sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Fried X Gabriel - Livre Arbítrio







Fried Nithi

INTRODUÇÃO


Bom, começo agradecendo ao Gabriel, pela oportunidade de discutir sobre um tema que me agrada muito. Acredito eu que, você seja católico, e como um bom católico, acreditas no livre-arbítrio.

Em minhas considerações iniciais, não irei me aprofundar muito, apenas informarei meu ponto de vista e as premissas com a qual trabalharei ao longo de nossa conversa. A questão central de nosso debate será: Se Deus existe, ele realmente nos fez livres? E em torno desta indagação, veremos quem possui a opinião mais sensata e lógica.

Para o Gabriel, somos livres, e temos o poder de escolher qualquer decisão que nos beneficie, ou que nos prejudique. Eu penso que não somos livres coisíssima nenhuma, e somos todos programados, na verdade, pré-programados, caso um Deus onipotente, onisciente, onipresente e essencialmente benevolente exista.

Irei deixar algumas definições, e gostaria de saber do Gabriel, se o mesmo, concorda com elas:

Onisciência: sabe de tudo, passado, presente e futuro.

Onipotente: pode tudo, menos ir de contra seus outros atributos.

Liberdade: é a possibilidade de escolha, sem influência causal de agente externo.

Por fim, deixarei uma estorinha que fiz, para reflexão...

Eu sou um pirata onisciente e imutável, e vc é um escravo que me traiu (lembrando que já há uma contradição em ser onisciente e possuir um escravo já sabendo que iria lhe trair e lembrando também que fora avisado para o escravo que o mesmo seria jogado no mar se cometesse qualquer tipo de traição). Como punição, vou te matar, te jogando no mar com uma pedra que pesa 100 Kg acorrentado nos seus pés.

Qual o meu plano: te matar, colocando esse peso nos seu pés, te fazendo afundar até que vc morra afogado. Depois que vc for jogado no mar, não tem outra possibilidade de final no objetivo do plano, vc irá morrer.

Antes de cumprir meu plano, eu te digo assim: como prova da minha misericórdia, vou lhe dá a liberdade de fugir, depois que eu te jogar no mar. E te jogo!

Aí eu te pergunto: fora essa uma real liberdade que te dei?

Será que o escravo tendo essa "liberdade" conseguiria burlar a onisciência do pirata, cometendo a fuga da punição?

Conclusão: nenhuma atitude que tomemos, irá mudar o objetivo, e se o SER for onisciente e imutável, as nossas atitudes tb já eram sabidas antes de começar todo o plano.

Nascemos com uma plaquinha de céu ou inferno pregada nas costas.





Gabriel dfg

INTRODUÇÃO


Sua visão está de acordo com a predestinação calvinista e, creio eu, com a concepção islâmica.

A doutrina católica é bem mais complexa do que você sugeriu. Tão complexa que nem ouso tentar resumi-la. Mas, de forma bem simples, creio no livre-arbítrio. Somos determinados por uma multidão de fatores, de tal forma que nossa liberdade é quase uma ilusão. Mas algum grau de liberdade possuímos. Só não sei o tamanho dela.

Parece-me que a questão é conciliar a Onisciência Divina com sua Bondade.

"Se Deus existe, ele realmente nos fez livres?"

É óbvio que Deus, sendo a própria Existência, existe. A questão é saber quem é Deus e se Ele nos fez livres.

Sobre as definições, concordo com elas, fazendo a ressalva de que estou tomando-as de forma flexível e não rigorosa.

Sobre o pequeno conto, prefiro esta versão:

Havia um Rei Onisciente que amava seu servo. Ele, por amor, queria conceder a ele a liberdade.

Como o Rei era Onisciente, sabia que existia a possibilidade do servo se afastar do Reino e se perder no mundo miserável. Mas, por amor, e querendo ser amado de forma livre e não imposta, concedeu a liberdade assim mesmo.

O servo, conforme o previsto, abandonou o Reino e se perdeu no mundo. Se ele tivesse escolhido continuar no Reino, não haveria nenhum problema. Se ele optasse por se afastar, o Rei já sabia o que fazer. Iria buscá-lo e mostrar-lhe o caminho de volta.

O servo possui, agora, duas opções. Pode voltar ao Reino e se tornar filho adotivo do Rei, ou pode, por orgulho, continuar afastado do Senhor que o ama. A decisão é dele. O Rei sabe das possibilidades e espera.

Também podemos discutir o problema no campo da filosofia analítica.

A palavra "liberdade" é usada no jogo de linguagem do agir humano. Ela possui sua significação e está entrelaçada à forma de vida específica da humanidade.

Dizer que a "liberdade" não existe é desconhecer o jogo de linguagem a qual ela pertence. É como um jogador de futebol negar a existência da raquete de tênis, só porque esta não possui função em seu jogo.

Ainda podemos discutir a questão a partir da filosofia do senso-comum. Eu sou livre para escrever "a". Quer ver? "a".

Também sou livre para escrever "b". Duvida? "b"!

Mas para escrever eu preciso de um teclado e de dedos. Assim, sou parcialmente livre. Ou seja, dadas as circunstâncias que a existência (ou Deus) me oferece, sou livre.

De todas as formas, não vejo como negar a existência do livre-arbítrio.

Alguém poderia levantar a hipótese do epifenomenalismo. Eu responderia que é uma hipótese ridícula. Que ela só demonstra que sabemos muito mais do que aquilo que se manifesta em nossa consciência de imediato.

Concluindo: não vejo como o lívre-arbítrio pode não existir.

***

P.S.: Fiquei um pouco prolixo devido a algumas mentes diminutas que julgam me conhecer e que juram que eu só entendo de religião.





Fried Nithi

RÉPLICA


"Somos determinados por uma multidão de fatores, de tal forma que nossa liberdade é quase uma ilusão. Mas algum grau de liberdade possuímos. Só não sei o tamanho dela."

- Essa frase me deixou um pouco confuso, quanto a sua crença referente ao livre-arbítrio. Você diz que somos determinados, e que a liberdade quase não existe, mas que de alguma forma, nós a possuímos. Se somos determinados por alguém, a tomar nossas atitudes, que espécie de liberdade nós teríamos?

Vejo que concordou com as definições que coloquei, pois bem, vamos agora estabelecer o primeiro argumento. Lembrando que, nessa discussão, estou trabalhando com a premissa de que Deus existe e, ele é onisciente, imutável, onipotente e essencialmente benevolente.

O conceito de liberdade que eu propus, foi dado pelo Dr. William Lane Craig, um dos, se não for o mais famoso, apologeta cristão. E esse conceito refuta a questão da não liberdade de Deus; pois sendo Deus, essencialmente benevolente, o mesmo seria incapaz de cometer atos maldosos, se tornando assim, um Ser preso aos próprios atributos. Mas como a liberdade é a capacidade de escolha sem influência causal externa, Deus está livre, pois a sua benevolência é um atributointerno.

Agora a pergunta é: o mesmo vale para nós, seres humanos?

- Você concordou comigo que somos determinados. Deus sendo onisciente - antes da criação -, já sabia os rumos que a sua obra iria tomar. Deus colocou o fruto naquela árvore, Deus fez Eva sabendo a atitude que ela teria e, sabendo que todos nós seríamos pecadores e seríamos amaldiçoados pelo pecado original. E é aqui, que mora o problema, ou um dos problemas. Na sua estória do Rei e do servo, percebemos claramente que você - não sei se por desatenção, ou propositalmente -, oculta o fato da ciência do Rei perante as atitudes do servo...
Para quê, um Rei onisciente, já sabendo que a postura do servo será de negação, toma alguma atitude para mudar o destino dos fatos?

"Se ele tivesse escolhido continuar no Reino, não haveria nenhum problema. Se ele optasse por se afastar, o Rei já sabia o que fazer. Iria buscá-lo e mostrar-lhe o caminho de volta." (Grifo meu)

- Que diabos é essa onisciência do Rei? Ele já sabia que o servo iria se afastar, e ele já sabe qual o posicionamento do servo perante a tentativa de busca. Se o Rei sabe que não surtirá efeito, para quê tentar impedir o inevitável? Será que estamos vendo aqui o mesmo teatro da pseudo-liberdade, que eu coloquei no meu conto do pirata!?

"O servo possui, agora, duas opções. Pode voltar ao Reino e se tornar filho adotivo do Rei, ou pode, por orgulho, continuar afastado do Senhor que o ama. A decisão é dele. O Rei sabe das possibilidades e espera."

- O Rei não sabe das possibilidades, ele sabe da possibilidade. Lembre-se que ele é onisciente e imutável. Só há um caminho determinado, o servo que possui a ilusão de caminhos duplos, mas o Rei, ciente de absolutamente TUDO, sabe que só haverá uma escolha possível.

Agora irei explicar melhor a minha estória e quem seria os personagens na analogia proposta.

Pirata = Deus.
Escravo = criatura.
Barco do pirata = Céu.
Morte afogado no oceano (ao invés de morte, seria melhor que eu dissesse que o escravo passara a eternidade se afogando em agonia no fundo do oceano) = Inferno
Objetivo de Deus = passar a eternidade navegando no barco, em "paz", junto com as criaturas escolhidas.
Objetivo da punição ao escravo traidor = mostrar sua superioridade aos outros.

Veja que há uma coincidência na minha e na sua estória. Em ambas, o personagem de Deus, passa a impressão de uma liberdade à criatura, mas que pelo seu atributo de saber tudo, o caminho já estaria traçado. O seu Rei diz que tentaria buscá-lo, o meu pirata diz que seu escravo é livre para escapar se quiser. Ambas promessas ilusórias.

"O servo, conforme o previsto, abandonou o Reino e se perdeu no mundo." (Grifo meu)

- Aqui entramos em outra vertente da discussão, a sabedoria de Deus, se dá por meio de previsão ou visão.

I- Deus sabe desde agora/sempre o que ocorre no futuro pois também já está lá (no futuro) presenciando os eventos — conhecimento por "visão"

II- Deus sabe o que ocorre no futuro porque, sabendo como o universo funciona, consegue prever o desenrolar de qualquer condição de circunstâncias — conhecimento por previsão

Para acabar, gostaria que você me dissesse qual seria a maneira de Deus saber das coisas, I ou II?





Gabriel dfg

RÉPLICA


Que espécie de liberdade que nós temos? Somos livres para escolher nossa prisão. Há prisões largas e confortáveis e há prisões estreitas e cheia de espinhos.

Deixando as metáforas de lado, somos livres para escolher caminhos que se apresentam à nossa frente. Mas todos os caminhos apresentam limites. Assim, não somos livres para fazer qualquer coisa, mas para escolher quais serão nossos limites.

Não é verdade, portanto, que concordei que somos determinados, mas disse, sim, que somos livres para escolher dentre várias determinações possíveis.

Sobre a onisciência do Rei, Ele sabe que há o caminha A, B e C.

Se o servo livre escolher A, sucederá A1. Se escolher B, sucederá B1. Se escolher C, sucederá C1. E o Rei sabe disso. Mas o servo é livre para escolher.

Assim mantenho a onisciência do Rei e a liberdade do servo.

Parece que toda a confusão se dá devido à Imagem de que há apenas um caminho possível, e não vários. Estou defendendo a tese de que há vários caminhos possíveis e que Deus sabe as consequência das diversas escolhas. Mas a escolha cabe a nós.

Sendo assim, a onisciência é do segundo tipo, por previsão.

E como lidar com os fatos apresentados no cotidiano?

Eu sou livre para escrever "a". Quer ver? "a".

Também sou livre para escrever "b". Duvida? "b"!

Assim, nossa liberdade é evidente. Alguém poderia dizer que é apenas uma ilusão de liberdade. Assim como Descartes afirmou que é possível que a existência do nosso mundo seja ilusória.

Ora, se vivemos como se o mundo existisse e como se a liberdade existisse (a existência de um código de direito penal confirma isso), é porque, para todos os efeitos, para nós, o mundo e nossa liberdade existem. Só é possível negar tais verdades no delírio ou nas mais abstratas meditações metafísicas, que é um tipo mais sofisticado de delírio.

Portanto, é evidente que somos livres. Mas por que duvidar do livre-arbítrio? Por um único motivo. Parece não combinar com a onisciência e a bondade de Deus. Veja, portanto, que a questão central é Deus e seus atributos. A liberdade humana, neste caso, é secundária.





Fried Nithi

TRÉPLICA


Você se engana quando pensa que eu estou questionando a onisciência de Deus, em detrimento do livre-arbítrio. As duas podem co-existir sem problemas de interferência, pois não é que "Eu farei porque Deus já sabe", mas sim que "Deus já sabe porque eu farei".

O problema que eu vejo tem a ver com a previsibilidade e determinismo.

Como você disse que Deus sabe das coisas por previsão, irei demonstrar como se dá essa previsão, através de um exemplo:

A princípio achamos que lances de dados são aleatórios, mas, se pensarmos bem, veremos que isso é uma ilusão decorrente do fato de que, não temos "controle" de todas as variáveis envolvidas no lançamento. O que ocorre realmente é que se soubermos a força que será aplicada pelo jogador, as características do dado e da superíficie onde ele será jogado e, conhecermos bem as leis da física envolvidas, podemos determinar precisamente com qual face virada pra cima o dado parará. Sendo um conhecimento possível, é óbvio que Deus o tem e, ele sabe dizer qual será o resultado, por previsão.

Ok, refinemos esse exemplo então colocando na equação nós mesmos. Já pudemos concluir pela ilustração anterior que, em se tratando de situações não-aleatórias, Deus tem totais condições de predizer o resultado, já que conhece todas as circunstâncias envolvidas. A questão então é: e nossas decisões, são aleatórias?

Quando você toma uma decisão, ela não é condizente com o que você é? Com os pressupostos que você julga válidos? Se alguém pudesse ler seus pensamentos desde sempre, ele não teria condições de saber que decisão manteria o nexo com o que você é? Pois esse alguém é exatamente Deus.

Deus, conhecendo todas as nossas características, não tem totais condições de predizer o que faremos? E, notem bem, o saber divino não vincula nossas ações, o que vincula nossas ações são nossas próprias características, que são conhecidas por Deus.

E aqui, chegamos no principal ponto, que eu gostaria de abordar nesse debate...

Quem criou as leis da física? Quem nos criou? Quem nos deu as nossas características pessoais? Como surge a vontade do indivíduo?

Deus fez as leis da física. Deus nos criou. Deus nos deu características pessoais. E a vontade de um indivíduo surge com o resultado da soma das características + influências do meio.

Ou você pode dizer também que, fomos criados sem características, e que somos o que somos, através somente, do meio. O que não acredito que seja o caso. Mas que, mesmo assim, quem configurou o meio? Deus.

Deus criando o universo, tinha um propósito; qualquer que seja o propósito, nós estamos incluídos nele, como agentes que possibilitam esse propósito de Deus. Então tudo que nós fizermos, vai ser para o cumprimento pré-estipulado por Deus, e toda a nossa ação, fora prevista por Deus onisciente, tanto que nosso destino, caso ele (Deus) exista, está traçado, sem chance de mudanças.

Isso me leva a crer que:

1) Deus nos coloca no mundo por um motivo;
2) esse motivo não pode ser alterado;
3) nós somos instrumento do propósito de Deus;
4) logo, estamos presos a sua vontade INICIAL.

Deus tem um plano para você.

Por que eu, sendo Deus, criaria algo, ou alguém, com características que eu dei, em um meio que eu coloquei, já sabendo o que o cidadão seria e faria, julgo e castigo por um erro que na verdade, nem é culpa da criatura, por quê????


Agora me diga: qual a lógica de céu e inferno?

E não adianta você dizer que é livre pq pode, simplesmente, escrever qualquer letra que quiser do seu teclado. Isso você faz por conta de vontade "sua", configurada pelo seu criador (Deus). Uma marionete, pode fazer qualquer movimento, contanto que EU queira também, pois EU que a criei, e sou EU que determino suas ações.

Se você me disser que uma marionete é livre, eu acabo aqui nosso debate, e te dou vitória, pois ai o problema seria de semântica, a liberdade que você conheceria, seria diferente da que eu conheço, então não haveria o pq discutirmos.

Entramos no barco do pirata, com a placa nas costas informando se iremos afundar no oceano, ou se permaneceremos a eternidade junto com o pirata em seu barco, navegando os sete mares. O pirata têm um plano para mim, e não resta outra opção a não ser aceitá-lo (o plano). O pirata sabe o que faz.





Gabriel dfg

TRÉPLICA


Não respondi dentro do prazo por motivos de saúde. Se, de acordo com as regras, você vencer por W.O., não há problemas. Mas gostaria de continuar assim mesmo.

Creio que entendi o que você quer dizer. Sua posição é mais complexa do que pareceu à primeira vista.

É interessante alertar a quem vai avaliar este debate, se isso for ocorrer, para ter a atenção redobrada no que diz respeito às suas posições. Ler os tópicos anteriores tendo este último (tréplica) em mente.

Sua posição é bem coerente e estaria correta se não fosse uma característica humana que você não levou em consideração: o ser humano participa da vida divina.

Se o ser humano não participasse da vida divina, se ele estivesse "fora", vamos dizer assim, de Deus, como todas as demais criaturas, creio que você teria razão. Suas metáforas (dados e marionetes) são esclarecedoras, nesse sentido, e estariam corretas.

Mas, como eu ia dizendo, o ser humano participa da vida divina, ou seja, a liberdade humana está mergulhada na liberdade divina. O ser humano é livre em Deus, é livre porque Deus é livre e compartilha Sua liberdade.

Creio que já deu para perceber que este conceito de liberdade só faz sentido levando-se em conta dois pressupostos: a concepção cristã de Deus e a participação humana na vida divina.

Reutilizando suas metáforas, note que os dados, no momento do movimento, não faz escolhas. Os dados não possuem uma alma volitiva que participa da alma do ser humano que os joga.

Da mesma forma, a marionete também não possui uma consciência, com a capacidade de escolher, que participa da consciência livre de quem a movimenta.

Repare que você descreveu um mundo ignorando está dimensão de participação humana na vida divina. Se não existir esta participação, você estará certo.

O ser humano é livre, pois ele participa da vida divina. Ao contrário do mundo físico, regido apenas pela causalidade, pelo menos encarado de um certo ponto de vista que parece vir da física de Newton, o homem possui "algo a mais", algo que lhe é dado por Deus através da vida compartilhada, da comunhão.

O homem pode ser sábio, pois pode participar da sabedoria divina. É consciente, pois participa da consciência divina. Pode ser livre, pois pode participar da liberdade divina.

Deus "empresta" Sua capacidade de agir livremente ao homem, e, só assim, pode o homem ser livre, só em Deus há liberdade.

Do que eu escrevi acima, pode-se inferir a lógica do céu e do inferno.

Deus tem um plano para nós. Mas temos liberdade, que nos foi dada por Ele, liberdade esta que é coparticipação na própria liberdade d'Ele, de aceitar ou rejeitar este plano.

Parodiando sua metáfora:

O pirata têm um plano para mim, e posso aceitá-lo ou não, pois esta possibilidade de agir livremente eu a possuo, pois o pirata a possui e a compartilhou comigo. O pirata sabe o que faz.





Fried Nithi

FINAL


Nessa tréplica tão esperta de meu oponente, eu percebo que o mesmo, fez uso da velha técnica: saída pela tangente. Ou até mesmo um non sequitur, pois sua conclusão não segue corroborada por suas premissas. Ou seja, um "argumento" que à primeira vista, parece esclarecedor e conclusivo, mas que quando analisado, não passa de uma técnica falaciosa.

Vejam que fui bem claro e simples em minhas argumentações e explicações de meu posicionamento, em contrapartida meu adversário nos coloca sempre raciocínios vagos e abstratos.

Gabriel afirma que somos livres pq participamos da vida divina. E para corroborar esse pensamento, ele desqualifica minhas analogias da seguinte forma:

"Reutilizando suas metáforas, note que os dados, no momento do movimento, não faz escolhas. Os dados não possuem uma alma volitiva que participa da alma do ser humano que os joga.
Da mesma forma, a marionete também não possui uma consciência, com a capacidade de escolher, que participa da consciência livre de quem a movimenta."

- Ele afirma que os dados e a marionete não possuem alma volitiva que participam dos seres que as regem, e por isso, a analogia é indevida. Ora, eu mostrei que nós não temos alma volitiva, assim como meus exemplos, e por isso não somos livres.

Gabriel:

1) A marionete não possui poder de escolha;

2) A marionete não participa da consciência de seu criador;

3) A marionete não é livre.

Rodrigo:

1) O homem não possui poder de escolha;

2) Tanto faz se o homem participa da consciência do seu criador;

2) O homem não é livre.
____________

Do jeito que Gabriel fala nessa participação, dá entender que Deus O criador, necessita da criatura para existir, o que sabemos que não é o caso. Então, fica difícil analisar, até que ponto ocorre essa participação. A marionete por exemplo, poderia ser algo importante na minha vida, poderia ser um agente participativo na minha existência. Definitivamente, não ficou claro essa justificativa da participação na vida divina...

Continuando no quesito participação, eu poderia implantar um chip em minha marionete que fizesse-a ter, a ilusão de possibilidades de escolha (i.e, Inteligência Artificial), porém, programando todas as suas ações conforme a minha vontade. Tendo ela participação em minha vida, deixou de ser marionete? Enfim, no que essa participação, interfere no fato de que, Deus criou nossas características e o meio em que vivemos, fazendo de nós, marionetes com sensação de liberdade (???)

Seguindo seu raciocínio temos:

1) O homem pode ser sábio, pois pode participar da sabedoria divina.

2) É consciente, pois participa da consciência divina.

3) Pode ser livre, pois pode participar da liberdade divina.

4) Pode ser mal, pois participa da maldade divina. Ops ;x

No começo de nosso debate eu deixei bem claro o que seria a definição de liberdade, e irei repetir mais uma vez:

"É a possibilidade de escolha, sem influência causal de agente externo."

A partir do momento que algo externo a nós, nos influencia, já não somos mais livres para escolher.

Portanto, a tal participação da criatura na vida divina do criador, em nada refuta o fato da influência divina em nossas vidas.

Com base nisso, farei agora, como de costume, o resumão de nossa conversa.

Em um primeiro momento, coloquei em pauta somente a onisciência e a imutabilidade de Deus, confesso que de forma proposital, pois não queria mostrar-lhe todas as minhas cartas logo de início. E ilustrei meu raciocínio com o conto do Pirata.

1° Não refutou minha analogia do Pirata e, nem apontou eventuais erros nela.

Ao invés disso, bolou seu próprio conto, o do Rei e o servo. Com vários erros e contradições, apontados por mim:

Não existem vários caminhos, se o Rei é onisciente, Ele saberá qual caminho o servo irá escolher, e se ele é imutável, não poderá haver mudanças de plano. - eu afirmei.

2° Não respondeu minha indagação perguntando o pq do Rei querer mudar o imutável.

Daí Gabriel justifica as possibilidadeS de Deus, dizendo-nos que O criador sabe dos vários caminhos, e quais são suas respectivas consequências.

Ora, mas assim, todos somos oniscientes; quando alguém joga na mega-sena, eu sei quais serão as possibilidades da pessoa; ou ganhará, ou não ganhará. E sei também as consequências se ganhar; ficará rica, claro. Se não ganhar, permanecerá pobre, simples, não!? O fato é que isso não é onisciência, e sim, raciocínio lógico, apenas.

Deus sabe de TUDO, passado, presente e futuro, como havia dito no começo. Se ele sabe o futuro, então, já sabia se o apostador ganharia na mega, ou não. Não há como mudar o destino. "MAKTUB"
_______________

Depois disso, expus o principal argumento contra a liberdade humana, que seria o determinismo. Onde eu afirmo que:

1) Deus sabe pois possui controle sobre todas as variáveis e resultados possíveis.

2) Sabendo assim, exatamente, que rumo tomaremos.

3) Tornando toda e qualquer ação, outrora aleatória, não aleatória.

Gabriel por sua vez, questionou o fato de omissão da participação na vida divina, dos seres humanos.

E foi demonstrado que:

1) O homem participa da vida divina;

2) Deus influencia na vida humana;

3) Deus é um agente causal externo;

4) Somos influenciados por um agente causal externo;

5) Não somos livres.

Portanto, a conclusão de que por conta de nossa participação na vida divina, seríamos livres, é falsa. E quando a conclusão não segue a premissa: non sequitur.
_______________

E assim, gostaria de encerrar esse belíssimo debate, e parabenizar o Gabriel pelo trabalho realizado, e por sua educação e respeito no decorrer de nossa conversa.

E o Pirata navega os sete mares com seus escolhidos, vivendo e deixando que eles participem de sua vida no barco.





Gabriel dfg

FINAL


Antes de começar minha conclusão, uma breve observação.

A ideia de que o homem participa de uma Realidade que lhe é superior e que possui, em grau limitado, as características que a mesma Realidade possui em grau perfeito, aparece em todas as culturas, em todos os tempos, com uma única exceção: o ocidente moderno. O que era óbvio para qualquer homem de qualquer época e de qualquer cultura, nos parece estranho. É um fato, no mínimo, curioso.

Respondo também, antes de concluir, algumas questões que apareceram na conclusão do Fried.

Em primeiro lugar, sobre o mal.

Deus possui todas as perfeições em grau pleno. Já o ser humano, que é um ser limitado, possui as perfeições, que Deus lhe concede, de forma limitada. Sendo assim, sempre falta algo ao homem. Esta limitação é o que possibilita o que chamamos de “mal”. O “mal” é a ausência de uma perfeição, é a ausência do bem, assim como o frio é a ausência do calor. Sendo assim, o homem pode optar pelo mal quando opta por viver afastado de Deus, sem compartilhar sua vida com Ele. Não há, por isso, mal em Deus, pois o mal é uma limitação e Deus é ilimitado. O mal só existe na criatura, pois esta sim é limitada.

Em segundo lugar, o suposto non sequitur.

Redefinindo os termos distorcidos pelo Fried, meu argumento ficaria assim:

1) O homem participa da vida divina;

2) Deus influencia mas não determina o ser humano, pois permite que ele participe de Sua liberdade, sendo o homem não totalmente livre como Deus, mas parcialmente livre;

3) Deus é, como disse Santo Agostinho, o que existe de mais íntimo em mim, sendo mais eu do que eu mesmo. Desta forma, Deus não é um agente externo, mas uma presença que nos envolve por completo, desde dentro.

4) Somos influenciados por vários agentes causais externos, mas não determinados por eles, pois participamos da liberdade que nos foi concedida por Deus;

5) Somos livres.

O non sequitur está apenas na interpretação errônea de meus argumentos.

Em terceiro lugar, posso refutar argumentos. Analogias são apenas ilustrações que auxiliam a compreensão. Não foram feitas para serem refutadas. Os argumentos que elas ilustram, sim, podem ser refutados.

Agora sim, concluindo.

***

É óbvio que temos a experiência da liberdade. O que está em discussão é se esta experiência é real ou ilusória.

Se é ilusória, nada mais podemos dizer, pois nada podemos fazer, já que são causas externas que agem através de nossas pessoas totalmente passivas. Quando eu escrevo esta resposta, estou totalmente iludido se penso que sou eu quem a escreve. São causas externas que agem através de um corpo, por motivos que eu desconheço, que a escreve.

Note que, se não há liberdade, eu ou você não somos sujeitos da ação, mas objetos por intermédio do qual outra coisa qualquer age. Sendo assim, podemos conhecer? Não. Pois conhecer é uma ação, e, como não somos sujeitos capazes de agir, não podemos conhecer, assim como dados e marionetes não podem e, de fato, não conhecem. E se não podemos conhecer, não podemos saber se a liberdade existe ou não, pois o saber nos vem por intermédio da ação do conhecer.

E note também que concluir é uma ação. Assim, podemos concluir que a liberdade não existe? Não podemos. Se alguém conclui que a liberdade não existe, está agindo, pois concluir é uma acão. E se está agindo, é porque é um sujeito que age, e não um objeto passivo que apenas é agido por outro. E, neste caso, se age por si mesmo e não é agido por outro, é livre.

E mesmo se alguém disser: "a liberdade não existe", ele estará dizendo, e dizer é agir, e se ele está agindo, é um sujeito que age, ou seja, é livre. Mas a pessoa pode dizer: causas externas agem em mim de tal modo que, de forma totalmente passiva, eu emito sons que soam como "a liberdade não existe". Mas emitir sons também é uma ação. Seria mais correto dizer: causas externas agem em mim de tal modo que, de forma totalmente passiva, sou movido de tal forma que sons saem de mim ressoando: "a liberdade não existe".

Portanto, não podemos concluir que a liberdade não existe. Podemos dizer: algo age movimentando o meu corpo de tal forma que eu, de forma totalmente passiva, escrevo: “a liberdade não existe”. Ou melhor, não podemos dizer, pois “poder dizer” é uma ação.

O discurso impessoal ficará assim: Dirão através de nós: causas externas nos movimentaram de tal forma que escrevemos “a liberdade não existe”.

Devemos, neste caso, abandonar por completo o uso da palavra “eu” ou “nós”, ou qualquer dos pronomes pessoais. Mas “abandonar” também é uma ação...

Portanto, "deverão, neste caso, abandonar por completo o controle sobre nossos corpos que nos levam a movimentos identificados como uso dos pronomes pessoais". Mas como assim, "deverão"?!? Estou eu, mero marionete, ditando regras morais aos meus senhores? Não, não, não. O discurso impessoal ficará assim:

Causas externas agem no meu corpo que se movimenta escrevendo "deverão", o que não significa absolutamente nada. E, movido por outrem, ainda rabisco traços que são lidos como "abandonar por completo o uso dos pronomes pessoais".

Mas os traços são lidos por quem? Ler é uma ação! O texto é lido por causas externas que o lêem através de meus olhos!!!

Creio que fica claro que negar a existência de nossa liberdade nos leva ao absurdo.

Mas, como é possível a liberdade? Como disse, Deus, sendo livre e compartilhando sua vida com o homem, propicia ao ser humano a capacidade de agir livremente.

Se alguém é ateu dirá que existe um espaço dentro do ser humano que possibilita a recombinação de elementos que nos são dados, permitindo, assim, a liberdade. Eu digo que este "espaço interno" é a participação na liberdade divina. O ateu dirá que é a capacidade de simbolização inerente ao ser humano. Mas, negar o Livre Arbítrio, é impossível.

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