segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Leonardo X Patrick - Evolucionismo X Criacionismo Patrick)









Leonardo Levi

INTRODUÇÃO


É uma besteira a discussão entre Criacionismo versus Evolução. Em primeiro lugar NÃO existe NENHUMA CONTRADIÇÃO, do ponto de vista lógico, entre as duas correntes filosóficas (não, não estou falando do Criacionismo de tais ou tais correntes religiosas). Ora. As duas coisas podem coexistir.

Esse negócio de dizer que ou sou Evolucionista, ou sou Criacionista é coisa de americano, que adora times, e tem toda a sua filosofia de vida e científica resumida nas palavras de George W. Bush: "Ou você está conosco, ou você está CONTRA nós". Não existe tal dualidade. Isto é uma ilusão. Eu posso muito bem ter provas empíricas do Criacionismo e acreditar também (ter fé) no Evolucionismo. Ao mesmo tempo. As duas posições são perfeitamente conciliáveis.

Ou seja, eu realmente acredito (posso estar errado), que a Evolução é real. Que o homem e os macacos vieram de um ancestral comum, que a seleção natural é fato, que os genes podem sofrer mutações espontâneas e outras coisas mais que são necessárias para apoiar a Teoria da Evolução no âmbito da biologia.

Aliás, eu sou partidário não apenas desta crença na área da biologia. Eu acredito na evolução como uma regra geral. Assim, também as idéias, surgidas no meio cultural humano, também estão sujeitas à evolução, como se vê por uma análise bem superficial da tecnologia, da escrita, do desenho, da música etc... Evolução, na verdade, é apenas um acréscimo de complexidade em função do tempo.

Acredito também na Lei da Involução, mas aqui já estou indo longe demais, e não espero nenhuma compreensão da maioria. Acho na verdade, que a Evolução é apenas uma parte de um ciclo, mas deixemos de lado minha Ciência mais esotérica.

Agora que já expliquei minha posição em relação à Teoria da Evolução na Biologia, voltemos à questão inicial. A posição evolucionista, apesar de a meu ver, correta, é apenas acessória. Oras. Porquê a necessidade de existir evolução? Usando a navalha de Ockam, seria totalmente desnecessária. É um aumento de complexidade, não o contrário. Vai contra as regras da entropia e talvez até mesmo das leis da termodinâmica. Tudo seria mais simples se fosse inerte. Para que as coisas começaram à evoluir? Como aliás? Qual foi a primeira coisa que evoluiu?

O processo todo é muito complexo e envolve uma infinidade de variáveis. Era muito mais fácil a coisa desandar toda, do que continuar acontecendo. Aliás, todas as tentativas de replicar um início de evolução falhram miseravelmente. É complexo demais. Precisam de muitos fatores concorrentes, todos na hora certa, um milésimo de diferença e não funciona.

Os átomos, em si não evoluem. Apenas decaem com o tempo. É a entropia. Perdem, elétrons, prótons, neutrons. Vão do mais pesado ao mais leve. No final dos tempos, só haverá hidrogênio. Este é o estado ideal da física. A inércia. A ausência de movimento. As coisas perdem energia, não o contrário.

Concluindo. Vejo o mundo como um complexo de regras. Que interagem entre si. Uma absurdidade de regras, das quais os humanos só vislumbram a ponta do iceberg. A Evolução é um subconjunto matemático destas regras em ação.

Agora voltamos ao ponto inicial. Qual a necessidade destas regras?

Nenhuma.

As regras são complexas demais. Contrariam a lógica da eficiência e da necessidade. O universo seria muito mais perfeito se não existisse nada. A existência, o ser, é totalmente desnecessário. Mas o ser, É. Que redundância. Todos sabem que são algo. O que não conseguem é definir. Mas o ser é.

Logo:

Penso que, racionalmente, a existência é. Penso logo existo, no plano humano. Eu sou aquele que é, no religioso. Chamo a existência, por um substantivo: Deus.

No meu ver, esta regra básica, a existência, da qual todas as outras derivam (Evolução, Involução, Movimento, Matéria, Energia Tempo Causalidade Extensão Número etc...), chama-se Deus.

Deus é o princípio (e portanto, o fim?). Princípio gerador e organizador de todas as outras regras a que estamos submetidos (aliás, o Universo inteiro). É regra, axioma, dogma, princípio absoluto. Sem esta base, falta o pressuposto de todas as outras regras. Sem existência, nada pode ser. Do nada, nada sai.

Esqueça Onisciência, Onipotência, estes são conceitos meramente humanos. Esqueça antropomorfismos. Esqueça bem e mal. Bem e mal, são nomes humanos, interpretações humanas de regras que desconhecem.

Deus não é consciente da maneira humana. A consciência humana é apenas uma manifestação de certas regras emanadas da existência em si.

Onipresença. Sim, pois sendo princípio, é ao mesmo tempo criador e criação. Antes dele, nada. Tudo, apenas nele.

Deus não quer te proteger. Deus não quer o teu bem.

Deus não quer nada.

O querer humano é apenas uma manifestação de regras.

Portanto, ao admitir a existência de um princípio organizador, gerador de todas as outras regras. Posso dizer que sou Criacionista, do ponto de vista lógico.

No fundo, no fundo, todas estas palavras e fórmulas "complexas", na verdade não tem nenhum significado em si mesmas. Só tem significado na mente daqueles que as lêem (ou interpretam). As Leis da Termodinâmica podem muito bem ser falsas, e Deus também ser falso. Não existe nenhuma ligação, nenhum nexo causal entre a inexistência de uma ou qualquer outra Lei científica e a existência de um Deus.

O jeito mais fácil de você refutar alguém é colocar palavras em sua boca, ou ignorar algumas outras premissas do que ele diz. Sempre que você lê algum livro científico que se propõe a refutar a idéia de alguém (SEMPRE, pode fazer uma pesquisa), na verdade o que foi refutado, é o modo como o AUTOR DO LIVRO refraseou a IDÉIA de outrem.

Eles refutam a si mesmos. Assim é muito fácil. Não dá nem "pega". É como jogar paciência sózinho e roubar. E veja que a idéia é algo que preexiste às palavras. O que é sempre refutado, melhor dizendo, nunca é a idéia pura em si, mas somente as palavras com que se descrevem tal idéia.

Oras, uma idéia nem sempre pode ser TOTALMENTE e PERFEITAMENTE traduzida em palavras. Traduza uma sensação, o ódio, por exemplo em palavras. Ou uma idéia abstrata como significado, ser, essência, alma.

Vê?

Os autores sempre SIMPLIFICAM, quando não distorcem na cara dura, o que o outro diz. Assim, quando tentam refutar a existência da alma dizem:

Para tais e tais ingênuos, alma É: (e aqui jogam um conceito que acabam de inventar) algo imaterial, que ninguém nunca viu, e que faz parte de crenças de povos primitivos (preste atenção nos adjetivos).

Assim fica fácil de refutar. Pois: Para a ciência, não existe nada imaterial, LOGO, ALMA não existe. E mesmo se existisse, não poderia ser medido e quantificado pelos métodos da ciência, que são materiais, e portanto, só podem medir o material, LOGO a se a ALMA existisse, É ALGO DESNECESSÁRIO, e sua perseguição pela ciência é INÚTIL (adjetivos...)

Talvez eu seja realmente ingênuo. O que pela lógica, não tiraria a verdade de mim, caso eu a dissesse sem querer. Verdade é verdade, mesmo nos lábios de um louco.





Patrick Brito

INTRODUÇÃO


Minidicionário Aurélio:

- criacionismo
Doutrina segundo a qual a origem dos seres é um ato de criação, e não o resultado de um processo contínuo de evolução.

- evolução
Segundo o darwinismo, processo que, ao longo de sucessivas gerações, leva à diferenciação das espécies, determinado por mutações genéticas e por seleção natural.

Há duas diferenças fundamentais entre criacionismo e evolucionismo:

- O evolucionismo é uma teoria falseável; o criacionismo, não. Conforme o princípio da falseabilidade ou da refutabilidade, uma teoria é científica se é falseável, refutável. As evidências encontradas até agora estão todas de acordo com o evolucionismo, entretanto, a descoberta de uma única evidência divergente é suficiente para que toda a teoria seja discutida. O criacionismo, ao contrário do evolucionismo, não é falseável, pois é um dogma da Igreja e, portanto, indiscutível.

- O evolucionismo é uma teoria simples; o criacionismo, não. Conforme o princípio da parcimônia, uma teoria boa é uma teoria simples. O evolucionismo é uma teoria simples porque explica com proposições simples toda a diferenciação das espécies. O criacionismo não é uma teoria simples porque pede um criador sobrenatural e não explica a origem do criador.





Leonardo Levi

RÉPLICA


Como eu disse, não iria focar no criacionismo desta ou daquela religião, mas sim na idéia de que existe um princípio criador do universo e que este princípio participa da natureza, inclusive servindo como guia para o processo de seleção natural que ocorre em todos os seres vivos. O mito da criação varia muito entre as várias religiões, sendo que várias dessas visões são compatíveis com a idéia de evolução. O contrário seria acreditar que o processo de seleção natural é aleatório, o que nem Darwin e nem Dawkins (papa do anti-teísmo) jamais disseram. Segundo a teoria da seleção natural, a variabilidade entre os seres existe por que existe um processo de seleção, guiado pela natureza, que elimina os menos adaptáveis e privilegia reprodutivamente os mais adaptáveis. Eu sei o que é Criação e o que é Evolução. Não precisava ter perdido sua introdução dando a definição que você aceitou, já que meu texto tinha sido muito claro nestes aspectos.

A falseabilidade realmente dá vigor à idéia, mas não se esqueça que a teoria da evolução não passou pelo crivo de Popper quando foi inicialmente proposta. Da mesma forma, as teorias cosmogênicas atuais passam por constante revisão, e basta uma observação para mudar todos os conceitos atuais sobre a origem do universo, ou sobre as leis que o governam. Vendo por este ângulo, a idéia de criação (qualquer idéia) também é falseável. O que não é falseável são dogmas religiosos, mas a idéia de criação independe de religião. Devo lembrar também de que a teoria cosmogênica mais aceita (a do Big Bang) foi inicialmente proposto por um sacerdote católico (Lamaitré) e além disso, o consenso na igreja católica é o de que o universo tem realmente cerca de 13.5 bilhões de anos e de que Deus é o principio criador e guia para o processo de transformação das espécies, até a criação do Homem, que é o único ser capaz de sonhar e imaginar uma realidade diferente da sua, à imagem e semelhança de Deus, seu criador.

Agora, o que realmente me convenceu da existência de algo mais "transcendente" (não paranormal, pois para mim, é impossível que um Sistema tenha alguma falha, quando considerado internamente - assim, se você é um elemento de um sistema, uma parte, uma peça dele, jamais vai conseguir entender os seus defeitos. Para isso, você precisaria estar "fora", "acima" do Sistema, e no caso do Sistema chamado Realidade, isto é uma impossibilidade) não está no simples terreno da lógica, e da Ciência, com os paralelos que tracei acima.

O que me prova (subjetivamente eu sei...) tal transcendência é a existência do "significado". Existe na sua mente algo que te diferencia dos computadores. Você pode conhecer e sentir o "significado" o "valor" a "emoção" das coisas ao seu redor. Mesmo que nenhuma destas coisas exista. Mesmo que o mundo inteiro seja apenas uma alucinação. Ainda existe significado dentro de você. Você ainda pode inventar significados e compreendê-los - ou intuí-los - se preferir, mesmo que ninguém mais os compreenda como você.

Dentre as Leis que regem a Realidade. A que mais me desperta a curiosidade, depois da Existência em si, do Ser, do Ontos. É o significado, puro e simples.

Significado é a matéria de que são feitas as idéias. É a matéria prima das idéias. Assim como os átomos e quarks e elétrons e prótons e fótons são da matéria.

Tente explicar o significado em si, e não o significado de tal ou tal coisa. Explique o significado puro e simples, de nada mais do que ele mesmo.

Isto sim é "sobrenatural".

E como se expressam os significados no mundo "exterior"?

Pelos símbolos.

O símbolo é o corpo dos significados. O significado, é a alma. A idéia o espírito, a "vitalidade", o "sopro divino" que une os dois.

Antes eu andava meio perdido. Pois para mim, ao ver a aparência das coisas. Tinha impressão de que nenhuma idéia de ninguém era exatamente igual a idéia de outra pessoa. Logo, era impossível uma comunicação perfeita das idéias. E o homem estava condenado a uma existência numa Babel eterna.

Só que eu me enganava pelo intelectualismo atual (que na verdade, é apenas um sub-gênero do Pessimismo e do Sofismo).

O que me confundia eram as palavras. Os símbolos.

Ora o mesmo símbolo pode ser a roupa de diversas idéias.

E todas idéias compartilham de uma mesma essência, um mesmo "ser", uma mesma "alma": o significado.

Oras. Algo me dizia que devia haver um ponto de encontro.

Defrontei-me com os arquétipos.

Idéias de significados quase idênticos. Aparecendo nas cabeças de pessoas que nunca se encontraram. De povos que nunca se encontraram. Separadas por milênios de distência.

Mas por baixo dos símbolos: idéias parecidas. Por detrás das idéias, núcleos de significado idênticos.

Muda o vocabulário. permanece o significado.

Eu posso apostar que se o mundo sofresse uma devastação nuclear agora. E sobrassem apenas duas pessoas, que não soubessem falar nenhuma língua. E dessem continuidade à espécie humana, num futuro mais ou menos próximo, os mesmos significados que os símbolos de hoje têm, reapareceriam de uma forma ou de outra.

Descobri então a forma de desvendar o significado dos símbolos. A analogia.

A analogia é uma das Leis da realidade.

A Ciência, ao presumir que os fatos se repetem nas mesmas circunstâncias, está usando a analogia.

Sabe. Se você vibrar uma determinada nota numa guitarra. Determinados objetos, como vidraças, metais, irão vibrar também.

Isto é analogia.

A analogia para os símbolos, é quase igual a análise para a Ciência.

Lise = destruir, Logia = estudo.

O mundo, a realidade, na nossa mente, não passa de significados. O mundo é como um livro. É repleto de símbolos. Nós temos de observá-los para que nos contem sua história. Assim como o cientista corta e recorta o mundo para entendê-lo. Para o cientista o mundo é matéria e Leis. Ele corta para achar a Lei que se esconde na matéria. Para alguns outros o mundo é símbolo, e eles o recortam para ver o significado que se esconde por detrás do símbolo.

A meu ver, ambas as tentativas são válidas.

Pois mesmo que o cientista corte e recorte a matéria, a única coisa que ele irá encontrar é significado em sua mente.

E o significado já estava lá. Antes mesmo de ele cortar a matéria.

Sempre esteve lá.





Patrick Brito

RÉPLICA


Caro duelista, lembro-te de que o tema de nosso duelo é a pergunta:

- Há divergências entre o criacionismo e o evolucionismo?

Deste modo, não está em debate qual das ideias está correta, mas se há diferenças entre elas.

Digamos que queiramos determinar a coloração dos cisnes que habitam nosso planeta. Para isso, realizamos diferentes observações em diferentes regiões do nosso planeta e identificamos apenas cisnes brancos. Então, concluímos que todos os cisnes que habitam nosso planeta são brancos. Entretanto, basta a descoberta de um único cisne negro para que nossa teoria "de que todos os cisnes que habitam nosso planeta são brancos" seja falseada. Como pode perceber, toda teoria baseada na observação pode ser falseada por outra observação não concordante. Todavia, NÃO HÁ NENHUMA OBSERVAÇÃO QUE FALSEIE A IDEIA DA CRIAÇÃO. Teorias científicas, baseadas na observação, podem ser falseadas. Dogmas religiosos, baseados na fé, não podem ser falseados. EIS AQUI A PRIMEIRA DIVERGÊNCIA ENTRE CRIACIONISMO E EVOLUCIONISMO.

Continuando, ao contrário do que você disse, a Navalha de Occam não elimina a Evolução; a Navalha de Occam elimina a Criação. A Evolução é uma ideia simples, pois explica toda a diferenciação das espécies com dois agentes naturais básicos: seleção natural e mutação genética. A Criação não é uma ideia simples, pois invoca o sobrenatural para explicar a origem do natural e não explica a origem do sobrenatural. Além disso, segundo a Evolução, as espécies evoluem. Pode parecer redundância escrever isso, mas é preciso uma vez que para a Criação, as espécies não evoluem. O criacionismo faz parte de uma doutrina conhecida como FIXISMO e para o fixismo AS ESPÉCIES QUE ATUALMENTE EXISTEM SEMPRE EXISTIRAM. E acreditar em uma tolice dessas significa IGNORAR AS EVIDÊNCIAS DE QUE AS ESPÉCIES EVOLUEM: fósseis, fases embrionárias iguais entre espécies diferentes, órgãos homólogos, órgãos análogos, etc. Concluindo, para o evolucionismo, as espécies evoluem; para o criacionismo, as espécies não evoluem. EIS AQUI A SEGUNDA DIVERGÊNCIA ENTRE CRIACIONISMO E EVOLUCIONISMO.

A terceira e não menos importante diferença entre Criação e Evolução são as evidências. Novamente, ao contrário do que você disse, eu não preciso de fé para sustentar a Evolução, eu preciso de evidências. Não há evidências de que as espécies que atualmente existem sempre existiram, pelo contrário, as evidências nos mostram, por exemplo, que nós humanos há 5 milhões de anos não existíamos e que os dinossauros deixaram de existir há 60 milhões de anos. Nossa idade, portanto, comparada com a do universo, é insignificante.

Não me venha dizer que não está se referindo a esse ou àquele criacionismo, pois até agora SÓ fez referência ao Criador segundo o Cristianismo. A grafia "Deus", escrita com letra inicial maiúscula, refere-se ao deus do cristianismo. No judaísmo, o Criador não tem nome. No islamismo, o nome do Criador é Alá. No hinduísmo, não há um deus, mas 330 mil deuses: Brahma, Shiva, Parvati, Uma, Durga, Nandi, Kartiqueia, Ganesh, Vishnu, Matsia, Curma, Varaa, Narasima, Vamana, Parasurama, Rama, Krishna, Buda, Lakshmi, Sita, Hanuman, Garuda, etc. Isso sem mencionar as outras milhares de religiões com seus milhares de deuses e com seus milhares de mitos de criação.





Leonardo Levi

TRÉPLICA


Acredito que pode ter sido surpresa para você a forma como abordei o tema, já que muitos esperariam discutir com fanáticos religiosos que interpretam a bíblia ao pé da letra ou não entendem de filosofia da ciência. Espero que tenha visto que não é o caso. E já que passamos da metade do duelo, espero que daqui para frente nos concentremos no que o outro disse e deixemos de lado aquilo que não foi dito. Quando alguém diz “Deus”, seja ele da religião que for, refere-se a uma representação pessoal daquilo que se considera deidade. Esta concepção vai ser diretamente influenciada pelas religiões, apesar de que a forma que cada pessoa vai vivenciar a experiência, é única. E não é por que eu uso este termo que estou me referindo à imagem judaico-cristã, necessariamente. Então, em minha tréplica, vou deixar alguns pontos muito bem claros.

O evolucionismo é a teoria de que as populações de seres vivos se transformam ao longo dos anos, guiadas por pressão da natureza. O contrário desta teoria TRANSFORMISTA, está o FIXISMO, que diz que os sempre foram do jeito que são. O termo “CRIACIONISMO” freqüentemente aparece associado às doutrinas que negam a evolução, por acreditar na interpretação literal do livro de Gênesis da bíblia –esta sim uma idéia fixista - (inclusive foi esta a definição do Aurélio que você resolveu postar). Entretanto, se você for analisar as palavras que dão origem ao termo, verá que ele se refere à CRIACÃO das coisas e não o que aconteceu depois que elas foram criadas. Você pode acreditar que o universo sempre existiu, e que nunca existiu “Criação”, ou você pode concordar com o que diz o consenso da ciência atual (que é falseável, ou então não seria consenso científico): O universo teve um começo, sendo que tudo o que existe esteve por um momento agrupado em um “ovo primordial” do tamanho da cabeça de um alfinete.

Primeiro: existem MILHARES, BILHÕES, TRILHÕES de falhas no Sistema que os homens inventaram para DESCREVER (INTERPRETAR) os fatos que observam ao seu redor, e que CHAMAM de Ciência.

Ciência nada mais é do que palavras ditas por homens. Exatamente que toda e qualquer outra coisa da criação humana. Ciência é apenas uma face de algo maior: a Cultura. A Sociedade humana. Mas isso DE MANEIRA nenhuma PROVA a existência de qualquer outra coisa. E muito menos de algum Deus.

É a mesma coisa que dizer: este cálculo está errado, logo Deus existe.

É um "approach" totalmente ilógico. E nunca apostei nele.

Mesmo que acontecesse aquilo que chamam de milagre (uma violação das Leis da natureza, e preste atenção: violação às leis da natureza e não das palavras que os homens usam para descrevê-las), mesmo assim, pela fria lógica, isto não induziria a existência de um Deus. Ou de qualquer outra coisa. Não há relação de causalidade entre uma e outra.

Eu vou justamente na contramão. Minha posição é perfeitamente adaptável à Navalha de Ockham (muito embora eu não acredite nela, como discutirei depois...):

Eu digo que o simples fato de algo (qualquer coisa) EXISTIR, por si só, é um milagre gigantesco. Algo maravilhoso e quase incompreensível.

A existência de LEIS que regem o mundo.
E pensando bem, mesmo que não existisse nenhuma Lei, o Caos por si só bastaria para tornar válido meu raciocínio. Antes da Leis, a própria EXISTÊNCIA. O SER. Eis aí o grande - e a meu ver único – MISTÉRIO:

O fato de existir a LÓGICA prendendo os fatos do mundo, ou mesmo que apenas os fatos da mente, caso você seja um solipsista ou niilista.
E mais: quer algo mais incrível que a CONSCIÊNCIA?
Que é a consciência, senão a matéria, perguntando A SI MESMA, o que ela é? O mundo refletindo em si mesmo. O homem feito à imagem e semelhança de Deus?

Oras. Não é preciso ser um gênio. É algo que está muito em voga, muito "fashion", falar em intuição, até nos meios científicos. Oras basta intuir. Basta olhar ao seu redor.

E você chegará à conclusão de que as coisas existem. De que as coisas são regidas por Leis. Que as Leis são muitas. Pois os fatos são muitos. Que as leis se repetem, portanto são ordenadas, sistemáticas.

Aqui é possível tomar duas conclusões. Uma na qual acredito e outra na qual não acredito:

1) Usando a própria lógica, que faz parte daquele "Sistema" científico de Leis e Objetos que formam a Realidade, pode-se dizer que decorrem, de algo preexistente.

Chamam esta preexistência, este motor imóvel, como quer Aristóteles, de Deus.

Pois bem, o Ser EXISTE. A REALIDADE EXISTE, logo, foi criada por um DEUS.

Como se vê, esta é uma explicação possível que decorre daquelas premissas apontadas por mim. Abre espaço para uma diversidade de Teísmos. Cristãos, pagãos et cetera...

Mas não acredito nisto. Minha posição pessoal é a seguinte:

2) A EXISTÊNCIA EXISTE. A REALIDADE EXISTE. Não é necessário que ela tenha sido criada por algo exterior. Ela pode muito bem ter sido "autocriada". Para mim. DEUS É A REALIDADE. É uma posição francamente Panteísta. Deus está em tudo. Deus é tudo. A Realidade é Deus. Muito embora, por algumas sutilezas que não quero descer aqui, Deus para mim é algo mais parecido com o TAO das filosofias orientais.

Outro problema gravíssimo é que a mesma palavra pode ter interpretações equívocas (significados diferentes), ou análogas (siginificados semelhantes, ligados por pontos comuns, mas também por pontos diversos).

Assim, se você conceituar Deus como um homem de barba branca que vive no céu e criou o mundo gritando para o Caos. Fica muito fácil refutar a existência de tal Deus.

Entretanto, como eu já disse, o que você estará refutando são as palavras acima (homem de braba branca = falível, portanto, nem onipresente, nem onipotente), no céu (sem ar, portanto sem vida) etc...

Assim é muito fácil de tirar a validade. Mas a idéias permanecem.
As idéias, puras, assim como a matéria, é indestrutível.

Porém, tenha paciência. Vou mais longe. Sempre avante.

Até a próxima postagem, que será minha finalização.





Patrick Brito

TRÉPLICA


Caro duelista, segundo o panteísmo, Deus é o universo e o universo é Deus, portanto, Deus é efeito e, se é efeito, consequentemente, não é causa, contrariando a sua ideia de Deus como Criador (causa) e Criação (efeito). Deus seria causa (Criador) e efeito (Criação) somente se ele, analogamente, morresse em causa e ressuscitasse em efeito, como P'an Ku:

- A criação do mundo não terminou até que P'an Ku morreu. Somente sua morte pôde aperfeiçoar o universo: de seu crânio surgiu a abóbada do firmamento, e de sua pele a terra que cobre os campos; de seus ossos vieram as pedras, de seu sangue, os rios e oceanos; de seu cabelo veio toda a vegetação. Sua respiração se transformou em vento, sua voz, em trovão; seu olho direito se transformou na Lua, seu olho esquerdo, no Sol. De sua saliva e suor veio a chuva. E dos vermes que cobriam seu corpo surgiu a humanidade. (1)

Deus, perfeito e imutável, morre e ressuscita como o universo, imperfeito e mutável, entretanto, como pode Deus mudar de um estado de perfeição e imutabilidade para um estado de imperfeição e mutabilidade? Percebe a contradição entre uma e outra proposição?

O panteísmo incorre em contradições internas, quando introduz necessariamente Deus, imutável e simples, na mudança e na pluralidade do mundo; pois as determinações e modos de manifestação afetam também de maneira necessária o fundamento ontológico do mesmo mundo. Suprimindo a liberdade, tira-se ao homem a responsabilidade, e fica aniquilada a diferença entre o bem e o mal. Esta doutrina, como também a negação da imortalidade pessoal, minam as bases da moral; e a equiparação entre Deus e o homem destrói os fundamentos essenciais da religião. Finalmente, o panteísmo contradiz nossa consciência, pois que, se não fôssemos substâncias independentes, nunca poderíamos ter consciência do próprio eu. (2)

(1) GLEISER, Marcelo. A dança do universo: dos mitos de Criação ao Big Bang. 2ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

(2) BRUGGER, Walter. Dicionário de Filosofia. 2ª edição. São Paulo: Herder, 1969.





Leonardo Levi

FINAL


Percebo que meu nobre amigo duelista, para tentar me refutar, foi pesquisar pelas “contradições do panteísmo”, tentando mostrar que não é um ponto de vista coerente. Parece que está tentando procurar um rótulo, onde consiga direcionar as críticas a toda uma possível ideologia (neste caso o panteísmo), esperando que ao atirar para todos os lados acabe refutando algum dos pontos que eu apresentei. Mas não se esqueça que o mesmo método poderia ser utilizado para contra-atacar. Bastaria procurar por todas as possíveis “contradições do ateísmo”, que eu poderia demonstrar para você, como é que, sob determinado ponto de vista, seu ateísmo não é coerente. Mas este tipo de discussão jamais chegaria a lugar algum. Nem todo ateu pensa igual ao outro e nem todo teísta, ou panteísta, tem necessariamente a mesma concepção de universo que o outro. Então, mais interessante seria focarmos nos argumentos: Se o que você está dizendo é que, por que os seres vivos evoluem, não faz sentido acreditar em nenhuma forma de deidade, saiba que seu argumento está errado. Considerando que Deus não exista (nenhum deus). O simples fato dele não existir no plano material não significa que a idéia de Deus deixará de existir. E que será experimentado, de forma particular, por cada fiel. Algumas doutrinas, como o espiritismo, por exemplo, são totalmente evolucionistas e ainda assim, teístas.

O que é perfeito e imutável é a regra, e ela existe, não há como negar. A seleção darwiniana é a expressão de uma regra, tão precisa quanto a gravidade, mas com muito menos complexidade matemática. Mas é uma pena que tenha restringindo as suas participação a questões semânticas ou ideológicas.

Os homens de antigamente não eram burros, como querem os "inteligentíssimo" e auto intitulados "cientistas" de hoje em dia. Eles já conheciam a lógica, e todas as suas sutilezas (e falhas) a mais de 3.000 anos. Eles não tinham ainda dominado a "arte" da tecnologia. Mas já dominavam a MESMÍSSIMA lógica que é usada hoje em dia para operar estas maravilhas conhecidas como tecnologias. O vocabulário deles, entretanto, impregnado por conotações e denotações culturais, sociais, de classes etc... perdeu muito de seu significado original. Ademais, eles só tinham aquele vocabulário para descrever suas idéias mais abstratas. Assim, como já disse, as mesmas palavras podem ter significados ou completamente diferentes, ou muito semelhantes, mas com alguma minúscula e quase imperceptível diferença.
Mas era o único vocabulário de que dispunham, logo precisavam dele para registrar suas idéias mais ABSTRATAS.

E nós. Ao lê-los, classificamo-los como ingênuos. Como supersticiosos. E veja bem, existem homens e homens. Para alguns, a mesma frase pode ter significados bem diferentes.

O próprio Jesus (quem diria), em Mateus se me lembro bem, disse mais ou menos isto para seus discípulos quando lhe perguntaram por que falava em parábolas, e não diretamente, claramente, sem retórica. E ele respondeu que para que apenas os que merecessem entendessem. E os outros fossem confundidos.

Ao dizer que Deus criou o mundo pelo VERBO. É fácil, com a mentalidade intelectual de nossos dias, dizer que eles eram ingênuos. ha ha ha Um velho gritando para que o mundo se fizesse... Ingênuo. Porém, se você ver bem o que a ciência atual nos diz, ela diz que o mundo teve origem numa grande explosão. Numa onda vibratória que deu origem à matéria e ao tempo. Verbo para a ciência de hoje em dia é quase o mesmo que som. Que é um dos efeitos da VIBRAÇÃO da matéria. Ambas as explicações, apesar de num vocabulário diverso. No fundo, dizem quase a mesma coisa....

Mas o que é a Consciência?

O Universo refletindo sobre a própria existência. Oras,os animais conscientes estão contidos no Universo. Logo são parte do Universo.

A autoconsciência dos humanos então permite que uma parte do Universo, olhando para si mesma (espelho), desespere-se com o que vê.

Acho que do nada, nada sai. É como a lei da conservação da energia. A consciência não pode ter vindo do nada. Ela é a transformação de alguma coisa. Quero dizer, em potencial, a consciência existe desde que o Universo, ou a "existência" antes do Universo (havia algo que originou o Big Bang).

Aquele momento primordial já continha em si o germe, a potencialidade, de olhar para si mesmo. Nas minhas palavras: o "significado", o "potencial de existir" da consciência já existia desde o primeiro momento (antes mesmo do tempo físico). As coisas só existem porque é possível que elas existam.

Isto é uma tautologia. Mas não deixa de ser verdade. Talvez o "objetivo", ou melhor "destino fatalista e independente de livre-arbítrio" do Universo seja o de entender a si próprio. O já manjado "conhece-te a ti mesmo".

Talvez daqui a bilhões de anos, quando a vida biológica não seja mais possível em qualquer lugar do Universo, e já tenha sido substituída pelos computadores quânticos dotados de auto-consciência e que em frações infinitesimais de segundo sejam capazes de melhorar a si mesmos, construídos num passado remoto por aquilo que foi chamado de humano, isto se concretize.

Transformar isto numa grandeza física. Além das outras: força nuclear forte, fraca, gravidade, tempo, espaço, velocidade da luz etc... Por que não? Todas estas leis precisam de suportes físicos para manifestarem-se.

Assim, existe uma lei que não permite que informação coerente ultrapasse a velocidade da luz, mas a lei só pode ser apreendida porque existem os fótons para ilustrá-la. Assim, a consciência, uma grandeza, agora precisa de um ser humano para se manifestar.

Pense nisto.

Abraços.





Patrick Brito

FINAL


A matéria foi criada? Se sim, o que a criou? Para o meu duelista e a maioria da população foi Deus uma vez que a matéria não poderia ter sido criada do nada. Mas o que o meu duelista e a maioria da população se esquecem é que mesmo que a matéria tenha sido criada por Deus, ele a criou do nada. Então, temos duas possibilidades, a primeira diz que a matéria foi criada do nada sem o intermédio de Deus e a segunda diz o contrário. Pela navalha de occam, tendo sido a matéria criada do nada nas duas possibilidades consideradas, a primeira é mais simples, pois dispensa o intermédio de Deus e, consequentemente, não precisa explicar a origem de Deus. Deus é um termo acessório que, ao contrário do que pensa o meu duelista e a maioria da população, não traz respostas, traz mais perguntas. A evolução não precisa de Deus para guiá-la, ela o faz com dois agentes naturais, como já elencados por ambos os duelistas, seleção natural e mutação genética. E essa teoria, como todas as outras científicas, podem ser falseadas por observações contraditórias ao contrário da ideia da criação. E corrigindo o meu duelista, não precisamos de Deus para explicar o Big Bang. Edward Tryon, em um artigo intitulado "Is the universe a vacuum fluctuation?" na revista Nature, volume 246 de 14 de dezembro de 1973, elegantemente explicou como o Big Bang poderia ter sido criado por uma flutuação do vácuo. Como se sabe, o vácuo possui uma energia mínima, ou flutuação, pois, se a energia fosse zero, os campos gravitacionais e eletromagnéticos seriam zero, e a velocidade e a posição de uma partícula seriam zero, contrariando o princípio da incerteza de Werner Heisenberg. Segundo a ideia de Edward Tryon, o universo surgiu de uma dessas flutuações que aqui, por motivos didáticos, não entrarei em detalhes. Caso alguém queira saber mais, deixarei disponível logo abaixo de minhas considerações finais o artigo original em inglês. É uma pena que poucos saibam dessa explicação. E é uma pena também que, por ainda não termos respostas para a maioria das perguntas, as pessoas prefiram se ater a uma explicação sobrenatural pronta. Eu, ao contrário do meu duelista e da maioria da população, prefiro ficar com a humildade da dúvida do que com a arrogância da certeza dos dogmas, que nos ensinam a não questionar, a não falsear, a não EVOLUIR!

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