quem terminará o debate, vejo que terá uma singela vantagem. Terá a oportunidade, enfim, de elaborar uma contraposição eficiente. Da mesma forma, não o considerarei errado se assim fizer, até porque ainda lhe resta esta chance. Porém, saio prejudicado pelo pouco estímulo enquanto tivemos as oportunidades.

Embora não tenha saído agradado deste debate, considero o mesmo bastante válido, por poder oferecer (pelo menos de minha parte) uma forma clara de análise perante o tema. E isto não é auto-crítica. É observação.

Então, Samuel, despeço-me. E torço para que faça suas considerações finais bastante motivado, ou com as reais necessidades aparentes, para que consiga um Movimento, dentre todos estes Estudiosos dos debates, e que a votação atinja aquele cuja honestidade pôde proporcionar mais justiça à opção.

Grato.
Salem ! 22/10/2011
É interessante notar como, na última oportunidade do Max para estabelecer algum tipo de aproximação com qualquer coisa que eu tenha dito, ele simplesmente tenha se preocupado em expôr um posicionamento cristalino desde o começo do debate. Que ele considere o Movimento Estudantil "veementemente atônito, inerte, e inoperante no atual modelo e liderança" não é uma novidade para qualquer um que tenha acompanhado esse debate - eu deixei clara minha posição quanto ao fato de concordar com esse "apagar de luzes". Ironicamento, essa era a parte menos importante para que pudéssemos estabelecer um debate, ou seja, não era uma prioridade. O mais importante eram as discordâncias, e ele até esboçou algo do tipo em sua réplica, por mais "sutis" que fossem. Ele diz:

Não neguemos que a velocidade, multiplicidade, e capacidade de informação e comunicação que a internet é capaz de proporcionar já abandonou essa fase embrionária, mas pode sim estar em um estado de latência. Estimule, e veja o resultado. Talvez a grande dificuldade em compreendermos esse alcance esteja mais relacionado ao desconhecimento da consequência, e não a motivação do ato.

Eu respondi a ele nesse trecho:

Sobre a fase embrionária da internet, não existe um referencial preciso acerca das limitações de tal ferramenta no que tange à comunicação e interconecção, de tal modo que é difícil, e até mesmo improfíquo querer saber se está numa fase embrionária ou apenas latente de desenvolvimento. O que quero dizer com estado embrionário é mesmo a relação das pessoas com esse recurso tecnológico, o uso que se faz dele, e, o mais importante, o modo de se pensar que está emergindo à partir de seu uso.

O Max, à partir de sua tréplica, simplesmente passou por cima desse ponto e do que acrescentei depois, além de colocar-se na defensiva de maneira estranhamente desproporcional.
Samuel . 22/10/2011
Apontando uma falácia de maneira imprópria, preferiu simplesmente ignorar meu contra-argumento e retornar ao ponto tão batido sobre sua premissa central, já aceita e compreendida por todos.

Enfim, apesar de aparentar ser alguém dotado de honestidade intelectual e conhecimento, não me pareceu nem um pouco capaz de estabelecer algo além de um monólogo, além de projetar falhas claramente imputáveis a si mesmo sobre mim - como "provocações" e leviandade na análise do discurso. Somando-se a isso, mostrou-se como um construtor de espantalhos, ignorando o que eu dizia quando lhe era conveniente e reconstruindo meus argumentos de maneira facilmente refutável.


Apesar de tudo, no entanto, levo desse debate/conversa um interesse renovado pelo tema. Espero poder debater com Max em outra oportunidade, onde talvez possamos desenvolver um debate mais produtivo.


Grato,
Samuel Leme.

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