terça-feira, 6 de março de 2012

Losterh X Ale - Assistência aos marginais


Losterh . 25/07/2011
[1°CDR]Losterh x Ale - Assistência aos marginais
Para dissertar contra o assistencialismo-esmola, parto da visão da classe mais carenciada, a miserável.
Assistencialismo-esmola chamo aquele que é usado para tapear o acesso aos direitos básicos previstos pela constituição. Para não tornar o assunto abrangente - o que geraria uma argumentação bem maior do que a que me é permitida - vou focar no emprego desse assistencialismo nas grandes cidades.

As esmolas àqueles que vivem em tais condições onde a parece não haver a ascensão e sim apenas a sobrevivência, me leva a entender que a margem - os miseráveis - da sociedade são vistos como um grupo frágil que não poderia se sustentar nem em um próximo degrau, devido ao intrínseco transtorno social que é viver no underground.
Entretanto, não é assim que funciona na prática. As pessoas caracterizadas carenciadas, que vivem na miséria em grandes cidades, são pessoas com tendências a adquirir técnicas de articulação, associação de idéias e com facilidade para ramificar suas possibilidades, dado inclusive pela tal liberdade/libertinagem característica das ruas.
Para "salvar" este grupo, o governo implantou nas grandes cidades os albergues, que tem como objetivo o reingresso destes indivíduos na sociedade (eufemismo para limpar as ruas), "tentando" implantar valores como responsabilidade, convívio social e respeito à regras e autoridades. Entretanto, esses locais são como cadeias em regime
semi-aberto, onde vivem pessoas, em maioria, sem nenhum interesse por regras, dependentes químicas, criminosas - entre leves e graves - e com transtornos de personalidade. Essas pessoas convivem juntas sem nenhum tipo de avaliação, separação, estímulo ou tratamento e este lugar, que poderia ser um trampolim para uma vida estável, torna-se uma escola de meliantes.
Losterh . 25/07/2011
O morador de rua em uma grande cidade pode viver variando entre o lixo e o luxo, a esmola e a criminalidade, com esforço medíocre e irresponsabilidade cível devido a estas esmolas, quando existem outras opções que podem lhe render uma vida estável e digna. Existem várias ONG's repletas de jovens burgueses que preenchem seu ego proclamando o altruísmo porque entregam cobertores e refeições, assim induzindo a vida irresponsável, quando existem formas baratas de conseguir alimento e moradia, bastando o trabalho.
Esta fatia da população oscila, estranhamente, entre a miséria e a classe média periodicamente, devido a falta de objetivo.
Vivo no centro de São Paulo e tenho há três anos avaliado o comportamento dos "marginais". Conheci pessoas que moram embaixo de um viaduto, mas frequentam bares, restaurantes e baladas da classe média-alta. E não se tratam de casos isolados.
Empregos informais não são raros e rendem salários acima do salário mínimo, muitas vezes. Locais baratos para dormir e tomar banho também não. Ou seja, conseguem viver como alguém de uma classe superior sem muitas dificuldades e estão sendo criados sabendo que podem se aproveitar e ignorar o governo e as leis, quando poderiam viver normalmente sem essa necessidade até se estabelecerem.
Essa política, enfim, cria vagabundos criminosos que colocam a sociedade em risco, quando para viver eles já contam com outras alternativas do setor privado, que lhes introduziriam os princípios dos quais precisam. Precisam sim do setor público, quanto a saúde, segurança e educação. E o setor filantrópico, para ajudar poderia propôr atividades dinâmicas e cursos. Seria melhor que a atual postura de mãe atarefada e omissa.
Por isso, sou terminantemente contra essa política do coitadismo.
alexandre . 28/07/2011
Losterh
Da maneira como você coloca o problema, fica difícil de discordar... mas, se atentarmos com um pouco mais de cuidado, algumas dúvidas se fazem presentes. A primeira delas é pensar porque alguém se transforma em um morador de rua? Podemos encontrar as mais variadas respostas que vão de patologias mentais à sociais, desilusões, abandono... e até a mera vagabundagem. No fim das contas, para o cidadão que está fora dessa realidade, não faz muita diferença. São todos moradores de rua, e é muito fácil partir de uma sinédoque e taxá-los de vagabundos. Não devemos esquecer, generalizações são ingênuas é perigosas.

Como foi dito anteriormente, sim, acredito que também existam muitos “vagabundos”, mas também acredito que há aqueles que sofreram uma revolução tão grande em sua vida (culpa de fatores externos, ou culpa deles próprios, não importa) que o chão que os sustentava deixou de existir. Não é raro ouvirmos histórias de pessoas que perderam tudo (o que não se resume apenas à bens materiais, afinal, um filho pode ser tudo na vida de uma pessoa), e que depois dessa perda saíram pro mundo, desorientados, incapazes de retomar a rédeas de sua vida. São pessoas problemáticas, sim. Mas, uma vez que vivemos todos na mesma sociedade, o problema deles é também um pouco nosso. Afinal, necessitam suprir as mesmas necessidades que qualquer outra pessoa, e dado à situação de desamparo e desespero em que se encontram, a chance de que saia desse ambiente alguém perturbado o suficiente para ferir as regras do bom convívio social são relevantes.
alexandre . 28/07/2011
É necessário que neste ponto eu faça um pequeno parêntese.
Só buscamos aquilo que nos falta, mas nem sempre o que nos falta se resume à bens de consumo, ou de necessidade. Trabalho com adolescentes, e alguns deles já se envolveram em assaltos. O estranho nesse envolvimento é que eles simplesmente não precisavam do produto roubado, mas precisavam de outra coisa. Alguns de aceitação, outros de adrenalina, alguns precisavam demonstrar poder. Alguns eram filhos de pais liberais, outros de pais conservadores... onde está o padrão? Qual é o critério? Sinceramente, ainda não sei, mas sei que todos eles estavam em busca de algo que perderam ou que simplesmente desejavam. Poucos parecem roubar realmente para matar a fome, mas todos parecem precisar de algo.

Dito isto, volto ao morador de rua. Esse indivíduo se encontra nesta situação lastimável porque não possui algo. E este algo pode não ser simplesmente o dinheiro para se manter (não são raros os casos de pessoas abastadas que abandonam tudo e viram errantes depois de enfrentar determinado problema), logo, a “facilidade do trabalho informal” não resolveria o problema dessas pessoas. Não porque elas não queiram trabalhar, mas porque em muitos casos a rede conceitual construída não possibilita a observação do trabalho como aquisição de uma identidade social. Isso faz com que em muitos casos, o desespero, o desamparo, a angustia evolua para uma doença mental. No entanto, da janela de seu quarto bem aquecido, é muito difícil para o cidadão comum entender toda a complexidade que envolve a decisão de um seu semelhante viver às margens da sociedade comum, e toda tentativa de ajuda vai mesmo parecer um trabalho inglório e atoleimado, afinal, “ninguém percebe que são apenas um bando de vagabundos?”.
alexandre . 28/07/2011
Bem, frente a complexidade dos múltiplos casos existentes perambulando em nossas ruas, o mínimo que o estado deve fazer é sim criar programas que visem ajudar esses cidadãos (sim, cidadãos) a encontrar o seu caminho. E é claro que isto não se resume ao sopão e o albergue. Uma das pessoas que trabalha comigo é um psicólogo, e em uma conversa certa vez ele disse que o sopão não serve apenas para alimentar o morador de rua, mas é também um instrumento de aproximação. E dada essa aproximação, pode-se tentar “salvar” o indivíduo.

Como no caso abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=7vfTepvZLFw

Em certo momento de sua exposição você argumenta que esses moradores de rua são espertos, fruto da própria competição da rua. Não discordo de você, mas a esperteza e o trauma são coisas diferentes, e não se anulam.
Losterh . 29/07/2011
Opa, Alexandre!
Que bom que você apareceu a tempo. Seria um lixo essa história de W.O.

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Sim, o caráter que cria um morador de rua não é unânime, mas não importa qual seja ele, independente de motivos subjetivos ou objetivos, algo tornou a rua uma possibilidade. E isso não o faz carente de serviços dos quais ele tem ciência de como conseguir.
A miséria é um estado, não um gene. É possível sair da miséria assim como é possível sair de qualquer uma das classes, dependendo claro do nível de trabalho e esforço.
E isso é questão de fibra. Qualquer um que vacile tem que correr atrás do prejuízo e aprender com os erros se quiser ir em frente. Tem sim, quem se veja em uma situação horrível e se desespere, mas isso não é um fator digno de pena ou ajuda e sim de a própria pessoa se reerguer a partir de méritos que adquiriu na vida ou mesmo que terá que adquirir para poder se sobressair no meio que atualmente vive.
A assistência que é prestada a essa classe só iria acomodar o indivíduo já que ele vai perceber que não precisa se estruturar, pois as muletas que lhe são fornecidas já o mantém de pé; e enquanto isso, você e eu que trabalhamos e nos sustentamos imposteamos esse desvio de verba para pessoas que tem sim a capacidade de se desenvolver de outra forma.
Um exemplo do comodismo é que qualquer um pode morar num albergue. Pode querer beber no sábado a noite e o bedel do lugar não deixar você entrar porque chegou bêbado ou depois das 22:00. E isso também deveria ser um motivo para correr atrás de algo melhor. Mas não é.
Os membros de albergues são esporádicos, mas não porque eles saem da rua e sim porque se adeptam a liberdade e não querem cumprir normas. Passam uma noite ou duas e depois são barrados quanto horário ou qualquer outra regra. Ou então, os que tem mais tempo de "estadia", estão lá porque se acomodaram a esse sistema.
Losterh . 29/07/2011
Uma outra forma de mostrar que essas muletas geralmente não são vistas como auxílio para ascensão e sim como cafuné pra vagabundo é outro assistencialismo, o Bolsa-Família. Foi "criado" em 2003 pelo governo Lula - coloquei aspas porque no governo FHC já tinha, mas era de menor alcance. Desde então, tem aparecido nos meios de comunicação o samba do criolo rico para todo lado. De repente, "as pessoas estão comendo mais", "estamos exterminando a miséria", "estão passando da pobreza para a classe média".
Mas o que aconteceu mesmo é que o nível de inadimplência chegou aos débies 7,8% já em 2008, segundo o BC.
http://www.estadao.com.br/noticias/economia,inadimplencia-dos-consumidores-atinge-maior-nivel-desde-2003,298216,0.htm

Com maior capital em mãos, poderiam investir ou assegurar este dinheiro de alguma forma, mas não. O velho ditado se mostra presente, o que vem fácil, vai fácil. Não houve trabalho, não houve mérito nenhum para conseguirem tal assistência. Houve o critério de pobreza. Eles merecem dinheiro porque são pobres. Isso inclusive alimenta esse sentimento de piedade aos pobrezinhos e a menos favorecidos em geral. Aí, lá vem o desfile das minorias descabeladas cheias de razão, loucas por um farelo de pão. De repente, esmola virou justiça. Mesma coisa eu poderia dizer sobre outras assistências, mas vou usar esse argumento só como ilustração, para não desviar do foco que é a classe miserável.

Mais uma forma de mostrar o perigo da assistência destinada a miséria é que a classe miserável tem se tornado atrativo para classes superiores. Um moleque que começa a se envolver com drogas pode e passa dias na rua porque sabe que tem como se manter sem trabalhar e sem um puto no bolso. E a consciência dessa realidade inclusive pode arrasta-lo para ela.
alexandre . 31/07/2011
a turma do fundão fez bagunça na sala, agora todos vão ficar sem recreio

Basicamente, esse é o seu argumento...

Eu não quero me fazer repetitivo, mas acho que você está tornando a coisa simplista demais. Sua lógica é a de que todos pensam exatamente da mesma forma, e se estão vivendo em um estado de miséria nas ruas, é simplesmente por que querem, por que não tem caráter, fibra suficiente para mudar. Todas as nossas ações tem como impulso inicial a busca pelo bem, e nessa busca, o bem viver sempre se mostra como alvo uma vez que quanto melhor você vive, menor é a chance de que “se ferre”. No entanto, é apenas a partir de uma boa análise que nossas ações podem ser regradas no sentido de garantir um bom resultado, e para que se dê essa análise, é preciso possuir os conceitos necessários ao cálculo.

As pessoas que vivem nas ruas, em grande parte, não possuem (ou modificaram em razão de um trauma) essa rede conceitual capaz de possibilitar uma análise sobre sua condição que os impulsione a mudar. Porém, segundo seu pensamento, todos seriam meros vagabundos aproveitadores. Aqui no sul temos invernos rigorosos e não é raro encontrarmos moradores de rua mortos pelo frio. Será que indivíduos como esse são meros aproveitadores? Que vantagem eles observam em uma vida assim? Por isso insisto, Losterh, sua generalização não procede. É baseada apenas em sua visão pragmatista sobre o mundo e não leva e consideração que antes de sermos carne, somos uma estrutura psicológica que necessita interpretar para agir.
alexandre . 31/07/2011
Mas em uma coisa você tem muita razão, o Estado é falho em suas atribuições. Não serei ingênuo à ponto de afirmar que apenas uma boa educação ou outras ações políticas erradicaria totalmente a existência de moradores de rua, mas acredito que diminuiria radicalmente seu número se o Estado agisse com eficiência. Porém, as coisa não são assim, então, o que fazer? Vamos simplesmente nos enganar com relação ao caráter dos menos afortunados e dar as costas? Como se miséria fosse sinônimo de uma moral duvidosa? Sinceramente, não posso concordar com isso, até porque escolhi ser professor por acreditar que todos podem ser salvos.

Sobre o bolsa-família, também tenho minhas críticas, mas, desculpe e me corrija se eu estiver enganado, mas pareceu que seu descontentamento tem conotações partidárias... por isso uma análise “de fora” seria interessante:http://migre.me/5onuB
Losterh . 01/08/2011
Alexandre,
É exatamente o contrário. Justamente por eu não generalizar a classe marginal é que me oponho ao assistencialismo-esmola no tratamento aos moradores de rua.
Um dos argumentos que já usei que comprovam esta minha opinião é o exemplo do albergue, logo no primeiro post:"pessoas convivem juntas sem nenhum tipo de avaliação, separação, estímulo ou tratamento e este lugar, que poderia ser um trampolim para uma vida estável, torna-se uma escola de meliantes."
Ou seja, independente de por quais nobres ou ordinários motivos cada pessoa esteja um quarto de albergue, essas pessoas deveriam - pelo menos - serem avaliadas antes de simplesmente serem limpadas das ruas e entocadas num pulgueiro. Justamente porque não acho que " todos pensam exatamente da mesma forma", como você disse.
Claro, viver em sociedade é conhecer e conviver com variados tipos de pessoas. Mas em um habitat, onde o indivíduo depende essencialmente do local - por exemplo, uma casa - essa convivência deve ser avaliada de uma forma diferente. Vou exemplificar este argumento com um habitat, a cadeia.
Se você coloca na mesma cela um cidadão preso por furto - que tem a pena de aproximadamente dois anos - com um assassino, já há dez anos preso - que tem a pena de aproximadamente trinta anos - é óbvio que isso não será saudável. Outro exemplo, o critério de adoção; há uma avaliação psicológica para saber se o adotante que receberá a criança tem nível aceitavél inteligência emocional para assumir seu pátrio poder.
Não há como saber o que se passa pela cabeça das pessoas e por isso, para prevenção de perdas, é importante avaliar possibilidades.

Losterh . 01/08/2011
E isso é o que não acontece; estas pessoas não são avaliadas, são só direcionadas para um local mais conveniente e menos a vista, porque são tratados como - assim como eu já havia dito, também no primeiro post - "um grupo frágil que não poderia se sustentar nem em um próximo degrau". Sendo que, assim como eu também já havia dito e também no primeiro post, "que as pessoas caracterizadas carenciadas, são pessoas com tendências a adquirir técnicas de articulação, associação de idéias e com facilidade para ramificar suas possibilidades", ou seja, tem a capacidade para ascensão, mas estão sendo estimuladas a acomodação.

"As pessoas que vivem nas ruas, em grande parte, não possuem (ou modificaram em razão de um trauma) essa rede conceitual capaz de possibilitar uma análise sobre sua condição que os impulsione a mudar" - Alexandre

O trauma que você coloca como um empecilho para a evolução é um drama ao qual qualquer um está sujeito, simplesmente por estar vivo. Os conceitos que você diz necessários para estimular uma ação estão disponíveis não apenas na convivência com terceiros como consigo mesmo. Segundo você, alguém é merecedor de esmolas porque não tem algo que lhe impulsione a ter uma vida melhor? Não posso concordar com um comodismo desse.

"Aqui no sul temos invernos rigorosos e não é raro encontrarmos moradores de rua mortos pelo frio. Será que indivíduos como esse são meros aproveitadores? Que vantagem eles observam em uma vida assim?" - Alexandre

Que vantagem um viciado em drogas observa em persistir com o vício? Pelo que percebo, uma vantagem momentânea.
Imagino. Morador de rua, dia frio do caralho. Descola umas cachaças e o frio passa. E até consegue dormir. O problema foi acordar. Talvez se ele houvesse se preparado como o andarilho que é, procurado uma rua mais fechada para passar a noite, papelões, plásticos e outros térmicos, isso não houvesse acontecido.

"A maior miséria das misérias é os miseráveis não a notarem, tão natural lhes parece." (Jacinto Benavente)
alexandre . 01/08/2011
Mas, Losterh, essa não parecia ser sua posição inicial, principalmente nas passagens abaixo:

(...)O morador de rua em uma grande cidade pode viver variando entre o lixo e o luxo, a esmola e a criminalidade, com esforço medíocre e irresponsabilidade cível devido a estas esmolas, quando existem outras opções que podem lhe render uma vida estável e digna.

Ou seja, conseguem viver como alguém de uma classe superior sem muitas dificuldades e estão sendo criados sabendo que podem se aproveitar e ignorar o governo e as leis, quando poderiam viver normalmente sem essa necessidade até se estabelecerem.

A assistência que é prestada a essa classe só iria acomodar o indivíduo já que ele vai perceber que não precisa se estruturar, pois as muletas que lhe são fornecidas já o mantém de pé; e enquanto isso, você e eu que trabalhamos e nos sustentamos imposteamos esse desvio de verba para pessoas que tem sim a capacidade de se desenvolver de outra forma. 
(...)
alexandre . 01/08/2011
No entanto, se agora você está assumindo essa posição, significa que acabou de concordar comigo (Não há como saber o que se passa pela cabeça das pessoas e por isso, para prevenção de perdas, é importante avaliar possibilidades.Losterh), pois, de que forma tal avaliação seria feita sem uma prévia aproximação? E sendo o poder público responsável (em tese) pelo bem estar social, que outro órgão teria a responsabilidade de trabalhar nesta direção? Eu entendo sua insatisfação em ver que precisa trabalhar, estudar e assumir uma série de outras responsabilidades para conseguir se manter enquanto outros estão “vagabundeando” na rua, sendo alimentados pelo governo ou caridosos altruístas de plantão, mas, como já entendeu, a coisa não é tão simples assim. Sendo fato que existem muitas pessoas nesta condição, temos poucas alternativas para revertê-la, e uma vez que não seria muito ético colocar todos em um paredão e atirar, devemos pensar em ações, políticas públicas que visem ajudar na mudança de perspectiva de vida desses cidadãos. Concordo que tais políticas não alcançam o desejado para a mudança deste quadro, mas é o que temos e talvez ao invés de pensarmos em deixar estes desafortunados jogados à própria sorte (Qualquer um que vacile tem que correr atrás do prejuízo e aprender com os erros se quiser ir em frente Losterh), talvez devamos pensar em como podemos cobrar de nossos representantes ações mais eficazes. O que você chama de assistencialismo para vagabundos, muitos deles chamam de esperança.

Graças a este “assistencialismo para vagabundos”, uma amiga que trabalha em um CRAS (Centro de Referência de Assistência Social ) conseguiu tirar muitas pessoas das ruas. Não se limite a observar o que acontece na pracinha de seu bairro, procure observar os resultados de instituições assim. Você verá que estamos muito longe de uma solução, mas estaríamos muito pior se nada fosse feito.
Losterh . 01/08/2011
"(...)O morador de rua em uma grande cidade pode viver variando entre o lixo e o luxo, a esmola e a criminalidade, com esforço medíocre e irresponsabilidade cível devido a estas esmolas, quando existem outras opções que podem lhe render uma vida estável e digna." - Losterh

Em relação a frase acima, seu argumento não foi feliz. O "pode" que incluo na frase representa a possibilidade, a opção. Isso não é generalizar. Concorda inclusive com outra frase que eu disse, que você falou que concorda:

"Não há como saber o que se passa pela cabeça das pessoas e por isso, para prevenção de perdas, é importante avaliar possibilidades."

Se você concorda com isso, então você está me dando razão, pois não mudei de lado em momento algum. Continuo com a mesma posição e defendendo a mesma idéia, apesar da sua tentativa infrutífera de confundir o debate.

Comprovando - novamente - que não generalizei os que formam a classe miserável, vou citar exemplos só no primeiro post, porque se eu for citar exemplos do debate inteiro vou perder caracteres que me serão necessários. Caso queira ve-los, é só voltar as páginas:
1º post: "As pessoas caracterizadas carenciadas, que vivem na miséria em grandes cidades, são pessoas comtendências a adquirir técnicas de articulação(...)"
"Entretanto, esses locais são como cadeias em regime
semi-aberto, onde vivem pessoas, em maioria, sem nenhum interesse por regras(...)"
" Essas pessoas convivem juntas sem nenhum tipo de avaliação, separação, estímulo ou tratamento(...)"
"(...)assim induzindo a vida irresponsável(...)"

continua.
Losterh . 01/08/2011
Esclarecido isso, continuo.

"pois, de que forma tal avaliação seria feita sem uma prévia aproximação? E sendo o poder público responsável (em tese) pelo bem estar social, que outro órgão teria a responsabilidade de trabalhar nesta direção?" - Alexandre

Recobro você novamente, com um trecho do meu primeiro post e outro do segundo:
"Assistencialismo-esmola chamo aquele que é usado para tapear o acesso aos direitos básicos previstos pela constituição".
"Precisam sim do setor público, quanto a saúde, segurança e educação. E o setor filantrópico, para ajudar poderia propôr atividades dinâmicas e cursos. Seria melhor que a atual postura de mãe atarefada e omissa."

"Concordo que tais políticas não alcançam o desejado para a mudança deste quadro, mas é o que temos" - Alexandre

Então você acha que distribuir esmolas simplesmente porque "é o que temos" e renega visualizar os prejuízos que elas trazem por questão de piedade?

E eu talvez nem me incomodaria a ponto de debater esse assunto se o único lugar onde eu observasse a miséria fosse na "pracinha do meu bairro". Mesmo o meu bairro sendo o centro de São Paulo e a pracinha, por exemplo a do Vale do Anhangabaú. Estou acerca deste tema não é de hoje, diferente de você, que quando fui sugerir esse tema, falou que não havia pensado nisso.
Então, talvez não haja nada mais natural que você olhando para a miséria e agindo como alguém que tem compaixão e não enxergando - ou evitando enxergar - um problema social que não será resolvido pela sua amiga que trabalha na Caras.
Claro, como eu mesma já havia dito, "o setor filantrópico, para ajudar poderia propôr atividades dinâmicas e cursos", mas como trampolim e não como estagnação.
Se eu fosse uma ricaça poderia comprar uma casa e enfiar um monte de andarilhos lá dentro e lhes encher o bucho de comida. Isso resolveria o problema? Não. Isso criaria o comodismo e independente de quais atributos o indivíduo possua para sua ascensão, eles serão desnecessários. Esse é o maior problema, se acomodar?
Losterh . 01/08/2011
Não. O maior é o problema social que a acomodação gera, que já dissertei.

Mas, ainda na hipótese de eu ser uma ricaça jogando sopas na praça, para eu debater o seu pensamento de caridade.
É como já disse o Victor Hugo, em Os Miseráveis:

"A miséria de uma criança interessa a uma mãe, a miséria de um rapaz interessa a uma moça, a miséria de um velho não interessa a ninguém."

Ou seja, sorte sua se tiver alguém que se compadeça de suas dores, pois você poderá ser salvo sem realizar um grande trabalho. Caso seu network não te ajude, ou você lamentavelmente está na merda - e é, a grosso modo, a estirpe que não vingará - ou tem que usar do que tem - ou desenvolver uma habilidade que não tem - para conseguir uma condição melhor.
É cruel, mas é o que diz a biologia, a história etc. E o Sêneca:

"O fogo prova o ouro; a miséria prova os homens fortes."

Claro, nós humanos temos consciência e por isso, para manter o conjunto bem temos que tomar algumas providências, mas para que visem o crescimento e não o acomodamento.

Agora, voltando ao assistencialismo a que critico. Se, ao invés de deixar a margem para criar uma seita de vagabundos que podem vir a colaborar com a criminalidade e ainda deixar essa dica de vida fácil para os jovens burgueses que vem se meter no underground, poderia haver uma avaliação entre as pessoas que realmente necessitam de algum respaldo. Como talvez um senhor de idade com alguma doença séria que não possa trabalhar e foi parar na rua por algum nobre motivo - já falo assim antes que você me acuse de chamar os moradores de rua de pilantras - ou uma garota grávida que também não tem para onde ir.
E esse respaldo seria do setor de saúde público. Que deveria dar atendimento à altura. Mas a melhoria desse serviço básico, previsto pela constituição, está sendo tapeado com esmolas, assim como disse no início do argumento. Por causa disso, reforço minha posição contra ao assistencialismo-esmola.

Agradeço ao Alexandre pelo andamento do debate e encerro minha participação.
alexandre . 02/08/2011
Antes de começar minha resposta, gostaria de deixar claro o respeito que adquiri por minha adversária. Além de responder de maneira coerente, em nenhum momento tentou me desqualificar como aconteceu com outros participantes dos debates que ocorreram por aqui. Eu já nem sei se discordo tanto assim de Losterh, talvez os detalhes façam a diferença.... enfim, ganhou um admirador.

Bem, para finalizar minha participação, entendo as ressalvas que Losterh fez, mas continuo chamando atenção ao fato de que, no fim das contas, as pessoas vivem na rua (por motivos nobres ou não) e dar as costas talvez não seja a melhor coisa a fazer. A própria Losterh afirma existir várias opções de empregos informais que poderiam garantir a escalada à uma posição melhor, desde que houvesse interesse por parte dos moradores de rua. A questão é: se há tal possibilidade, porque ela não é utilizada por essas pessoas? Seria o assistencialismo criticado pela minha adversária tão eficaz assim à ponto de tornar desnecessário à procura por outras alternativas existentes? Julgo que não. E ouso supor que se não utilizam desses recursos é porque já se encontram em uma situação acerca de sua organização psicológica que o impedem de fazer. Não estou supondo que quem vive na rua seja “louco”, mas sim já incapaz de visualizar outras opções. Talvez meu exemplo seja bobo, mas seria mais ou menos como pedir às mulheres afegãs, acostumadas ao uso da burca, usarem minissaia.
alexandre . 02/08/2011
Portanto, creio que isso não se resume a mero desinteresse. Sim, a vida nas ruas corrobora à criminalidade, concordo plenamente com Losterh quanto à isto. E é justamente por essa razão que penso ser necessário estender a mão à estas pessoas. No entanto, nossas diferenças, creio, começam no que diz respeito à origem disso. Talvez não seja porque mora na rua que lhe restará uma vida desregrada, mas porque já vive desse modo é que vai parar nas ruas. E, se for assim, o trabalho de resgate se faz necessário. Injusto com quem acorda cedo todas as manhãs e busca pelo seu pão? Concordo! Mas ainda assim necessário, pois do contrário, abandonando-os à própria sorte, nos aproximamos da barbárie.

Assim, encerro minha participação neste debate e mais uma vez, respeitosamente, cumprimento minha oponente.

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